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ABUSOS - De toda a história da elaboração secreta das alterações à Lei de Financiamento partidário há um coisa que convém reter: os partidos envolvidos no caso vieram afirmar preto no branco que só agiram como se sabe porque a máquina fiscal abusa, porque a autoridade tributária actua de forma discricionária e arbitrária. Terá sido o desejo de corrigir tais abusos e actuações que levou à criação de uma extraordinária maioria que juntou PS, PSD, PCP, Verdes e Bloco de Esquerda, ineditamente de acordo numa reforma do sistema fiscal. O único problema é que se juntaram em proveito próprio e não, como se poderia desejar e imaginar, para, no Parlamento onde tudo decorreu, se juntarem para corrigir o funcionamento da Autoridade Tributária, acabar com os abusos e actuações arbitrárias para com os cidadãos contribuintes no seu todo. Nós os contribuintes, que nos queixamos do mesmo há anos e anos, apreciaríamos que os partidos e os deputados eleitos conseguissem obter idêntico consenso a nosso favor. Ainda por cima na votação estiveram todos os partidos que apoiam o Governo, mais o PSD que esteve em anteriores executivos. Devemos pois depreender que existe um consenso maioritário para proceder a uma reforma profunda do sistema que persegue contribuintes, a quem são retirados direitos, e que são vítimas de abusos - e os cidadãos e contribuintes individuais são muito mais indefesos que os partidos políticos. Espero que os senhores deputados, depois de se preocuparem com o próprio umbigo, resolvam olhar para o pais e acabar com as prepotências do Fisco. Está provado que o podem fazer, se quiserem, desde que promovam um debate aberto em vez de uma conspiração silenciosa. Este é o meu singelo desejo para 2018.
SEMANADA - O número de dirigentes no Estado aumentou 6,12% nos últimos dois anos, para um total de 11 559; em Junho de 2017 em cada 100 trabalhadores activos 12,8 eram funcionários públicos; em 2015 as administrações públicas gastaram 86,825 mil milhões de euros, ou seja o equivalente a 48,4% da economia portuguesa nesse ano; em junho de 2017 as remunerações das administrações públicas em Portugal representavam 11,1% do PIB, 1,1 pontos percentuais acima da média dos países da União Europeia; em 2016 o Ministério das Finanças concedeu benefícios fiscais a 35.500 entidades, de empresas a clubes de futebol, passando por autarquias e fundações, no valor de 2,4 mil milhões de euros, um aumento de 32% face ao ano anterior; segundo o estudo TGI da Marktest 3,3 milhões de portugueses têm cartão de pontos fornecido pelos postos de abastecimento e este número corresponde a 51% dos indivíduos que compraram combustíveis nos últimos 12 meses; em 2017 venderam-se mais 19 mil veículos que no ano anterior, um crescimento de 7,7%; o sistema Multibanco bateu todos os recordes de levantamentos e compras no Natal de 2017- só a 23 de Dezembro registaram-se mais de um milhão de operações avaliadas em 37 milhões de euros; directores de estabelecimentos de ensino de diversas zonas do país afirmam que há escolas que não conseguem ter verba para manter aquecidas as salas de aula; Marcelo Rebelo de Sousa, na mensagem presidencial de Ano Novo, a que teve maior audiência televisiva de sempre, exigiu o mesmo empenho do Governo nas missões essenciais do Estado que nas finanças e na economia.
ARCO DA VELHA - A PSP do Entroncamento apreendeu 564 cuecas CR7 falsificadas e a auditoria da ERC ao cumprimento do contrato de serviço público pela RTP em 2016 só foi conhecida nos últimos dias de 2017.
FOLHEAR - Stendhal, um pseudónimo de Marie-Henri Beyle, nasceu no final do século XVIII, em 1830 publicou a sua obra prima, “Le Rouge Et le Noir”, “O Vermelho e o Negro” - sem que haja grande explicação para a escolha do título, além do facto de o autor gostar de fazer jogos de palavras com cores. Uma das teorias é que o vermelho pode querer evocar o exército e o negro o clero. Na sua edição original o romance tinha por subtítulo “Crónica do Século XIX” e na realidade a obra é uma crónica da sociedade francesa na qual Stendhal retratou as ambições da sua época e as contradições de uma emergente sociedade de classes. “O Vermelho e o Negro”, ao introduzir numa narrativa muito directa a análise psicológica das personagens, lançou as bases para o desenvolvimento do romance moderno, influenciando muitos dos grandes autores, como Ernest Hemingway, que o considerava como um dos seus livros de eleição. “O Vermelho e o Negro” é a história de Julien Sorel, o ambicioso filho de um carpinteiro, de uma aldeia fictícia chamada Verrières, que tinha uma enorme admiração por Napoleão e pelos seus feitos militares. Sorel cedo se revela um alpinista social, trepando nas suas relações amorosas. Por recomendação do padre da aldeia torna-se perceptor dos filhos do “maire” e envolve-se com a sua mulher, o que dita o seu afastamento para Paris. Aí cedo conquista a filha do nobre de quem é secretário, acabando por a engravidar. Mais não vou contar, mas o fim da história ainda está longe e mete política e ciúme pelo meio. Podem agora ter oportunidade de ler esta obra incontornável na colecção de clássicos da Guerra & Paz, numa magnífica tradução de Rui Santana Brito, finalizada por Helder Guégués.
VER - Este ano aconselho-vos a dedicarem tempo a programarem uma visita a Londres, por forma a conseguirem seguir algumas das magníficas exposições que ali vão decorrer. A mais aguardada de todas talvez seja a dedicada a Picasso, que irá ser apresentada na Tate Modern: “Picasso 1932 - Love, Fame & Tragedy” que abre em 8 de Março e encerra a 9 de Setembro. Trata-se da primeira exposição que a Tate dedica exclusivamente a Picasso e nela estarão cerca de uma centena de obras - pinturas, desenhos e esculturas, acompanhadas por fotografias que documentam a vida pessoal do artista num ano particularmente marcante da sua vida, quando conheceu a sua musa e amante Marie-Thérèse Walter - e vão estar expostos três retratos de Walter, apresentados juntos pela primeira vez desde que foram feitos em 1932. No Victoria & Albert, de 16 de Junho a 4 de Novembro, é apresentada a exposição “Frida Khalo: Making Her Self Up”. Na Tate Britain, de 28 de Fevereiro a 27 de Agosto, estará patente a exposição “All Too Human: Bacon, Freud and a Century of Painting Life”. Passando para outra cidade e aqui ao lado, no Reina Sofia, em Madrid, estará uma exposição dedicada a Fernando Pessoa R“Todo Arte Es Una Forma de Literartura”, de 7 de Fevereiro a 7 de Maio. E no Museo Nacional Thyssen - Bornemisza teremos “Victor Vasarely - The Birth Of Pop Art” entre 5 de Junho e 9 de Setembro e uma exposição dedicada a Monet e Boudin de 26 de Junho a 30 de Setembro.
OUVIR - “Hitchiker” é um tesouro escondido no baú das memórias que Neil Young tem vindo a revelar. A 11 de Agosto de 1976, numa só noite, Neil Young, sózinho em estúdio apenas com a sua guitarra, gravou dez canções , algumas das quais permaneceram inéditas até agora. A sessão de estúdio nunca havia sido editada, foi lançada no final de 2017 com produção, discreta e suficiente, de David Briggs. É uma prova do enorme talento de compositor e do retratista de uma América que observa há décadas. 1976 foi o ano do bicentenários dos Estados Unidos, em que Jimmy Carter derrotou Gerald Ford e se tornou presidente, foi o ano em que nasceu Reese Witherspoon, em que morreu Phil Ochs, em que os Eagles gravaram “Hotel California” e em que estreou o filme “Rocky”. Em vez de embarcar nas comemorações do bicentenário, Neil Young, então com 30 anos, decidiu contar episódios da História mostrando-os sem os branquear - são o tema de várias canções como “Pocahontas”, “Powderfinger”, “Ride My Llama” ou “Captain Kennedy”. Algumas das canções aqui incluídas na versão original foram depois gravadas com versões alteradas, sobretudo na letra, como “Campaigner”. E há também momentos intensamente íntimos, como a balada “Give Me Strength”, que é uma janela aberta sobre a sua própria vida na época ,ou o retrato que faz do que vê à sua volta na faixa título “Hitchiker”. Mais que um baú de tesouros este é um disco que mostra a essência do processo criativo de um dos maiores músicos do nosso tempo. CD Reprise, distribuição Warner.
PROVAR - O restaurante Vela Latina nasceu em 1988 e durante várias décadas destacou-se pela sua cozinha, pelo serviço, pela garrafeira e, claro, pela localização junto à Torre de Belém. Em meados do ano passado sofreu obras profundas que alteraram todo o espaço, criaram um novo bar, um restaurante de inspiração entre a cozinha peruana e japonesa (o Nikkei) e, remoçaram a sala do clássico Vela Latina. A decoração foi muito melhorada, está muito mais luminoso, com a vista para a doca e o rio a ser mais aproveitada, com a criação de novos espaços num varandim e em esplanadas quando o tempo permite. A cozinha continua marcada pela gastronomia portuguesa e pela qualidade dos produtos. Aqui estão clássicos da Vela Latina como os rolinhos de linguados com gambas, os filetes de pescada com risotto de alcachofras e os fígados de aves sobre tarte de maçã, além do arroz de coentros com lagosta e do lavagante fresco com salada de espargos verdes. O cuidado na confecção permanece intocado, a garrafeira continua a ter boas opções para uma gama variada e razoável de preços. Alguns dos antigos empregados de sala continuam no seu posto, com um atendimentoexemplar. O bacalhau à braz passou a estar disponível todos os dias, volta e meia há vieiras braseadas e risotto de berbigão e salsa., Nas sobremesas as farófias continuam a ser referências, assim como continua disponível a finíssima tarte de maçã com gelado de baunilha. A Vela Latina fica na Doca do Bom Sucesso, dispõe de ajuda ao estacionamento e o telefone é 21 3017118.
DIXIT - “No limite, até poderia, porventura, aventar-se a hipótese de inconstitucionalidade formal” - Jorge Miranda sobre o processo que levou à aprovação das alterações ao financiamento dos partidos na Assembleia da República.
GOSTO - O presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, elogiou a “mensagem construtiva” que acompanha o veto do chefe de Estado à lei do financiamento dos partidos por não ceder ao discurso populista antiparlamentar e antipartidos
NÃO GOSTO - O PCP disse que a Lei do Financiamento dos Partidos, que reduz o IVA e aumenta os donativos políticos, está a ser alvo de uma “insidiosa campanha antidemocrática” de contornos populistas à qual o Presidente da República teria cedido.
BACK TO BASICS - “É absurdo dividir as pessoas em boas ou más; as pessoas ou são encantadoras ou são aborrecidas” - Oscar Wilde.
TEMPOS - Em 2017 os primeiros nascidos da Geração Z completarão 21 anos. Vieram ao mundo em 1996, ao mesmo tempo que o Google. Fazem já parte integral do universo digital. Mais do que isso, de um mundo onde a comunicação é constante, disponível em qualquer lugar, como nunca antes deles. No bolso levam computadores mais potentes que os PC’s do ano em que nasceram. Fotografam, escrevem e filmam com eles. Acessoriamente também os usam para telefonar. Comunicam entre si por sistemas de mensagens. Da mesma forma que a geraçaão nascida nos anos 60 ouvia música em transistores fanhosos, e a dos anos 80 andava de walkmans atrás, esta geração ouve e vê em streaming e partilha a vida online. Acompanharam o nascimento do Facebook em 2004, do Twitter em 2006, do iPhone em 2007 (e depois começaram os outros smartphones...), do Instagram em 2007, do whatsapp em 2009. Muitos vêem mais video, filmes e séries nos ecrãs dos telemóveis, tablets e laptops que nos aparelhos de televisão tradicionais. Para uma percentagem importante o canal principal de imagem é o YouTube, que nasceu em 2005. Se olharmos bem para estas datas, estamos perante uma geração que assistiu e cresceu a par com o novo mundo digital e móvel. Em Portugal, actualmente, segundo a Marktest, 35% das páginas dos sites são acedidas através de equipamentos móveis. Entre estes equipamentos, os acessos por smartphone representaram 30% , enquanto os tablet foram responsáveis por 5% dos pageviews. Para usar uma expressão da consultora de inovação Fabernovel, a GAFAnomics (o sistema económico desenvolvido pela Google, Apple, Facebook e Amazon) já é coisa corrente e agora está a crescer uma nova economia, onde a inteligência artificial, a realidade aumentada, os carros autodirigidos de motores eléctricos e a segunda geração da conquista espacial estão ao virar da esquina do tempo. É uma geração que, no dia a dia, nas marcas, valoriza a atracção, a relação que se estabelece, a prontidão na resposta e a capacidade de crescimento. É este o próximo desafio. 2017 está aí e é a porta aberta para o Futuro.
SEMANADA - Numa reunião do PS o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, comparou as conversações na concertação social a uma negociação numa feira de gado; dias depois veio pedir desculpa, mas só após diversas entidades terem manifestado o seu desagrado; os protestos vieram de parceiros da concertação social e de negociantes de gado; os combustíveis estão a aumentar há cinco semanas; ao longo deste ano os acidentes de viação provocaram um morto por semana; no ano passado existiam 176 docentes contratados por universidades portuguesas que não recebiam qualquer remuneração; sobre este facto o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, disse estar "tranquilo" e considerou que a situação de docentes a trabalhar nas faculdades sem remuneração "é normal"; nos dez primeiros meses do ano foram comunicadas ao Ministério Público quase 4300 alertas por suspeitas de branqueamentos de capitais; segundo a Polícia Judiciária António Palolo é o pintor português mais falsificado de sempre; o Presidente da República sublinhou que a Justiça nacional “é ainda muito lenta”; em 2017 Lisboa vai ser a capital ibero-americana da Cultura; o Governo autorizou por estes dias a transferência de mais de meio milhão de euros para quatro autarquias governadas pelo PS - Proença-a-Nova, Arruda dos Vinhos, São Pedro do Sul e Penamacor.
ARCO DA VELHA - Familiares directos do presidente da Câmara de Gaia, e do vice-presidente, a adjunta da presidência e autarcas de juntas de freguesia, todos com responsabilidades políticas no PS, integram a direcção, remunerada, de três das principais instituições de solidariedades social do concelho, a quem a autarquia entregou o negócio dos Ateliers de Tempos Livres (ATL) nas escolas, que antes eram geridos pelas associações de pais.
FOLHEAR - Desde 2014 a equipa editorial da Monocle começou a publicar em Dezembro uma edição especial, autónoma, a que chamou “The Forecast”, porque explora tendências. Há duas semanas saíu a terceira edição e o tema de capa deste novo “The Forecast” é o evoluir da comunicação entre as pessoas, com base no princípio de que nada substitui uma boa conversa. Tal como a “Monocle”, a publicação não tem uma conta de Facebook - para sublinhar o seu apego à continuada importância do papel impresso como forma de comunicação. “The Forescast” é quase um livro - tem 210 páginas em bom papel, e incorpora um suplemento adicional de 50 páginas sobre 100 ideias, destinos, design e descobertas que vale a pena fazer em 2017. Na declaração de princípios deste “Monocle 100”, uma frase define tudo: “Na paisagem digital acontece o expectável; no mundo real, cara a cara, pés no chão, coisas inesperadas e interessantes acontecem”. A primeira imagem deste “Monocle 100” é da Praia da Arrifana, em Aljezur. Nada substitui ir ao sítio, falar com as pessoas, olhos nos olhos, à volta de um café ou de uma refeição - esse é o mote de toda esta publicação. “The Forecast” sublinha que uma reportagem não se faz através da internet - faz-se indo aos locais, falando com as pessoas - uma verdade básica que por vezes hoje é esquecida. Temas imperdíveis: como envelhecer bem, a importância do transporte automóvel na vida das cidades, exemplos de boa televisão na Dinamarca e na Alemanha. Custa 18 euros e vale a pena - é boa companhia para muitas horas.
VER - A Galeria Quadrado Azul, criada por Manuel Ulisses, foi buscar o seu nome à revista fundada por Almada e Amadeo no tempo do futurismo. A Galeria Quadrado Azul nasceu no Porto em 1986 e abriu outras portas em Lisboa, em 2006. Para assinalar os 30 anos de actividade Manuel Ulisses, apresenta nas Quadrado Azul do Porto e Lisboa duas exposições colectivas, comissariadas por Miguel Von Hafe Pérez, ambas com o título genérico QAXXX. A de Lisboa (na imagem) fica até 14 de Janeiro e a do Porto até 25 de Fevereiro. Em ambas estão expostas obras de artistas que marcaram a actividade da Galeria, como Alberto Carneiro, Álvaro Lapa, Ângelo de Sousa, Artur Barrio, Candice Lin, Fernando Lanhas, Francisco Tropa, Hugo Canoilas, José de Guimarães, José Pedro Croft, Mica Tajima, Paulo Nozolino, Pedro Tropa, Susana Solano e Renato Ferrão, entre outros. Porto: Rua Miguel Bombarda 553; Lisboa: Rua Reinaldo Ferreira 20A, Alvalade. Outras sugestões: reabriu o Museu de Arte Popular com a exposição “da fotografia ao azulejo”, até 1 de Outubro de 2017. A exposição mostra aspectos de Portugal e de tradições regionais, tomando como ponto de partida o azulejo e a imagem fotográfica que muitas vezes o inspira. Finalmente se passarem por Elvas, até 16 de Abril, não percam no Museu Colecção António Cachola Rua da Cadeia) a exposição “Crystal Clear”, de Augusto Alves da Silva, uma das melhores mostras de 2016.
OUVIR - Aos 71 anos Neil Young continua a surpreender. Está a tornar-se comum descobrir como alguns nomes do rock conseguem manter o seu espírito criativo tão aceso durante tanto tempo, e no entanto isto não é surpresa noutras artes - basta ver Clint Eastwood no cinema ou David Hockney nas artes plásticas para ter bons exemplos disso mesmo. A carreira musical de Neil Young começou há 50 anos, com os Buffalo Springfield mas a fama a sério veio com Crosby, Stills, Nash & Young. Ao longo da sua carreira Neil Young sempre gostou de abordar temas políticos e sociais e o seu novo álbum, “Peace Trail” é musicalmente oriundo dos blues e do rock (logo a começar pela sua inconfundível guitarra) e tematicamente relata situações concretas na política americana e na situação mundial, um pouco como um jornal de actualidades cantado. Há duas canções que fogem desse universo - “Can’t Stop Working” explica porque é que aos 71 anos ele continua a gravar discos atrás de discos e como isso é fundamental para se sentir vivo; e a faixa final, “My New Robot”, explora sonoridades electrónicas que fazem lembrar o seu álbum Trans. “Mr Pledge” fala das pessoas já com alguma idade que “caminham com os seus olhos postos num ecrã” - é uma metáfora dos tempos modernos. “Indian Givers”, “Texas Rangers”, “Show Me” e “John Oaks” são outras canções a reter neste disco onde Young conta com a participação do baterista Jim Keltner e do baixista Paul Bushnell. Musicalmente "Peace Trail" é dos seus melhores trabalhos dos últimos tempos. Pode ouvir no Spotify, onde Young finalmente autorizou que a sua obra fosse acessível.
PROVAR - Estou fã da Mercearia dos Açores e da Loja Açores, estabelecimentos inteiramente dedicados aos produtos do arquipélago. Na Baixa, Rua da Madalena 115, fica a propriamente dita Mercearia dos Açores e junto a Picoas, na Rua Viriato 14, fica a Loja Açores. O destaque vai para os diversos queijos dos Açores, que são dos melhores de Portugal e também para a belíssima manteiga Rainha do Pico. Bolo lêvedo, doces artesanais (de amoras, maracujá, physalis, ananás ou capucho, entre outros), biscoitos de canela, chá Gorreana nas suas várias qualidades e numerosas conservas das melhores marcas açorianas - nomeadamente as Santa Catarina, da ilha de S. Jorge, com atum temperado com gengibre, funcho, tomilho ou tomate picante são incontornáveis. A loja da Rua da Madalena é maior, mas a das Picoas tem também os principais produtos. E se não estiver em Lisboa pode sempre usar a loja online em www.merceariadosacores.pt. Há também um belíssimo patê de atum com oregãos e flocos de atum temperados, ideais para sanduíches. Entre as bebidas destaque para os vinhos do Pico, nomeadamente os brancos, e para o Gin Goshawk. Na charcutaria prove o chouriço picante ou a morcela de S. Miguel. Uma visita à loja online mostra bem a diversidade de produtos disponíveis.
DIXIT - “O PM faz o discurso de Natal numa creche. O PR comenta, lamentando, a morte de George Michael. O MNE chama gado aos parceiros sociais. Alguém consegue levar os nossos governantes a sério? Mais grave, será que eles se levam a sério?” - João Marques de Almeida, no Facebook
GOSTO - As subvenções públicas aos partidos políticos e às campanhas eleitorais vão ser reduzidas em definitivo em 10% e 20%
NÃO GOSTO - A dívida pública portuguesa chegou ao fim de 2016 com um significativo aumento face a 2015.
BACK TO BASICS - Jamais haverá ano novo se continuarmos a copiar os erros dos anos velhos - Anónimo
DÚVIDAS - Nas eleições presidenciais do próximo Domingo tenho apenas estas duas dúvidas: Como evoluirá a abstenção em relação a anteriores eleições para a Presidência da República? Conseguirá Marcelo Rebelo de Sousa ser eleito à primeira volta? As duas perguntas, no fundo, estão ligadas - já que uma variação sensível da abstenção, no sentido do seu aumento, pode colocar uma decisão logo à primeira volta mais difícil. Se no entanto não existir uma evolução sensível da abstenção, e se a eleição ficar decidida já no Domingo, então estaremos perante um caso em que a mais estranha e cinzenta das campanhas produziu resultados. Eu há meses que decidi em quem irei votar (e aqui deixo dito que será em Marcelo Rebelo de Sousa), mas fico surpreendido pela forma como todas as candidaturas usaram de forma rotineira a internet, abdicando de um território online interactivo e criativo, apenas com conteúdos meramente informativos sem grande chama - menosprezando assim a possibilidade de comunicar eficazmente com a geração que tem entre 18 e 25 anos, segmento demográfico onde a abstenção é maior, e que provavelmente poderia votar pela primeira vez para a Presidência. Outra coisa que esta campanha mostrou é que o modelo dos debates em rádio e televisão, com todos os concorrentes, está esgotado. As audiências foram fracas, o esclarecimento foi próximo do zero. Cada debate limitou-se a ser uma montra de chavões e, por vezes, de pequenas disputas, maioritariamente sem interesse. O debate de televisão alargado, de terça feira à noite, na RTP1, obteve um share de audiência de 11,3%. No mesmo horário, nesse dia, a SIC registou 24,8% e a TVI obteve 29,7%. O conjunto dos canais de cabo teve 24,1% . Em termos práticos a média de espectadores durante o debate ficou nos 564 mil espectadores. Não entrou sequer no Top 15 dos programas mais vistos do dia. É curto e poderá ser a maior prova de que a liberdade editorial deve prevalecer sobre as imposições do sistema, estabelecidas há mais de 40 anos, quando o consumo dos media era completamente diferente do que é hoje.
SEMANADA - Os juros da dívida portuguesa já começaram a subir por efeito das medidas mais recentes do Governo; o risco dos bancos portugueses disparou após as intervenções recentes no Novo Banco e Banif; alguns dos maiores Bancos do mundo reuniram-se esta semana para coordenarem a oposição às decisões do Banco de Portugal no caso das obrigações do Novo Banco; o prémio de risco português está a atingir máximos, reflexo da fuga de investidores em dívida da República; também fruto da saída de investidores, a Bolsa portuguesa está em queda, tendo perdido mais de 12% já este ano; a dívida da Parque Escolar está perto dos mil milhões de euros; um estudo do Commerzbank defende que medidas do Governo de António Costa põem em causa "a competitividade" e o ‘rating’ de Portugal e alerta para hipótese de um novo resgate; Bruxelas exigiu ao Governo um corte no défice para um valor abaixo dos 2,8% previstos pelo executivo; a CGTP vai ficar de fora do acordo de concertação social promovido pelo Governo; Catarina Martins, a propósito do Orçamento de Estado, disse que a Comissão Europeia não tinha percebido que em Portugal o Governo era de esquerda; Jerónimo de Sousa avisou que acordo com António Costa pode cair se houver recuo nas medidas acordadas; António Costa avisou Bruxelas que não abdica de promessas eleitoriais e disse que a negociação com Bruxelas estava a ser difícil; o contrabando de tabaco vindo do Leste já provocou ao Fisco perdas de 6,3 milhões de euros; as insolvências de empresas aumentaram 7,6% em 2015 face ao ano anterior; só seis países têm a gasolina mais cara que Portugal; um estudo divulgado esta semana mostra que no sector privado, os trabalhadores por conta de outrem ganham, em média, 1.140,4 euros, menos do que os funcionários públicos, e o vencimento das mulheres é inferior ao dos homens em mais de 20%; sinal dos tempos: em Portugal o filme “A Queda de Wall Street” superou em receitas de bilheteira o mais recente “Star Wars”.
ARCO DA VELHA - O embaixador em Paris, Moraes Cabral, ex chefe de gabinete de Jorge Sampaio, negou autorização para que o artista português, Tony Carreira, recebesse na embaixada de Portugal a condecoração “Chevalier de l’Ordre des Arts et des Lettres”, que lhe foi atribuída pelo Ministério da Cultura de França. A ideia de receber a condecoração na embaixada foi do cantor, já que havia precedentes em casos semelhantes. O embaixador Cabral não achou adequado. O Ministro dos Negócios Estrangeiros, S. Silva, comentou o assunto dizendo que um dos seus sonhos era assistir a um concerto de Carreira.
FOLHEAR - Neste tempo de coisas imediatas, uma das revistas mais curiosas que descobri chama-se “Delayed Gratification”, vai no seu 20º número e apresenta-se como “The Slow Journalism Magazine”. Criada em 2011 a revista, editada quatro vezes por ano, não dá notícias, mas investiga e desenvolve factos que decorreram num trimestre anterior. O objectivo é ganhar distância em relação à actualidade, deixar passar a espuma dos dias, reflectir sobre os factos, fazer investigação, preparar cuidadosas infografias, fazer análise, publicar opinião contextualizada, editar fotografia com cuidado. Podem descobrir mais sobre esta publicação em www.slow-journalism.com . O Huffington Post considera “Delayed Gratification” como “uma fantástica publicação que ajuda a colocar os acontecimentos em perspectiva”. É assim como um almanaque sobre um passado ainda próximo, mas que nos permite encará-lo de outra forma.
VER - Nesta semana destaco a exposição «The behaviour of being» de Pauliana Valente Pimentel, que está na Galeria das Salgadeiras até 5 de Março (Rua da Atalaia 12 a 16, ao bairro Alto). «The behaviour of being» é fruto de uma residência em que Pauliana Valente Pimentel participou em Junho de 2015, no Algarve, juntamente com outros 12 artistas internacionais, uma organização da “The Beekeppers” and “The Cob gallery”. A exposição foi apresentada nesta reconhecida galeria londrina em Setembro último e retrata um ambiente de produção artística colectiva, fora dos grandes centros urbanos. Anteriormente Pauliana Valente Pimentel tinha desenvolvido «The Passenger», em que retratou uma viagem de comboio com diversos artistas pela Europa e, depois, «Jovens de Atenas», um olhar sobre a juventude grega durante a crise que atingiu o país. Paulina Valente Pimentel tem desenvolvido um olhar fotográfico muito particular sobre momentos aparentemente banais, num tom intimista que evoca quase a estética dos velhos álbuns pessoais de fotografia familiar ou de viagem.
OUVIR - Tenho uma tendência para gostar de todos os discos de Neil Young - ele é a coisa mais próxima do indiscutível que conheço, musicalmente falando. Há poucos dias recebi via Amazon o duplo CD Neil Young And Bluenote Café, uma edição de final de 2015 saída dos arquivos do músico. Aqui estão gravações realizadas ao vivo em 1968 durante a digressão de Young com os Bluenote Café um pouco por todos os Estados Unidos e Canadá. Ao todo são 23 canções - sete delas até agora inéditas em disco e ainda uma versão de19 minutos do clássico “Tonight’s The Night”, que encerra o CD2 deste álbum - uma versão gravada em Nova York “numa noite louca”, como está dito nas notas de capa. Os Bluenote Café eram uma banda de nove músicos que, além do baixo, bateria e teclas incluía uma secção de seis metais. Esmagador é mesmo a única palavra que me ocorre para este álbum que me tem acompanhado nestas semanas.
PROVAR - Uma das mais inesperadas e mais úteis prendas que recebi ultimamente foi um objecto que dá pelo nome de “spiralizer”. Há-os de vários formatos mas aquele que eu prefiro, e que foi o que recebi, é uma espécie de afia lápis gigante onde se podem colocar courgettes ou pedaços de abóbora por exemplo, rodando-os como um lápis num afia. O resultado surge com a forma de fios de esparguete, só que é vegetal. A minha preferência vai para o “esparguete” de courgette: uma vez cortado salteio levemente, em azeite, tempero com gengibre, sal, pimenta e cebolinho. Muitas vezes junto tomate cherry biológico cortado aos quartos e no fim adiciono ou atum de lata (ao natural) desfeito grosseiramente, ou pedaços de frango assado ou grelhado. Também fica muito bem como suporte a um tradicional molho de bolonhesa. Conte com courgette e meia por pessoa. Pode encomedar na Amazon, onde encontra vários modelos destes aparelhos.
DIXIT - “Não uso a palavra corrupto, não gosto da fonética, é um bocado apardalada” - Bruno de Carvalho, numa entrevista à RTP 3
GOSTO - A editora Guerra & Paz iniciou a publicação de três obras históricas e polémicas, em novas edições particularmente cuidadas do ponto de vista gráfico: o “Manifesto Comunista” de Marx e Engels (já à venda), o “Mein Kampf” de Adolf Hitler e o “Livro Vermelho” de Mao Ze Dong. Todas as obras têm um texto de introdução e contextualização do editor Manuel S. Fonseca.
NÃO GOSTO - O Ministério dos Negócios Estrangeiros comprou por cerca de cem mil euros um faqueiro alemão para eventos protocolares, em detrimento de diversos fabricantes portugueses que podiam fornecer idêntico material.
BACK TO BASICS - “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original” - Albert Einstein
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