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REAGIR - Hoje em dia não sabemos quando atacam, mas sabemos quem ataca. A guerrilha deslocou-se de territórios distantes para dentro das capitais da Europa. As antigas práticas de guerra, com um cerimonial de disposição de tropas - ou as acções da guerra de guerrilha no meio do mato em regiões remotas - são coisas obsoletas comparadas com o que se passa. Com a amplificação conseguida, em tempo real, do efeito dos ataques no actual sistema mediático, os manifestos e as palavras foram substituídos por bombas. Se perguntarmos a alguém qual a causa dos ataques as respostas são tão diversas que se percebe que a origem do que se passa depende do modo como se vê o mundo. Mas é certo que a desorientação e a fragmentação europeias não ajudam a prevenir e a combater quem decide promover esta guerrilha urbana contemporânea. Deixo aqui as palavras de Miguel Monjardino, no Expresso, no dia dos atentados de Bruxelas, sobre os quatro novos objectivos dos terroristas: “Os aeroportos, as estações de metropolitano, os hotéis e as grandes salas de espetáculos nas capitais europeias são agora os principais alvos daqueles que usam o terrorismo para atingir os seus objetivos políticos.” Tudo isto só nos pode fazer lembrar que quem se divide não se defende. Não partilho as palavras de António Costa, néscias, como li algures, quando recomendou "nada de reacções reactivas": Prefiro pensar como se combate o que acontece, sabendo os riscos e as dificuldades. E termino a dizer que se mudarmos as nossas vidas damos a vitória ao terror. Não é isso que queremos.
SEMANADA - A Câmara de Valongo fez 49 ajustes directos ao mesmo empresário, no valor de 1,5 milhões de euros, entre 2008 e 2013; 147 mil famílias têm o pagamento dos empréstimos à habitação com prestações em atraso; 27% do olival alentejano é de espanhóis; 80% dos camiões de mercadorias portugueses abastecem em Espanha devido ao aumento dos impostos sobre combustíveis em Portugal; o desemprego está a subir há sete meses consecutivos, contam-se agora mais 43 mil desempregados do que em Julho do ano passado; em 2015 verificaram-se 1456 casos de abusos de crianças e 561 casos de violações de pessoas adultas; em 2006 Sócrates quis criar um privilégio judicial para os políticos, do género daquele que Lula e Dilma estão agora a tentar utilizar no Brasil; A área metropolitana de Lisboa foi responsável por 46% do valor das transacções de imóveis realizadas no ano passado; Rui Moreira aproveitou a sua guerra com a TAP a propósito do abandono de rotas a partir do Porto para lançar um livro que é um manifesto pela regionalização, um tema que promete voltar a dar que falar neste ciclo político; António Costa disse que a banca precisa de "capital estrangeiro, seja ele espanhol, angolano, alemão ou americano; Mira Amaral diz que a espanholização da banca põe em risco empresas portuguesas.
ARCO DA VELHA - Em Rio Tinto um homem pediu o carro emprestado à vizinha para assaltar uma loja de electrodomésticos na Póvoa do Varzim e foi apanhado porque um televisor, que estava a furtar, caíu-lhe em cima do pé, deixando-o ferido e impossibilitado de andar - muito menos fugir.
FOLHEAR - Numa semana em que se falou tanto de Angola a propósito do sistema financeiro português foi lançado um livro que é uma preciosa obra de amor e entendimento entre o português que se fala em Portugal e o que se fala em Angola. É um livro que vale mais do que mil acordos ortográficos, destes anacrónicos que nos impõem por decreto. O livro é um glossário de termos que mostram o idioma português vivo no coração de África e é também um manifesto de amizade, assinado por Manuel S. Fonseca, que é meio português e meio angolano, editor e autor, que aqui dá mostras do seu amor a uma língua que se reinventa nos acontecimentos do dia a dia. O livro chama-se “Pequeno Dicionário Caluanda” e foi editado pela Guerra & Paz. Como autor diz, os angolanos conferem à língua portuguesa uma vitalidade própria - em Luanda, os caluandas cantam o português, impregnando-o de um humor salutar que faz a língua portuguesa rir-se como não se ri em mais nenhum lugar onde é falada”. Esta é uma primeira recolha daquilo a que se chama o falar de Luanda. São palavras novas, algumas, outras já com décadas, que conquistaram direito a reconhecimento, tão amplo é hoje o seu uso, já não só em Angola, mas também em Portugal, em Moçambique e no Brasil.. Vale a pena ler - para sabermos todos mais e para nos conhecermos melhor uns aos outros.
VER - “Horas Quietas” é o título da exposição de novas obras de Pedro Cabrita Reis, patente desde esta semana na Galeria João Esteves de Oliveira. Outro título possível seria “O Triunfo do Desenho”, já que é a partir do traço que se desenvolvem as 28 peças apresentadas. Praticamente todas usam técnica mista, com recurso a pintura e a colagens em muitos casos, mas com uma presença do desenho mais intensa que na generalidade da obra mais recente do artista. O nu, o desenho do corpo nu de modelos que com ele trabalharam, é o elemento comum, assim como a delimitação geométrica que define o espaço de muitas das obras, mostrando a delimitação entre o desenho e alguma das outras técnicas utilizadas. Muitas vezes o desenho do nu surge de forma quase académica, mas sempre como um ponto de partida ou de passagem e não como um ponto de chegada nas peças expostas. É claramente uma exposição inesperada e sedutora, que oscila entre o corpo e a natureza, e que revela mais uma vez como Pedro Cabrita Reis mantém a capacidade de surpreender. Há muito tempo que não se viam tantos coleccionadores a marcar peças que desejavam comprar como nesta inauguração. No mesmo dia foi lançado o livro “Horas Quietas”, com a reprodução de todos os desenhos mostrados na exposição, do qual foi feita uma edição especial de 75 exemplares, assinados e chancelados pelo autor e pela galeria. Até 6 de Maio, Rua Ivens 38.
OUVIR - Parece-me ser impossível ficar indiferente à forma como Kenny Barron e o seu trio tocam em “Book Of Intuition”, o disco que agora editaram. Quem gosta da formação clássica do trio de jazz - piano, baixo e bateria - não pode passar ao lado deste CD. Em boa parte isso é devido à forma como Kenny Barron toca piano, com ritmo e melodia, virtuosismo e swing nos sete temas da sua autoria, nas duas versões de temas de Thelonius Monk (sobretudo Shuffle Boil) e no magnífico Nightfall, de Charlie Haden. Se quiserem, o tema de abertura, do próprio Barron, Magic Dance, conta toda a história que está neste álbum - a energia, a criatividade, o desafio. Kenny Barron é dos maiores pianistas contemporâneos de jazz e este registo prova isso mesmo - ao ouvi-lo quase que parece que o piano ganha outra dimensão. E deve dizer-.se que Kiyoshi Kitagawa no baixo e Johnatan Blake na bateria complementam o trabalho de Barron no piano de forma exemplar. CD Impulse, distribuído em Portugal por Universal Music.
PROVAR - Há uma lenda para o folar da Páscoa - parte de uma história de rivalidades, no amor, entre um fidalgo e um pequeno agricultor, que se confrontaram em torno da mesma rapariga. Reza a lenda que, numa aldeia portuguesa, vivia uma jovem chamada Mariana, dividida entre os dois pretendentes. Ambos queriam que ela se decidisse até ao Domingo de Ramos. Chegada essa data, uma vizinha foi muito aflita avisar Mariana que o fidalgo e o lavrador se tinham encontrado a caminho da sua casa e que, naquele momento, travavam uma luta de morte. Mariana correu até ao lugar onde os dois se defrontavam e foi então que, depois de pedir ajuda a Santa Catarina, Mariana soltou o nome de Amaro, o lavrador pobre. Na véspera do Domingo de Páscoa, Mariana andava atormentada, porque lhe tinham dito que o fidalgo apareceria no dia do casamento para matar Amaro. Mariana rezou a Santa Catarina e a imagem da Santa, ao que parece, sorriu-lhe. No dia seguinte, Mariana foi pôr flores no altar da Santa e, quando chegou a casa, verificou que, em cima da mesa, estava um grande bolo com ovos inteiros, rodeado de flores, as mesmas que Mariana tinha posto no altar. Correu para casa de Amaro, mas encontrou-o no caminho e este contou-lhe que também tinha recebido um bolo semelhante. Pensando ter sido ideia do fidalgo, dirigiram-se a sua casa para lhe agradecer, mas este também tinha recebido o mesmo tipo de bolo. Mariana ficou convencida de que tudo tinha sido obra de Santa Catarina. Inicialmente chamado de folore, o bolo veio, com o tempo, a ficar conhecido como folar e tornou-se numa tradição que celebra a amizade e a reconciliação. Com o correr dos tempos ficaram três receitas bem diversas, uma a norte, duas a sul. A do norte, o folar transmontano, não leva açúcar e tem carnes fumadas no seu recheio - por esta altura há feiras do Folar por toda a região transmontana e os de Chaves (que em Lisboa podem ser adquiridos nos “Prazeres da Terra” do largo Dona Estefânia) são particularmente apreciados. Eu por mim gosto dos folares alentejanos, temperados a erva doce e azeite e que ficam com a massa dura e ovos cozidos no meio. Mas há também os folares algarvios, onde a massa leva leite e canela e o interior fica cremoso - são demasiado doces para o meu gosto. Para mim Páscoa sem folar alentejano é pior que Páscoa sem amêndoas.
DIXIT - “Tenho saudades do tempo em que Portugal era um país industrializado. Nós desindustrializámo-nos para além do que era razoável. O país bem escusaria de estar a passar por aquilo por que está a passar” - Carvalho Rodrigues, na sua derradeira aula na universidade.
GOSTO - José Pedro Croft e Siza Vieira representam Portugal na Bienal de Veneza
NÃO GOSTO - Usar o dinheiro dos contribuintes para pagar a modernização do sector dos táxis, sobretudo quando este teve meios e tempo para se modernizar e optou sempre por o não fazer e continuou a proteger comportamentos inaceitáveis dos taxistas.
BACK TO BASICS - A única forma de derrotarmos o terrorismo é não nos mostrarmos aterrorizados - Salman Rushdie
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