(Publicado no Diário Meia Hora de dia 23 de Junho)
Num destes dias passei pela primeira vez, desde que o trânsito ali reabriu, num taxi, frente ao Terreiro do Paço, a caminho do Cais do Sodré. Nem queria acreditar no que estava a ver – um misto de desolação com uns bocados de plástico pacóvios pelo meio. A coisa é indescritível - no meio das obras há uma instalação, que se situa visualmente a meio caminho entre carrinhos de choque das feiras e contentores para recolha de recicláveis, com uns arbustos de árvores raquíticos a saírem lá de dentro – numa referência ecológica bacoca. As peças, muito coloridas, estão dispersas em dois ou três sítios, sem lógica, sem dimensão para todo aquele espaço. Parecem apenas ridículas, na provocação gratuita, na ausência de sentido ou contextualização. Parece que esta intervenção terá custado 70 mil euros, pelo menos é o que leio na imprensa, a mesma onde também leio que esse o arco da Rua Augusta se degrada aceleradamente por falta de verbas para a sua recuperação.
Quando o táxi avança um bocadinho entra numa espécie de slalom entre o Terreiro do Paço e o Cais do Sodré, com faixas estreitas, na Ribeira das Naus, num traçado incompreensível, que vai de certeza dar muitos problemas – a razão do desvario e da estreiteza das faixas é o alargamento desproporcional dos jardins existentes. O taxista que me conduzia abanava a cabeça em ar de reprovação, todas as pessoas com quem tenho falado não entendem o que ali se passa, nem o seu significado, tão pouco o objectivo.
Para além da verborreia demagógica contra o trânsito automóvel (duplamente demagógica porque o município cobra uma bela colecta em impostos aos automobilistas que vivem na cidade), o que está a ser feito na Ribeira das Naus e no Terreiro do Paço é um espelho do poder arbitrário, da falta de bom senso e, estou em crer, de uma grande dose de incompetência.
Uma zona nobre da cidade de Lisboa está entregue a pinderiquices, a projectos de intervenção que causam polémica generalizada, tudo feito por obra e graça de uma Sociedade Frente do Tejo, criada pelo Governo perante a passividade de António Costa, e que, muito curiosamente, vai poder contratar empreitadas e adquirir bens e serviços por ajuste directo, sem concurso público, até 5,120 milhões de euros, um valor cinco vezes superior ao limite máximo previsto no Código dos Contratos Públicos. Não há um cheiro a podridão em tudo isto?