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CLUBISMOS - Os partidos têm marcas - melhor , são eles próprios marcas. Os mais antigos, que vieram de antes de 74 ou os que nasceram logo nessa altura, têm décadas de consolidação da respectiva marca. Por isso muitas vezes este efeito de marca passa por cima da análise racional das propostas e programas e do perfil dos candidatos. A coisa ainda se complica mais quando a afinidade a uma marca partidária se confunde com clubismo acrítico. Como se tem visto em anos anteriores, as autárquicas são um dos raros momentos onde esta lógica da fidelidade à marca pode ser abalada. A importância do perfil dos candidatos é importante, a experiência existente na equipa é relevante. E, depois, nas autárquicas há a possibilidade de escolher uma lista para a vereação, outra para a Assembleia Municipal, outra para a freguesia. O efeito clubista pode esbater-se na proximidade. Eu confio que isto possa acontecer em Lisboa - que os votantes habituais do PS olhem para Medina e vejam como ele privilegiou criar uma cidade bonitinha mas incaracterística e disfuncional, como preferiu agradar mais aos visitantes do que aos habitantes e como criou uma acção política baseada em deitar cimento em cima de cimento. Às vezes penso que no seu gabinete Medina olha para os lisboetas, para as queixas que ouve de quem não compreende as suas obras e, tal como na peça do dramaturgo Karl Valentim, interroga-se: “E não se pode exterminá-los?”. Esse é mais ou menos o programa de Medina para os que insistem em querer viver em Lisboa sem serem visitantes ocasionais. Bem sei que qualquer obra gera congestionamentos, mas também sei que aquilo que não é suposto é que os congestionamentos fiquem piores depois da obra terminada. Essa é a pedra de toque do medinismo: criar incómodo para quem vive em Lisboa. A finalizar, deixo uma declaração de interesse: para a Câmara Municipal vou votar em Assunção Cristas, que está mais preocupada com a vida de quem cá vive do que com o prazer de quem está de passagem. E é quem o faz de forma mais estruturada.
SEMANADA - Um estudo da Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil indica que 65% das crianças portuguesas não comem a dose diária de fruta e legumes recomendada pela Organização Mundial de Saúde; um estudo da Universidade de Trás os Montes e Alto Douro revela que os recintos escolares (incluindo vários renovados pela Parque Escolar) não têm espaço, equipamento e zonas verdes suficientes, existindo um défice de 80% em relação ao cenário ideal; segundo a Marktest 46% dos portugueses segue figuras públicas nas redes sociais e Cristiano Ronaldo é quem tem maior número de seguidores, com Cristina Ferreira e Manuel Luis Goucha nas posições seguintes; os livros de actividades para meninos e meninas da Porto Editora voltaram a ser postos à venda; no espaço de um ano os portugueses gastaram 108 milhões de euros em jogo online; os diversos impostos pagos pelos contribuintes rendem cerca de 109 milhões de euros por dia ao Estado; o IMT, que incide na compra de imóveis, teve um aumento de receita de 24% até Agosto deste ano; os aeroportos portugueses receberam 16 milhões de passageiros entre Junho e Agosto; a investigação ao roubo de 57 pistolas Glock do quartel-general da PSP está parada; o Estado está a demorar, em média, 95 dias a pagar as facturas a fornecedores, um aumento de 25% em relação ao ano passado; um estudo da própria Câmara revela que a maioria das ciclovias criadas nos últimos anos em Lisboa, e que têm sido pouco usadas, já estão a precisar de obras.
ARCO DA VELHA - A decisão do ajuste directo, alegando “urgência imperiosa”, que a Câmara Municipal de Lisboa fez das obras de S. Pedro de Alcântara, por cinco milhões de euros à Teixeira Duarte, foi tomada antes de o LNEC ter emitido o parecer que lhe havia sido solicitado e que não aponta qualquer perigo iminente.
FOLHEAR - Apesar do título este não é um livro sobre religião ou sobre o sentimento de culpa e o castigo. “Piedade Para Os Pecadores” é um romance sobre uma vida agitada no mundo empresarial e dos mercados financeiros, com diversas intrigas amorosas pelo meio. O seu autor é Manuel Lemos Macedo, um português que depois do 25 de Abril e da nacionalização da firma familiar foi para a Irlanda, onde estudou no University College de Dublin e, depois, nos Estados Unidos, na Columbia Business School. Posteriormente trabalhou em Paris e Madrid na banca de investimento e depois, em conjunto com a família Rothschild, criou em Lisboa uma sociedade financeira, da qual foi gerente. Em 1997 deixou os negócios, recolheu-se no campo (é natural de Tomar) e, segundo o próprio, dedicou-se à leitura, ao convívio com amigos e à escrita. Em 2004 publicou “A Vida É Um Sonho” e, agora, este “Piedade Para os Pecadores”. O primeiro livro abordava o impacto que as mudanças estruturais em Portugal na década de 70 tiveram na sociedade - é uma obra sobre a natureza humana e a decadência. Este “Piedade Para Os Pecadores” conta a história de um filho-família que dirigia uma firma com 3000 funcionários e que, depois do 25 de Abril, decide mudar de vida, indo para Paris com a intenção de se “pôr à prova”. Entra nos mercados financeiros e as aventuras na bolsa misturam-se com as aventuras românticas - poderia ser uma autobiografia, atendendo à vida do autor, mas Manuel Lemos Macedo diz que qualquer semelhança do livro com a realidade é pura coincidência. E mais uma vez é uma história que oscila entre a rebeldia, a descoberta, o diletantismo e algumas lições de moral avulsas, no fundo numa escrita datada. Edição Guerra & Paz.
VER - Andrea Baginski é uma galerista que tem apostado na divulgação de artistas portugueses contemporâneos, mas também em trazer a Lisboa a obra de artistas sul-americanos - nomeadamente do Brasil, o seu país de origem. Na semana passada abriu a sua galeria ao Chile, com a apresentação de “La Mano Invisible”, de Patrick Hamilton (na foto), um chileno com ascendentes irlandeses. É uma exposição assumidamente política, a começar pelo nome, que evoca o conceito desenvolvido por Adam Smith sobre a capacidade autorreguladora do mercado livre. As relações entre o trabalho e a economia e o seu cruzamento com a história são os pontos de partida do artista. Visualmente impactante, repleta de metáforas visuais, usando técnicas que remetem para o mundo do trabalho manual e para o dia a dia das sociedades contemporâneas, “La Mano Invisible” é uma das mais interessantes exposições deste ano. Até 4 de Novembro na Galeria Baginski, Rua Capitão Leitão 51. Outras sugestões: na Quadrado Azul “Provas de Contacto 1972-1980”, que mostra como Ernesto de Sousa, nesses anos, utilizou a fotografia como meio de expandir a sua criação artística (Rua Reinaldo Ferreira 20A até 16 de Novembro); destaque também para a nova mostra de trabalhos de pintura de João Queiroz na Galeria Vera Cortês, até 11 de Novembro (Rua João Saraiva 16, Lisboa); na Fundação Carmona e Costa até 4 de Novembro desenhos de Jorge Pinheiro (Rua Soeiro Pereira Gomes Lote 1- 6º); e finalmente n’A Pequena Galeria uma exposição sobre fotografia de moda, com trabalhos de Carlos Ramos, Ana Trindade e Nuno Beja, comissariada por Luísa Ferreira sob o título “3 na Moda” (até 14 de Outubro, Av 24 de Julho 4C).
OUVIR - Filipe Monteiro deu nas vistas há uns anos nos Atomic Bees, a banda onde também estava Rita Redshoes. Devoto da guitarra, mas também praticante do piano, deixou-se depois apaixonar pelo video e durante uma série de anos trabalhou com nomes como os Da Weasel, David Fonseca, Rita Redshoes, António Zambujo e Márcia, entre outros. Com eles produziu videoclips, dvd’s e documentários. Ao mesmo tempo fazia o gosto à música como convidado em estúdio ou em palco, fez arranjos e produziu “Golden Era” e “Lights & Darks” de Rita Red Shoes. Agora finalmente Filipe Monteiro regressa em nome próprio aos discos - aliás sob a designação Tomara e o título genérico “Favourite Ghost”. É um disco de ambientes, surpreendente pelos arranjos inesperados, pelos contrastes sonoros, pelo equilíbrio entre as partes instrumentais e as vocalizadas, no fundo um exercício de bom gosto. “Coffee And Toast”, a primeira canção, é a narrativa de um dia que é o guião de uma vida. “Favourite Ghost”, a faixa que dá o nome ao álbum, é uma deliciosa canção de amor e romance e em “For No Reason” percebe-se porque é que a guitarra é o instrumento de eleição de Filipe Monteiro e um cartão de visita das suas qualidades como compositor. Finalmente “House”, cantada por Márcia, é uma espécie de regresso às origens, um fim que parece anunciar um novo princípio. Disponível em CD e no Spotify.
PROVAR - Conseguir conciliar conforto, bom serviço, uma vista magnífica, produtos frescos e boa confecção é uma coisa cada vez mais rara em Lisboa. Junto ao rio, na zona da Doca de Belém, tudo isto se junta no restaurante do Clube Naval. Em baixo está a esplanada e em cima fica uma sala confortável e um terraço, fechado, de onde se avista o Tejo e a margem sul, em frente a Belém. Ainda no primeiro piso existe a chamada Sala dos Sócios, que alberga a colecção de troféus do Clube e uma ampla mesa que pode receber até umas vinte pessoas - disponível apenas por reserva, com preço à parte. Por falar em reservas a esplanada de rua não aceita reservas mas o restaurante do primeiro piso sim, e vale a pena fazê-lo, sobretudo ao fim de semana. Duas recentes visitas permitiram provar, nas entradas, um carpaccio de novilho que estava bom e uma salada de polvo muito boa. Dos pratos principais provaram-se uns filetes de peixe galo com arroz de lingueirão, uns filetes de polvo com migas de batata doce, ambos acima das expectativas, e um robalo grelhado, fresquíssimo e de boa confecção, acompanhado de legumes abundantes (podiam estar um bocadinho menos cozidos…). O caril de lavagante com gambas tem boa fama, mas não foi provado. Os preços são honestos, tendo em conta a localização e o bom serviço. Avenida de Brasília, Doca Seca de Belém, Edifício do Clube Naval, Belém, telefone 308 803 749.
DIXIT - Tancos é o novo fenómeno do Entroncamento - João Miguel Tavares
GOSTO - Dois cientistas portugueses descobriram o mecanismo que ajuda a perceber a razão das alterações no cérebro dos doentes com Parkinson
NÃO GOSTO - Este Verão houve 25 incêndios causados por foguetes
BACK TO BASICS - “No passado a censura funcionava porque bloqueava o fluxo de informação; no século XXI funciona inundando as pessoas com informação irrelevante” - Yuval Harari
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