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ABUSO - Em 25 de Abril de 1974 o fotojornalista Alfredo Cunha, então no início da sua carreira, fez uma imagem do capitão Salgueiro Maia que ficou para a História, e que se tornou numa das suas fotografias mais conhecidas. Este ano a Juventude Popular pegou na imagem, alterou o seu enquadramento, manipulou-a digitalmente e utilizou-a num cartaz - fez tudo isto sem pedir autorização ao autor da fotografia. Manda o bom senso e a ética, para além da Lei,  que não se utilizem em propaganda e em publicidade fotografias, textos ou ilustrações sem a expressa autorização dos seus autores. A Juventude Popular achou por bem ignorar o Direito de Autor e fez com a imagem de Alfredo Cunha aquilo que quis. Alfredo Cunha anunciou que irá processar a organização por utilização indevida da sua obra. Francisco Rodrigues dos Santos, presidente da Juventude Popular, em resposta, manifestou-se revoltado com a posição do autor e afirmou que “43 anos mais tarde parece que nos querem subtrair aquilo que naquele dia nos deram”,  sugerindo que aquela fotografia “pertence ao património imaterial do país”. Insinua ainda que na base de decisão de Alfredo Cunha estarão motivações políticas. Ora acontece que a propaganda política é a publicidade dos partidos e é lamentável que um dirigente partidário não saiba que os autores têm o direito de recusar que as suas obras sejam associadas a organizações políticas nas quais não se revêem. Estamos pois perante o caso de um dirigente político que defende o abuso do direito de autor - o que neste universo contemporâneo é uma questão na ordem do dia em qualquer área criativa. Pior ainda é que os dirigentes mais velhos e experientes do seu partido não venham explicar ao senhor que a política se faz com respeito pelos outros e não abusando deles. A começar por não violentar a consciência e as opções políticas de quem quer que seja.  

 

SEMANADA - Em 2015 os acidentes em contexto laboral provocaram mais de dois milhões de dias de trabalho perdidos; mais de 10% dos alunos da universidade de Coimbra são brasileiros; já há mais sul-coreanos a pernoitar em Fátima do que brasileiros; em 2016 foram elaborados 1.112 autos a proprietários de cães de raças potencialmente perigosas; segundo a GNR cães considerados perigosos fizeram pelo menos 355 vítimas em 15 meses; em média a ASAE multa 2700 estabelecimentos de restauração por ano e encerra um restaurante por dia; a quantidade de peixe transacionada em lota diminuíu 18% desde 2010 e o preço médio do pescado por quilo subiu 31%; um estudo britânico indica que as crianças que usam tablets e smartphones dormem menos e pior; os dados do Netpanel da Marktest mostram um aumento de 10% no número de horas de navegação em sites de informação durante o mês de Março; um estudo do Eurostat indica que 49% dos portugueses usam a internet para fazer um auto-diagnóstico médico a partir de pesquisas no Google; 90% dos maiores de 50 anos não estão vacinados contra a pneumonia; Portugal tem a terceira maior dívida da União Europeia em percentagem do PIB, logo atrás da Grécia e Itália; Portugal tem a quarta maior taxa de abandono escolar na Europa, a seguir a Malta, Espanha e Roménia.

 

ARCO DA VELHA - Enquanto o Comissário Europeu da Saúde considera que algumas vacinas, como a do sarampo, devem ser obrigatórias, o nosso Ministro da Saúde descartou a possibilidade de de o governo propor a obrigatoriedade da vacinação; o Director-Geral da Saúde, Francisco George, condenou a “moda bizarra” de não vacinar as crianças.

 

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FOLHEAR - São quase 700 páginas a relatar o grande desafio do homem contra a natureza, personificada na grande Baleia Branca, a Moby Dick. É uma escrita que parece às vezes uma reportagem e noutros momentos se revela uma sucessão de recomendações, pensamentos, opiniões.  “Moby Dick” é um dos grandes livros da história da literatura e, no entanto, em vida do autor, Herman Melville, vendeu apenas cerca de 3000 exemplares. Melville navegou em barcos de carga e em baleeiros no Pacífico e no meio das suas viagens foi capturado por canibais na Polinésia, tendo conseguido fugir. Em tudo o que viveu encontrou material para escrever. Fez da vida que viu, da vida que ouviu e da que imaginou a matéria prima das suas histórias. É de William Faulkner esta frase: “ penso que o livro sobre o qual poderia dizer incondicionalmente quem me dera ter escrito isto é o Moby Dick”. Trata-se da história de um capitão de Marinha enlouquecido que, depois de ter sido mutilado por uma baleia, procura vingar-se. O capitão chama-se Ahab e a baleia é Moby Dick, o terror dos baleeiros. No interior do barco de Ahab, o Pequod, gera-se um micro-cosmos onde o ressentimento e o ódio alimentam o confronto e o conflito. “Moby Dick” é o relato do desafio entre o homem e a natureza e das rivalidades e disputas entre os homens. Foi agora editado pela Guerra & Paz na sua colecção de clássicos.

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VER - Ana Vidigal gosta de mostrar as suas memórias - umas vezes pessoais, familiares, outras vezes memórias de tempos vividos, às vezes mapas que desenham o imperfeito mundo em que vivemos. “Eu encontro coisas e guardo-as. Junto-as. Penso que não as perco” - escreve Ana Vidigal a propósito desta sua nova exposição, a quarta individual que faz na Galeria Baginski. Assumidamente, como a artista escreve, “este é um tempo político” e é isso mesmo que estas imagens da memória nos mostram, evocando geografias e momentos. Na fotografia aqui reproduzida Vidigal está junto a “Há manhãs que cantam” - o título da obra em fundo e que remete para a China da Revolução Cultural. Outras, das oito obras aqui expostas, têm títulos como”Morrer na praia”, “Só a a poesia nos pode salvar. Há lugar para mim?(Bambi a fugir de lá)” ou “o fim está no meio”. A exposição está na Baginski até 9 de Junho (Rua Capitão Leitão 51, ao Beato). Mudando de registo e passando para a fotografia, a Barbado Gallery expõe obras recentes do fotógrafo brasileiro Claudio Erdinger que, depois de uma carrreira de duas décadas como fotojornalista nos Estados Unidos, regressou a S. Paulo, de onde trabalha na sua visão das urbes e das alterações de paisagem. A Barbado fica na Rua Ferreira Borges 109. Finalmente, na Appleton Square (Rua Acácio Paiva 27), o artista galego Misha Bies Golas expõe até 11 de Maio “Recordo”, uma co-produção com o DIDAC, uma instituição de Santiago de Compostela, em que o artista mostra como a reutilização de materiais pode ser matéria prima para a criatividade.

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OUVIR -  Ralph Towner é um dos guitarristas de jazz que mais aprecio e discos exclusivamente de guitarra fazem parte das minhas preferências. “My Foolish Heart”, agora editado, é o primeiro disco de Towner a solo desde “Time Line”, de 2006, e neste novo registo ele passa pelos seus territórios preferidos que evocam influências da música clássica, da folk, da música espanhola para guitarra e, claro, dos standards de jazz, como o nome do álbum, “My Foolish Heart” indica. O original de “My Foolish Heart”, uma composição de Victor Young e Ned Washington, surgiu na banda sonora do filme com o mesmo nome, em 1949. Mas este “My Foolish Heart” de Ralph Towner é bem diferente do original e, no caso deste seu novo álbum, é mesmo o único tema que não foi composto por ele - e o guitarrista já afirmou que começou a ouvir esta canção de outra maneira quando ouviu a versão que dela fez Bill Evans, ao piano. No disco Towner toca guitarra de seis e 12 cordas e alguns dos seus temas que incluíu neste álbum são novas versões de composições que fez no início da carreira, como “Shard” e “Rewind”. Um dos novos temas é uma homenagem ao seu amigo Paul Bley, desaparecido há cerca de um ano, duas semanas antes deste disco ter sido gravado - “Blue As In Bley”. Editado pela ECM, “My Foolish Heart” de Ralph Towner foi publicado em Fevereiro deste ano. Como outras edições da ECM não está disponível no Spotify.

 

PROVAR - Mário Ribeiro e Francisco Bessone largaram o Sushic de Almada em meados do ano passado e instalaram-se nas Avenidas Novas, no Nómada. Reformularam o espaço, criaram uma esplanada coberta e fizeram um menu que mostra a forma como encaram a cozinha japonesa, incorporando influências ocidentais e propondo também pratos de gastronomia portuguesa. Em primeiro lugar deve dizer-se que um dos segredos do local é a qualidade dos ingredientes utilizados, a forma como são combinados e, finalmente, o serviço exemplar. Já agora, aqui encontra-se uma garrafeira com uma diversidade e qualidade que é raro encontrar em restaurantes de inspiração japonesa, e a preços decentes. O nome escolhido, Nómada, é afinal o descritivo de uma cozinha que derruba fronteiras e não vive de preconceitos, aberta a experiências e combinações inesperadas.  Nas entradas destaco  o Asian Ebi, em que uma base de arroz envolto em sésamo torrado é temperado com maionese japonesa e finalizado com tempura de camarão com caril. Também merecem destaque as gyosas de legumes e frango, os cones crocantes recheados de atum e cebola em vinho do Porto e sobretudo as vieiras seladas em óleo de sésamo com puré de castanhas, gengibre e manga. Outra belíssima experiência foi o carpaccio de lírio dos Açores cortado em tiras finas regado com molho ponzu e azeite de alho, acompanhado de chips de raiz de aipo. Tenho ouvido elogiar o vongole - pampo cortado em tiras finas com camarão, mexilhão e berbigão à bolhão pato japonês. Ainda no domínio oriental há uma boa oferta de combinados de sushi e sashimi. Se alguém quiser algo menos oriental pode escolher pratos tradicionais que vão do prego de atum com chips de batata doce a um mil folhas de salmão com legumes em manteiga de alho ou uma perna de pato confitada com puré de castanhas e legumes. A escolha de vinho foi um branco, a copo, da Quinta do Penedo, que se revelou muito apropriado. Nos doces destaque para o gelado sobre crumble de maçã e o fofo de chá verde com gelado de melão e gengibre. Nómada, Avenida Visconde de Valmor 40A, telefone  917 779 737. É melhor marcar.

 

DIXIT -  “Não tenho vontade nenhuma de sair do Porto” - Rui Moreira

 

GOSTO - De todo o processo de pesquisa e criativo que o realizador João Canijo e as actrizes seguiram para fazer “Fátima”, um filme fora de série.

 

NÃO GOSTO - Do futebol como pretexto para violência entre adeptos, instigada por dirigentes das claques que se tornam figuras de prôa nas eleições dos clubes e que são toleradas pelos dirigentes.

 

BACK TO BASICS - “Se o objectivo é falar verdade, deixem as preocupações sobre a elegância ao alfaiate” - Albert Einstein.

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