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A COMPETITIVIDADE NAS MÃOS DO ESTADO

por falcao, em 07.06.13

COMPETITIVIDADE - Para usar as palavras do engenheiro dos desenhos manhosos, o Governo está com uma narrativa complicada: o que prometeu não se concretiza, as previsões falham, as taxas de impostos aumentaram mas a cobrança é menor, e a dívida do país não pára de aumentar - até o PS já aparece a falar da eventualidade de um segundo resgate.  Pior que isso, no seio do Governo é cada vez mais evidente a clivagem - Gaspar continua a revelar a sua falta de bom senso em episódios como a nomeação da administração da CGD, há Ministros desaparecidos em combate e que não dão sinal de si e, de uma forma geral, os grandes dossiers prometidos para esta altura estão como este estranho Verão: incertos e frios. Mesmo as medidas anunciadas são tímidas e não atacam de frente as questões. O Governo olha para a crise e tenta pegas de cernelha mal sucedidas. O maior problema que se põe na captação do investimento não tem a ver com o Tribunal Constitucional e as suas decisões: tem a ver com as altas taxas de IRC comparadas com outros países europeus nossos concorrentes, com a instabilidade fiscal e os sucessivos agravamentos de toda a espécie de taxas e, finalmente, com uma justiça ineficiente e lentíssima que é um obstáculo à actividade das empresas e ao crescimento da economia. Estes três pontos - falta de competitividade no IRC, instabilidade fiscal e funcionamento da justiça - são todos da responsabilidade do Estado e constituem o maior e mais grave factor de perca de competitividade em Portugal. Mas nisto não vejo o Governo a tocar.


SEMANADA -  Gaspar falhou todos os timings de nomeação da nova administração da Caixa Geral de Depósitos; 23 mil empresas ficam indevidamente com o IRS retido aos seus funcionários; foram perdidos mais de cem mil empregos em três meses; em Abril, o número de casais em que ambos os cônjuges estão desempregados aumentou para 13.176, mais 67,3% do que em  2012; o PIB do primeiro trimestre caíu 4% em relação ao mesmo período do ano anterior e atingiu o valor mais baixo desde 2000; 51% dos valor corrigido no Orçamento Rectificativo deve-se ao agravamento da recessão e falha das previsões e não às decisões do Tribunal Constitucional; o orçamento rectificativo reviu em baixa todas as previsões de receita de imposto, com uma queda média de 4,5% face ao valor inicialmente previsto; o FMI admitiu “erros graves” nas suas decisões sobre a Grécia;  29 das 49 cadeias portuguesas estão sobrelotadas;  a Ordem dos Advogados decidiu não acatar uma decisão de um tribunal sobre os exames a estagiários; um barómetro de opinião divulgado esta semana mostra que os portugueses estão a perder confiança nas instituições governamentais, nos media e nas instituições não governamentais e apenas 36% dos inquiridos confia na Banca; os cinco maiores partidos portugueses têm menos de 300.000 militantes no seu conjunto, ou seja menos de 3% da população; os três maiores clubes de futebol portugueses têm, no seu conjunto, cerca de 380.000 sócios; Treinadores: no Porto foi-se embora o que venceu, no Benfica ficou o que perdeu.


ARCO DA VELHA - Dois policias que faziam uma prova para chefes, foram apanhados com cópias dos testes que iam fazer, mas foram perdoados e podem repetir a prova - os policias apanhados a cabular admitiram que tinham tido acesso prévio à prova e informaram que ela era do conhecimento de muitos dos candidatos, mas escusaram-se a revelar quem a facultou.


VER - Três recomendações bem diferentes: no Centro Cultural de Cascais, até 1 de Setembro, fotografias das grandes estrelas do cinema da época de ouro de Hollywood, que fazem parte da colecção de John Kobal. No Museu Berardo, no CCB, está até 27 de Outubro “O Consumo Feliz”, uma colecção de 350 imagens de cartazes publicitários  do acervo da agência  James Haworth & Company, uma das principais produtoras de publicidade do Reino Unido, com actividade iniciada por volta de 1900 e continuada até cerca de 1980. E finalmente, para uma coisa completamente diferente recomendo a exposição “Marco Aurélio And Friends - Sete Artistas Ulissiponenses”, em que destaco os trabalhos de Ana Fonseca, Conceição Abreu e Teresa Gonçalves Lobo. Tudo na Plataforma Revólver, Rua da Boavista 84, em Lisboa. No mesmo local, mas na VPF Cream Art, o destaque vai para o trabalho de Luis Alegre.


OUVIR- Aqui há uns anos existia uma designação, “bubble gum music”, para definir aqueles discos que se ouviam, eram muito doces de entrada, mas rapiudamente perdiam o sabor e o interesse e se deitavam fora a seguir. Pois bem, os discos dos The National são tudo menos isso. Ouvem-se com redobrado gosto vez após vez, em cada nova audição descobrem-se novas subtilezas nas letras, novos pormenores nas canções. “Trouble Will Find Me” é o título do sexto album

dos The National, e inclui a presença de convidados como Annie Clark of St. Vincent, Richard Reed Parry dos Arcade Fire ou Sufjan Stevens, e Sharon Van Ette. O primeiro single deste novo disco é “Demons”, exactamente uma dessas canções que cresce com o tempo - graças a uma percussão quase hipnótica, a um ritmo que nos agarra e a uma vocalização, de Matt Berninger, que só na aparência parece displicente e desinteressada, quando ele canta, como se estivesse apenasde passagem por ali palavras como estas:  “When I walk into a room I do not light it up.”  Não há muitas bandas hoje em dia que se possam gabar disto: de terem motivos de interesse nas letras, na música e nas vocalizações. Destaco ainda outros temas como a faixa de abertura  “I Should Live In Salt”, “Graceless”, “Slipped” ou ainda a canção que encerra o disco, “Hard To Find”, uma espécie de declaração de intenções em que Berninger promete não deixar de se questionar.  Uma das razões do sucesso dos The National tem a ver com a forma como as suas canções evocam histórias, casos, cenários ou pensamentos que acabam por ser comuns a toda uma geração e na qual muitos se revêem. Deixo-vos uma frase incontornável de “Slipped”, onde Matt Berninger escreveu e canta “I'm having trouble inside my skin, I'm trying to keep my skeleton in,”. Estas canções são sobre o poder dos sentimentos. E, por isso, deixam marca.


DESCOBRIR - Hoje proponho um magazine digital que tem por programa publicar uma boa história por dia. É isso mesmo que tem acontecido, desde há uma semana, em www.carrosselmag.com ou facebook.com/carrosselmagazine. No projecto está uma equipa pequena mas criativa que inclui os fundadores Joana Stichini Vilela, (a autora do livro “Lx60 – A Vida em Lisboa Nunca Mais Foi a Mesma”), e Bruno Faria Lopes. A bordo estão outros jornalistas da sua geração e com provas dadas, mas também uma agência de produção digital, a Gomo, e uma agência de comunicação, a iupi. O resultado tem sido bom de seguir todos os dias e tem revelado empresários criativos, tendências geracionais como voltar ao campo, reportagens de concertos, portfolios de fotografia, novas formas de agitação política em Barcelona e até a verdadeira história dos hamburgueres do Honorato ou a experiência de um “ghostwriter” a contar a história de outra pessoa. Ir ao Carrossel passou a fazer parte da minha lista diária de leituras.



PROVAR - O restaurante “Sabor & Arte” fica no Páteo Bagatela e neste tímido Verão proporciona uma boa esplanada, além de uma ampla sala interior. A ementa é baseada na cozinha portuguesa e ali se encontram honestos e frescos linguados dourados com arroz de tomate, ou um bife de boa qualidade - mas nesta altura do ano quem fôr pelas sardinhas não ficará desiludido e os filetes com salada podem ser também uma boa alternativa. Menos português mas igualmente interessante é o ossobuco à Romana. Os preços são razoáveis, o serviço é simpático, vê-se sempre alguém conhecido. A lista é variada, os vinhos têm boas propostas correntes e  a esplanada é mesmo muito agradável. Fica na Rua Arilharia 1 nº51 e o telefone é 213865390.


DIXIT - Vitor Gaspar foi útil para o Governo numa fase, mas agora é bastante inútil - Marcelo Rebelo de Sousa


GOSTO - Do prémio Leão de Ouro, na Bienal de Veneza, atribuído a Angola, para a melhor representação nacional, pelo trabalho do fotógrafo Edson Chagas.


NÃO GOSTO - Existem 24 mil idosos em Portugal a viver em lares clandestinos


BACK TO BASICS - A grande diferença entre uma democracia e uma ditadura é que, na democracia, primeiro votamos e depois obedecemos a ordens, enquanto que numa ditadura não se perde tempo a votar - Charles Bukowsky


(Publicado no Jornal de Negócios de 7 de Junho)

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publicado às 16:52

INVESTIGAÇÕES – Um dos problemas, graves, que existe na justiça portuguesa é a forma como investigações da Polícia Judiciária se tornam muito rapidamente armas de arremesso político ou social. Os anos recentes estão cheios de casos destes – em que as fontes que tornam públicas investigações partem de dentro da própria polícia, como forma de provocar julgamentos na praça pública, que muitas vezes nem chegam a tribunal. O histórico da Polícia Judiciária no sucesso de investigações complexas, na resolução de crimes ou no desmantelamento de redes criminosas é muito pequeno, quando comparado com a forma como em casos políticos se deixa manipular e como é utilizada como elemento central de campanhas de opinião pública. Algo vai muito mal no funcionamento da Polícia Judiciária - e a sua reforma é uma peça essencial para que a Justiça possa melhorar. 

 


 


DÚVIDA – Às vezes fico um bocado espantado sobre a forma de comportamento dos porta-vozes partidários. Eu acho que o natural seria que um porta-voz tentasse alargar o raio de comunicação do seu partido, que falasse para os eleitores que estão nas margens, para conseguir captar eleitorado, neutralizar quem antipatiza com esse partido e sobretudo conseguir dar bons argumentos para que os militantes e simpatizantes consigam eles próprios exercer influência nos círculos onde se movem. Mas em vez disso os porta-vozes, com raras excepções, falam para dentro, para o núcleo duro, reproduzem argumentos frequentemente de forma dogmática, e parecem mais obstinados em fornecer argumentos para confrontos do que em comunicar no sentido básico do termo – fazer chegar uma mensagem a quem à partida não estaria predisposto a ouvi-la. Olhem para o espectro partidário e analisem como actuam os porta-vozes – raros ultrapassam o nível de um propagandista, teimoso mas inábil, em início de carreira. 

 


 


 


 


RESUMO DA SEMANA – A Comissão de Inquérito da Assembleia da República ao caso BPN achou que o Banco de Portugal agiu bem na fiscalização daquele banco; Cristiano Ronaldo em Madrid foi o assunto central da semana nacional; já existem três manifestos sobre obras públicas, mais uma conferência de imprensa de Jorge Coelho; dizer um palavrão na Assembleia da República não tem consequências mas exprimi-lo gestualmente dá demissão – é aquilo a que se chama o poder da imagem. 

 


 


PERGUNTA INDISCRETA – Agora que Manuel Pinho se foi embora, quem é que vai tratar dos assuntos da Cultura no Governo? 

 


 


VER – Senti o cheiro das rotativas e a emoção de ver uma história publicada, o caos das redacções e o zig-zaguear do desenvolvimento de uma reportagem em «Ligações Perigosas», um filme de Kevin Macdonald sobre a investigação jornalística da morte da amante de um político que andava a investigar negócios pouco claros na área militar. O «thriller» é bem construído, o argumento é muito bom e a interpretação de Russell Crowe é superior. 

 


 


LER – Confesso-me um leitor devoto de policiais e confesso-me amigo do Fernando Sobral, que também escreve nas páginas deste jornal. Gosto de o ler diariamente no seu certeiro «Pulo do Gato» ou nas notas sobre a semana ou sobre livros que ele publica aqui neste «Weekend». Feitas estas declarações tenho a dizer que «L.Ville», o novo livro do Fernando Sobral, um policial, é uma história fascinante de um detective que, na cidade de Lisboa, se confronta com um caso de homicídio. Não vou contar a história – que é daquelas que não se consegue parar de ler – mas direi que é um retrato contemporâneo de locais, comportamentos e atitudes. Eu li-o de seguida, a imaginar sítios, a ouvir as canções que são citadas, a sentir cheiros e aromas. «L.Ville» é um dos melhores policiais que tenho lido ultimamente e que, ainda por cima, tem a particularidade de ter frases absolutamente  geniais, como esta: «Podemos ensinar tudo; mas devemos ficar sempre com o truque definitivo». (Edição Quetzal) 

 


 


OUVIR – Ao fim de duas décadas e de uma quinzena de discos ainda há lugar para surpresas numa banda que em 1988 ganhou fama e notoriedade com o disco «Daydream Nation», que se afirmou com uma sonoridade própria na Nova York dos anos 90? Estou a falar dos Sonic Youth, esse quarteto que fez fama com canções que reproduziam os ruídos, as sensações e a criatividade dessa cidade. Ironicamente intitulado «The Eternal», o novo disco dos Sonic Youth, uma nova explosão de energia, misturada com pequenas provocações que salpicam as canções. Os Sonic Youth, que há três anos não lançavam disco novo, não inventam aqui nada – mas aperfeiçoam o seu estilo, e surpreendem pela coerência, num tempo em que esta música podia ser mais difícil para atrair novos públicos. Destaque para a forma como Kim Gordon canta, e sobretudo para a última canção do disco, verdadeiramente impressionante, «Massage The History». CD Matador. 

 


 


PROVAR – As coisas mais simples e mais tradicionais são muitas vezes as melhores. De repente um regresso a um restaurante onde já não se ía há uns tempos faz recordar a importância da boa escolha de produtos, a boa confecção, o tempero cuidado, a atenção ao pormenor – por exemplo a qualidade da preparação das azeitonas e do pão que se servem – um dos «couverts» mais simples, que ou corre muito bem ou é para esquecer. Pois correu muito bem num regresso ao «Apuradinho», em Campolide, uma noite destas onde o objectivo era comer bem, com calma, sossegado. A escolha da noite recaiu numas lulas recheadas acompanhadas de puré de batata – aqui está um prato que pode ser um desastre, mas felizmente no «Apuradinho» é um sucesso – lulas perfeitas, tenras, recheio muito bom, um puré de batata natural muito bem condimentado. A terminar, cerejas magníficas, absolutamente excepcionais – num ano, aliás, que tem sido bom em matéria de cerejas. Resumo da noite: porque é que não vou mais vezes ao «Apuradinho» - aos seus pastéis de bacalhau levíssimos, ao estufado de pivetes (rabo de boi) ou ao cozido, sempre superior? «Apuradinho», Rua de Campolide 209 A, telefone 213 880 501. 

 


 


BACK TO BASICS -  A História é pouco mais do que uma sucessão de crimes e de infortúnios - Voltaire 

 

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publicado às 15:54

 


PRIORIDADES - Leio com atenção o artigo de Mário Soares no «Diário de Notícias» sobre o 25 de Abril e uma estratégia para Portugal. Soares fala em quatro quintos do artigo sobre memórias do tempo em que foi protagonista e diz que o país está à beira de uma nova era «política, financeira, económica, ambiental, energética e, sobretudo, de valores». Muito sintomaticamente não fala da maior crise da sociedade portuguesa – que é o não funcionamento da justiça, com o que ela traz – o implícito benefício de quem não a cumpre e o não reconhecimento de quem faz as coisas como deve. Uma geração de políticos, mairotariamente advogados e juristas, como Mário Soares, deixaram como legado um país onde a Justiça não funciona. E fazer com que funcione é um imperativo estratégico – senão, não há nem economia, nem valores que resistam. O artigo acaba por ser a confissão de que, para os políticos, a justiça não é uma prioridade.

 

LISBOA - Cá para mim António Costa pode bem ser o mentor escondido da Frente de Esquerda. É ele quem tem a ganhar politicamente se a Frente surgir, a acção em si é típica de políticos à antiga como ele (que evocam com saudade a época do frentismo e gostam da táctica da unidade para expurgarem o campo em que se movem), e claramente esvaziaria de sentido as aventuras de Helena Roseta e deixaria o Bloco encurralado – sendo que com o PCP, como antes já aconteceu, pode sempre fazer-se um acordozito. Acho que a coisa já esteve mais longe de poder acontecer do que está na realidade e a pressão sobre quem ficar de fora vai ser enorme – de cisionistas a aliados da reacção vão ouvir de tudo. Com o inefável José Sá Fernandes na primeira linha do combate frentista, aposto.

 

CAPILÉ - Na terça feira de manhã escrevi isto no Twitter e no Facebook: «Tanta conversa sobre os quiosques de refrescos já aborrece - fazem mais falta esplanadas decentes na Av. da Liberdade que hinos ao capilé». Esta afirmação desencadeou uma guerra de opiniões, coisa boa e que é aliás o que me anima a lançar frases fortes – que de qualquer maneira correspondem ao que eu sinto, quando há uma desproporção entre a promoção e o seu objecto – como é o caso.

 

LER – Eis um bom exemplo de como um livro de ensaios, e para mais sobre cultura contemporânea, pode ser um estimulante exercício para o pensamento – mesmo quando se percebe que o autor, como é compreensível, valoriza o seu ponto de vista e subalterniza o dos outros – o que proporciona aliás alguns momentos divertidos, por serem tão assertivos. Mas, divertimentos à parte, «À Procura de Escala», de António Pinto Ribeiro (não, não é o Ministro, que esse não pensa nem age sobre Cultura) é um conjunto de cinco textos que faz bem o ponto de situação de uma determinada lógica de pensar a política e a actividade cultural no sentido da criação de um gosto – desse ponto de vista é talvez o mais sólido resumo do que foi o verdadeiro fundamento da política a que Carrilho quis chamar de sua. («À Procura da Escala», de António Ponto Ribeiro, Livros Cotovia).

 

VER - Uma sugestão para todos os que gostaram de ver e ouvir o maestro venezuelano Gustavo Dudamel no Coliseu de Lisboa no passado fim de semana: existe no mercado português um óptimo DVD onde Dudamel dirige a Orquestra Juvenil Simon Bolívar, gravado em 2007. O repertório é bem diferente do que ele aqui interpretou e inclui a «Eroica» de Beethoven, a «Danza Final» do argentino Alberto Ginastera e «Huapango» do mexicano José Pablo Moncayo. Atractivo suplementar, um documentário sobre como foi criada e funciona esta orquestra que impressiona tanta gente. DVD Deutsche Grammophon, distribuído pela Universal.

 

OUVIR – J.P. Simões é um dos mais interessantes e polifacetados músicos contemporâneos portugueses. Ao longo da sua carreira esteve com os Pop Dell Arte, fundou os Bellechase Hotel e criou o Quinteto Tati antes de iniciar a sua carreira a solo, que já leva dois discos editados. Pelo meio escreveu em jornais, fez bandas sonoras para filmes, escreveu um livro de contos, e tem dado concertos um pouco por onde calha, muitas vezes sozinho em palco com a sua viola. Admirador confesso de Chico Buarque, de quem as influências até na forma de cantar se notam, J.P. Simões é um compositor de invulgar talento e um intérprete notável. Eu acho que não é exagero considerá-lo o melhor da sua geração e o novo disco, acabado de editar e gravado maioritariamente ao vivo, «Boato», é prova disso mesmo. Não são só as canções, é o ambiente, a forma de tocar, o que está escrito e como é cantado – tudo tem aquele raro toque de génio que volta e meia nos faz parar a corrida para ouvir o que se passa à nossa volta.

 

DESCOBRIR - Nesta época de crise da imprensa é bom ver como no sector das revistas há alguma coisa diferente. O grupo editorial norte-americano Condé Nast decidiu acabar com a sua revista de economia e negócios, «Portfolio», mas ao mesmo tempo decidiu lançar a «Wired» no Reino Unido. Neste número inaugural da edição europeia surgiram novos temas e novas formas de abordagem relativamente à americana, com o futuro como tema de capa.

 

PETISCAR – Podia ser uma barra espanhola bem fornecida, como o Luciano em Ayamonte, mas é uma boa taberna portuguesa em Setúbal. Chama-se Taberna Grande, fica na Rua das Fontainhas 30 e apresenta um conjunto de propostas para petiscar com fartura e qualidade, de pataniscas a torresmos, passando por polvo à galega, presunto, requeijão e doce de abóbora a condizer. Recomenda-se apenas maior atenção na fritura – por vezes imperfeita e pesada. A garrafeira tem boas propostas regionais e o espaço é confortável, mesmo quando está cheio. Telefone 309847226.

 

BACK TO BASICS – A justiça deve ser mantida viva pelo espírito e não pela forma da Lei – Earl Warren

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publicado às 14:42

TRAPALHADAS E ESPERTALHICES

por falcao, em 10.03.08

MAU - O caso é este: a Polícia Judiciária poucas vezes consegue levar uma investigação complicada a bom porto; as outras polícias patrulham pouco e assobiam para o ar quando vêem alguma coisa que os possa aborrecer; nos últimos anos as polícias e magistrados têm sido utilizados em demasiadas investigações que têm uma matriz política;  os tribunais são lentos, os juízes são polémicos, a justiça é, de uma forma geral, muito ineficaz. O resultado está à vista: criou-se um clima de impunidade, de dissolução da autoridade e a violência generaliza-se. Os crimes violentos recentes podem não estar ligados entre si do ponto de vista objectivo – mas estão obviamente ligados porque se criou a idéia de que o crime não tem castigo. Esse é o grande problema que afecta o Ministério da Justiça e o Ministério da Administração Interna – e enquanto persistir a sensação de que as polícias e instituições judiciais estão mais ocupadas a guerrearem-se umas às outras do que a protegerem os cidadãos hão-de continuar a existir tiroteios e esfaqueamentos. 




ESPERTEZA - Sabidola, sabidola é o sr. Nunes: em vésperas de o Parlamento iniciar a análise de propostas de alterações ao funcionamento da ASAE, eis que desencadeou uma mega-operação de apreensão de alimentos. Ele que andava tão sossegado, resolveu mostrar aos senhores deputados como a ASAE é fundamental para a saúde pública. Por acaso acho que era interessante saber o resultado de análises aos produtos apreendidos – para ver se as apreensões de facto atingem o objectivo desejável ou se servem apenas para fazerem apreensões sonantes em alturas estratégicas e darem nas vistas com o habitual festival mediático que faz parte da impressão digital do sr. Nunes. 




PÉSSIMO - Antes de ser Ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva esteve cerca de três anos no Ministério da Educação, primeiro como Secretário de Estado, depois como Ministro, até que Guterres o resolveu passar para a Cultura. Em nenhum dos lugares se notabilizou pelo brilho das reformas ou pela eficácia da acção. Uma das suas Secretárias de Estado na 5 de Outubro foi Ana Benavente, hoje feroz crítica da actual Ministra, Maria de Lourdes Rodrigues. Por curiosidade, o actual Secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, desancou recentemente a acção do Ministério da Educação, ao tempo em que Santos Silva lá estava – e este nem piou. Pois neste extraordinário clima interno do PS em relação à educação, eis que Santos Silva abriu a boca pela primeira vez sobre o tema, apenas para fazer notar como o deputado Pedro Duarte do PSD não estava em sintonia com o seu Grupo Parlamentar em matéria de avaliação da política educativa. Que se poderá chamar a isto? 




PROBLEMA - Nos últimos tempos os autocarros da Carris andam cada vez piores em matéria de comportamento de trânsito. Atravessam-se nos cruzamentos, usam pouco os indicadores de mudança de direcção, enfim têm a sua quota parte de infracções. Seria boa idéia, que à semelhança de outras empresas, a Carris tivesse na traseira dos seus autocarros a indicação de um número de telefone para o qual se pudessem fazer reclamações sobre a falta de profissionalismo dos seus condutores, com o auxílio de um número identificativo de cada veículo. 




REALIDADE - No último ano vi menos televisão, vi mais cinema, ouvi mais música, li mais livros, descobri novas revistas. 




LER – Confesso que gosto de ler o Dalai Lama e gostei especialmente de uma sua recente obra, «The Universe In A Single Atom», onde aborda como a ciência e a espiritualidade podem servir o nosso mundo. Neste  livro o Dalai Lama aborda a sua visão de como a ciência e a fé devem trabalhar de mãos dadas para aliviar o sofrimento humano. Fala dos grandes debates, de ligações entre temas de ligações improváveis, como o karma e a evolução. Toda a obra parte de reflexões em torno da citação de um antiqüíssimo texto do budismo: em cada partícula das profundezas do universo, existem vastos oceanos de sistemas do nosso mundo. A partir daí começam as reflexões sobre a importância da ciência, a relatividade e a física quântica, o big bang , a consciência, a ética e a genética, as ligações entre a ciência, espiritualidade e a humanidade. A  edição britânica é da Abacus, tem 230 páginas, é datada de 2006 sobre um original de 2005 e custou 9 libras na Amazon. 




OUVIR – Por ocasião do 50º aniversário do Festival de Jazz de Monterey, realizou-se no dia 23 de Setembro do ano passado um concerto que juntou Terence Blanchard no trompete, Nnenna Freelon na voz, Benny Green no piano, James Moody no sax, Derrick Hodge no baixo e  Kendrick Scott na bateria. Daqui saiu um belíssimo disco, «Live At The 2007 Monterey Jazz Festival», que inclui temas  como «Romance», «Just Squeeze Me (But Please Don's Tease Me». «Monterey Mist», «Time After Time».  Vale bem a pena ouvir. CD Universal. 




IR – Na próxima quinta-feira, dia 13, ao Frágil (Rua da Atalaia 126, Bairro Alto) para uma noite de poesia dedicada a Sophia de Mello Breyner. 




PETISCO – Em matéria de salgadinhos, amor com amor se paga: segui a recomendação de visitar a padaria «Pão Doce», na Duque de Ávila, perto da esquina com a 5 de Outubro. É bom para um almoço ou lanche rápido, tem boas sanduíches carregadas de alface, tomate e cenoura com condutos variados, uns folhados mistos fantásticos que se recomendam, uma bola de carne honesta, empadas e salgados com bom sabor e sobretudo uma enorme escolha de pães para levar para casa. 




BACK TO BASICS – Quando a legislação quer controlar a forma como se pode vender e comprar, os primeiros a serem comprados e a venderem-se são so próprios legisladores – P.J. O’Rourke. 

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publicado às 13:16

...

por falcao, em 18.02.08
PESADELO – O estado a que chegou a administração da Justiça em Portugal é mais do que preocupante: os procuradores do norte estão em guerra com os do sul e com cidadãos que deviam defender; na Judiciária o caos tornou-se mera rotina; na Ordem dos Advogados impera a demagogia e a baixa política; Tudo isto se passa com os devidos atrasos, desleixos, incúrias, cumplicidades, manhosices. O sistema judicial tomou conta do país, ameaça tomar conta dos políticos e, a seguir, de quem ousar levantar-se contra a desordem jurídica vigente. Alberto Costa deixou chegar as coisas a um ponto muito complicado.


MAU – Um governo que enche a boca de inovação e depois dá uma machadada no ensino artístico não merece grande crédito. Qualquer leigo sabe que na escola poucas coisas estimulam tanto a criatividade como o ensino da música. Quando se ataca o ensino da música como prioridade da política educativa, é sinal de que se quer formar uma geração de mentes cinzentas e conformadas.


PÉSSIMO – Cada vez que um jornal revela alguma coisa sobre a vida pública, profissional, do Engenheiro José Sócrates, eis que o Primeiro Ministro e alguns dos seus próximos aparecem a gritar que se trata de uma campanha intolerável. Noutros tempos foram estes mesmos argumentos que serviram de base para se iniciarem ataques à liberdade de imprensa. Ninguém imagina que um político ambicioso chegue a Primeiro Ministro sendo um anjo e um exemplo de virtudes e boas maneiras – o problema está quando os próprios se convencem da sua santidade e intocabilidade.


O MUNDO AO CONTRÁRIO – Alguma coisa vai mal num partido em que a primeira figura se limita à retórica e em que o líder parlamentar anuncia que se vai pôr a viajar pelo país fora em autêntica pré-campanha.

LER – O scriptorium era uma pequena sala dos mosteiros medievais onde os monges copistas escreviam os seus manuscritos. Para o seu novo livro, o romancista norte-americano Paul Auster pegou no termo e fez dele o centro de uma história quase surreal, mas cativante da primeira à última linha. «Viagens no Scriptorium» (edição ASA), explora as palavras, trabalha a passagem do tempo, o efeito da memória e o mistério do pensamento. Não é por acaso que esta é das mais elogiadas obras de Paul Auster.

IR – O concerto do quarteto do trompetista polaco Tomasz Stanko promete ser um bom momento do jazz ao vivo. Baseada no repertório do seu último disco, «Lontano», a actuação terá lugar na próxima quarta-feira dia 20, pelas 21h30, no Grande Auditório da Culturgest, em Lisboa. A revista norte-americana «Down Beat» considerou «Lontano» como um dos dez melhores discos do ano passado e o seu autor como um dos melhores trompetistas contemporâneos.


OUVIR – Os primeiros minutos do disco são surpresa no seu melhor: emoção pura, espanto pela força e clareza da voz.. Ao terceiro álbum a cantora negra norte-americana Liz Wright fez um trabalho verdadeiramente surpreendente que combina uma maioria de bons originais com algumas versões, entre as quais «I Idolize You» de Ike e Tina Turner e e «Thank You» dos Led Zeppelin. Arrebatador e inesperado «The Orchard» é um disco que merece ser descoberto. CD Verve/ Universal.


VER – Até 2 de Março ainda se pode ver, no Museu da Electricidade, em Lisboa a exposição «100 Fotos, Obras, Anos de Oscar Niemeyer » da autoria do arquitecto e fotógrafo Leonardo Finotti. Neste sábado, amanhã, dia 16, os arquitectos

Ricardo Carvalho e Ricardo Bak Gordon fazem uma visita guiada e comentada à exposição, a partir das 16h30.


PERGUNTANDO… Esta semana, num restaurante popular de Lisboa, daqueles onde ainda se comem petiscos, ouvi um arrebatado rapaz a explicar à sua encantada conviva estrangeira as qualidades da comida portuguesa e os perigos que a ASAE traz ao país. Face à incredulidade da rapariga, surgiu da boca do rapaz a inevitável e marcante pergunta: «You don’t know what ASAE is?». Se o Nunes sabe, a rapariga vai para um campo de reeducação.


PETISCAR – O «Tempero de Minas» é um simpático restaurante na esquina da Luís Bívar com a Pinheiro Chagas, ao Saldanha, em Lisboa. Ao almoço há buffet inspirado nos petiscos do estado brasileiro de Minas Gerais, à noite pode escolher de uma bem fornecida lista. Em qualquer dos casos não perca as entradas e os doces. E deixe a dieta para outro dia. Telefone 213555038, www.temperodeminas.com.


BACK TO BASICS – Se não existissem injustiças, ninguém saberia o que é de facto a justiça – Heraclitus.

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publicado às 17:38


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