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BOM-SENSO - A semana que passou foi exemplar: se havia gente que tinha dúvidas sobre a seriedade dos políticos, a diversos níveis, eis que as dúvidas passaram a certezas no que ao uso da mentira respeita. Com episódios como aqueles a que assistimos nos últimos dias não é de admirar que as pessoas se desinteressem de votar, desrespeitem o parlamento, duvidem das instituições do regime e dos partidos. Mais do que isso, o espectáculo dado na praça pública afasta qualquer cidadão minimamente decente dos mecanismos existentes de intervenção política - e o côro de vozes que diz “deixem lá isso e esqueçam o assunto” mostra o grau zero da decência a que se chegou, a todos os níveis. Não há-de ser por acaso que existe um gap geracional hoje em dia na política portuguesa. A maioria dos chamados “millennials”, nascidos entre 1982 e 2002, não votam, não acreditam e, pior do que isso, não querem participar. Aqueles que ainda acreditam ser possível mudar alguma coisa preferem trabalhar em organizações não governamentais do que nos partidos e seus apêndices. Duvidam das eleições e das verdadeiras intenções de quem vai a votos. E todos os episódios recentes lhes dão razão. É uma mera questão de bom senso.
SEMANADA - Foi anunciado um novo sinónimo para pós-verdade: erro de percepção mútuo; PS, PCP e BE adoptaram uma curiosa actuação parlamentar que é sonegar informação relevante do escrutínio dos deputados e da opinião pública; a geringonça decidiu reescrever a História querendo apagar o que não lhe interessa que se saiba; como era de esperar as verdades escondidas começaram a aparecer publicamente logo a seguir; a fantasia do parlamento foi ultrapassado pelos factos; Costa e Centeno quiseram esconder factos ao Presidente da República; segundo um estudo da PSP, que traça a realidade das relações de 5500 jovens, com uma média de idades de 15 anos, um em cada quatro considera normais ou aceitáveis violência de género e violência doméstica; partilhar fotos íntimas é normal para 24% dos jovens, tal como insultar o companheiro(a) através das redes sociais; 14% do jovens legitima a violência psicológica, havendo 19% de jovens que já foi vítima deste último tipo de violência; em 2016 a PSP registou 1787 casos de violência no namoro entre jovens alunos de escolas portuguesas; em Janeiro, 33% das páginas dos sites auditados pela Marktest foram acedidas através de smartphones; segundo um estudo da Comissão Europeia os salários dos portugueses devem voltar a perder poder de compra nos próximos dois anos; os rendimentos dos licenciados baixaram 20% desde 1998; entre 1999 e 2016 o número de funcionários do Banco de Portugal diminuíu 0,9%, quando no total dos bancos centrais da zona euro caíu 21,6%; contrariando as promessas de Centeno e do Governo, em 2016 o emprego no sector público subiu 0,7%,, aumento que se traduz traduz-se em mais 4.843 postos de trabalho.
ARCO DA VELHA - Mais de 1500 leis aprovadas entre 1974 e 1978 estão obsoletas mas continuam em vigor - revela um estudo de uma equipa de juristas do Governo.
FOLHEAR - Muita gente tem o desejo de escrever um livro e quase todos hesitam em fazê-lo porque invocam ter falta de jeito. Ora acontece que escrever - e sobretudo escrever um livro - não é uma questão de falta de jeito. Se pusermos de lado a questão de um conhecimento básico da gramática da lingua portuguesa, o acto de escrever é uma questão de técnica e não de jeito. Noutros países existem muitas obras dedicadas a ensinar técnicas de escrita, mas em Portugal essa é uma realidade de pequena dimensão. José Couto Nogueira é jornalista, escritor e tradutor. E, de há uns anos a esta parte, dedica-se precisamente a dar Cursos de Escrita Criativa no El Corte Inglés, de Lisboa - e desde 2006 já vai nas três dezenas desses cursos. A partir das notas que utilizou nesses cursos e dos materiais distribuídos aos participantes, Couto Nogueira fez “Apontamentos de escrita criativa”, um livro com noções básicas e exercícios que podem ajudar quem queira preocupar-se com a técnica em vez do jeito. As ideias são boas, os exercícios são eficazes e esta edição da Arranha Céus é um belo manual de instruções que bem merecia ser lido e absorvido por algumas almas que por aí andam penando com a mania que são escritores. O livro termina com duas listas que são fundamentais conhecer: “Os Dez Mandamentos do Escritor”, de que destaco “escrever sobre o que se conhece”; e “os sete pecados capitais do escritor”, de que destaco “dizer o que não precisa de ser dito”, um mal demasiado comum.
VER - Uma das mais interessantes colecções particulares de arte contemporânea pertence à Fundação PLMJ, uma instituição criada em 2001 pelo escritório de advogados com o mesmo nome. Muitas dessas obras estão habitualmente no prédio da Avenida da Liberdade que aloja a PLMJ (frente ao passeio público da Avenida onde está uma escultura de Rui Chafes que a instituição ofereceu à cidade). Na Sociedade Nacional de Belas Artes (Rua Barata Salgueiro 36) até dia 4 de Março está patente uma exposição que sinaliza os 15 anos da fundação e os 50 anos de actividade da sociedade PLMJ. Esta exposição, “Linhas Cruzadas”, foi comissariada por João Silvério, que fez um exemplar trabalho de montagem, e inclui trabalhos de quase quatro dezenas de artistas, todos do núcleo da Lusofonia, que a Fundação formalizou em 2010. Entre eles estão nomes como António Sena, Mário Macilau, Fernando Lemos, Jorge Molder, Julião Sarmento, João Tabarra, Paulo Brighenti ou Albano da Silva Pereira, entre outros. Mais sugestões: nas Carpintarias de São Lázaro ( Rua de São Lázaro 72) está a partir deste fim de semana a primeira grande exposição no âmbito do programa “Lisboa Capital Ibero-Americana da Cultura 2017” . Na galeria Carlos Carvalho Arte Contemporânea (Rua Joly Braga Santos Lote F r/c), Susana Gaudêncio expõe “Objectos de Companhia para um Mundo Aparentemente Contínuo” e na Galeria Vera Cortês (rua João Saraiva 16-1º), até 11 de Março, pode ver “Other plans”, de John Wood and Paul Harrison uma instalação que evoca formas imaginárias de ver uma cidade e a sua arquitectura.
OUVIR - Agora que os dias começam a ficar mais longos e que a temperatura começou a subir ligeiramente, pode ser boa altura para uma bebida de fim de tarde. Esta ideia de um copo de “happy hour” faz-me sempre lembrar um bar de hotel, com um pianista, ao canto, que vai tocando versões instrumentais de temas conhecidos. Na impossibilidade de ter um piano de meia cauda em casa e ainda menos de contratar um pianista, há agora uma boa solução: “Piano Portraits”, o disco onde Rick Wakeman reuniu as suas versões para piano, de 15 temas que vão do pop aos blues, passando pela música clássica. Wakeman teve aliás formação clássica no Royal College Of Music, antes de se tornar músico de estúdio, tendo nessa qualidade tocado em discos de nomes como Elton John, David Bowie ou Lou Reed, entre outros. Mas foi como teclista dos Yes que ele ganhou verdadeiramente fama, que depois expandiu a partir da primeira metade dos anos 70, numa carreira a solo de que este é o centésimo álbum. Neste “Piano Portraits” Wakemanbinterpreta temas do Beatles como “Help” ou “Eleanor Rigby”, de Bowie (“Life On Mars”), de Gershwin (“Summertime”) ou dos Led Zeppelin (“Stairway To Heaven”), além de tradicionais como “Amazing Grace” ou “Morning Has Broken” e clássicos como “O Lado dos Cisnes” de Tchaikovski. É um repertório garantido para um bar de fim de tarde. CD Universal, já disponível em Portugal.
PROVAR - O nepalês Tanka Sakpota é muito simpático e tornou-se um especialista em comunicar que é chef, na acepção gastronómica do termo. Comunica exemplarmente a actividade que tem como empreendedor de uma série de restaurantes, que procura colocar rapidamente na moda com o auxílio de guias, roteiros e um grupo de fãs que vai cultivando. Pega num conceito, utiliza o pretexto da tradição culinária italiana, que aliás conhece bem, e constrói uma imagem. Ultimamente tem segmentado a sua oferta pelos diversos espaços que gere e onde faz questão de estar presente: os elementos fortes da tradição italiana ficam no Come Prima; no Forno d’Oro construíu uma narrativa de pizzas encantadas e algumas inesperadas; e, agora, em Il Mercato teve a ideia de uma trattoria com um balcão de venda de produtos italianos logo à entrada. A média da sua actividade é positiva, mas não é surpreendente. Das suas casas, o Forno D’Oro é a mais pretensiosa e a menos conseguida - e este novo Il Mercato, se não se corrigir rapidamente, segue-lhe os passos. Ao almoço há um menu que varia todos os dias e que propõe um antipasti de carnes frias italianas medianas, uma focaccia sem grande história e uma degustação de massas frescas com molhos adequados a cada variedade, que são a melhor parte - embora as massas estivessem ligeiramente cozidas acima do ponto ideal. O serviço é esforçado mas confuso e, se no final optar por comer ainda alguma coisa, não peça queijo porque a demora é grande e vem servido demasiado frio, a perder o sabor devido à temperatura - o que é uma pena porque a lista de queijos italianos é boa e atraente. À noite os preços são mais caros, porventura caros demais para a qualidade, mas em linha com o estatuto de moda que se pretende. Há que dar tempo ao tempo, a ver se a coisa se consegue emendar. Il Mercato, Páteo Bagatela, Rua Artilharia Um, 51, telefone 211 930 941.
DIXIT - “A imagem em movimento continua a ser o meio mais poderoso para enganar as pessoas” - José Pacheco Pereira, historiador, colunista de imprensa e comentador televisivo.
GOSTO - A partir do início de Março, no Torreão da Cordoaria, o fotojornalista Alfredo Cunha vai mostrar meia centena das imagens marcantes que foi fazendo ao longo dos anos.
NÃO GOSTO - Os tempos de atendimento do INEM são mais do dobro do recomendado.
BACK TO BASICS - “Há imensas mentiras espalhadas por aí e o pior de tudo é que mais de metade delas são verdade” - Sir Winston Churchill
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