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COISAS DO ANO QUE ESTÁ A ACABAR

por falcao, em 30.12.15

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PRESIDENTE - Se há alguém que no sistema político português precisa de ter uma apurada sensibilidade política e uma capacidade negocial e de influência considerável, esse alguém é o Presidente da República. Um Presidente não pode ser um anti-político nem um tecnocrata - a sua função é conciliar os cidadãos com o país, os dirigentes partidários com os seus eleitores, os governantes com o equilíbrio e o bom senso. Quem conseguir desempenhar assim o seu mandato, ficará na História, já que nestas últimas quatro décadas, e sobretudo nas duas últimas, com Sampaio e Cavaco, andou-se bem distante de tudo isto que um Presidente deveria ser. Quando o Governo não tem a sensibilidade social no seu DNA cabe ao Presidente fazer-lhe esse diagnóstico e recordar que a sociedade só pode evoluir a bem e nunca à força. Vem tudo isto a propósito das reflexões que o caso da morte ocorrida no Hospital de S. José despoletaram. Um Presidente que exerça o seu mandato deve ponderar a forma como são feitos cortes orçamentais em sectores essenciais, sobretudo quando se constata que os cortes verificados no sector da saúde não são nada quando comparados com o custo suportado pelos contribuintes em sucessivos escândalos com bancos ao longo dos últimos anos. Independentemente das guerras corporativas que também explicam o mau funcionamento de alguns hospitais, e em particular este caso, esta frase, dita por Marcelo Rebelo de Sousa numa visita recente ao Hospital de S. José, é o melhor manifesto eleitoral de qualquer dos candidatos presidenciais: “Pode-se poupar em muita coisa, mas poupar na saúde dos portugueses não é um bom princípio para quem quer afirmar a justiça social e construir um Estado democrático mais justo".

 

SEMANADA - Em 2015 os piropos tornaram-se crime puníveis até três anos de prisão, no seguimento de uma proposta legislativa do PSD; em contraste, os piropos recíprocos entre PS, PCP e Bloco deram na formação de um Governo;  nos últimos quatro anos 400 mil portugueses emigraram, tantos quanto a totalidade dos emigrantes nos últimos 40 anos; ao fim do primeiro mês de Governo PS, o PSD viabilizou o orçamento rectificativo apresentado por António Costa e disse que não quer crises políticas; Paulo Portas anunciou que abandona a liderança do PP; nos últimos quatro anos os serviços básicos subiram 25% e os salários nem 2%; um em cada onze empregos em todo o mundo está no sector do turismo; em 2014 a Cultura representou 1,7% da riqueza produzida em Portugal, próxima de sectores como as telecomunicações, que representaram 1,9%, enquanto a construção valia 4%; as duas principais operadoras de telecomunicações   anunciaram, nos últimos dois meses do ano, investimentos de quase novecentos milhões de euros em direitos de transmissão de jogos de futebol, valor que deverá ainda subir nas próximas semanas;  para começar bem o novo ano o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário convocou uma greve para sexta-feira dia 1 de Janeiro.

 

ARCO DA VELHA - A Refer foi condenada a pagar uma  indemnização de 80 mil euros a um seu ex-funcionário que foi despedido da empresa, por  falsificar pesagens de carris a favor do sucateiro Manuel Godinho. O mesmo ex-funcionário foi condenado a cinco anos e três meses de prisão pelo Tribunal de Aveiro, no âmbito do processo Face Oculta. Mesmo assim a empresa terá de o indemnizar por um outro tribunal o ter considerado despedido sem justa causa.

 

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FOLHEAR - Este ano que passou trouxe-nos alguns factos curiosos em matéria de leituras. Se é certo que a queda de circulação das edições impressas dos jornais diários continua a verificar-se, também é certo que o tempo médio gasto na leitura das suas edições digitais tem aumentado, sobretudo nas suas versões para dispositivos móveis. Por outro lado, e curiosamente, além das notícias de actualidade, os artigos mais longos, mais explicativos - aquilo que se enquadra na classificação de “long reading”, estão a captar mais leitores. Hoje em dia, numa edição digital, é possível ver quais os artigos e os assuntos que os leitores vão ler com maior frequência, mas também aqueles a que consagram maior tempo de leitura. Finalmente as publicações digitais mais actualizadas desenvolveram sistemas de interacção com os seus leitores, baseadas no que são o comportamento e as preferências típicas de cada um. Um dos mais flagrantes exemplos disso vem de um facto recente: apesar da sofisticação técnica e da qualidade do jornalismo do New York Times, e que o levou a ser um exemplo e um líder mundial na imprensa digital, nos últimos meses o Washington Post tem alcançado números de circulação digital já superiores ao do NYT. Para compreender o porquê desta surpreendente recuperação do WT é preciso andar um pouco para trás, quando o criador da Amazon, Jeff Bezos (na imagem), o adquiriu. Sem grandes alardes nem ruído, com uma reestruturação interna relativamente pequena e sem interferências conhecidas na sua orientação editorial, a verdade é que Bezos mudou uma coisa: o departamento digital do WT foi alvo do trabalho dos engenheiros e programadores da Amazon, que criaram sistemas de rastreamento e acompanhamento de cada leitor digital do jornal, fornecendo-lhes sistematicamente sugestões e envolvendo-os cada vez mais - tal como a Amazon faz aos seus clientes. Os resultados estão à vista, ao fim de poucos meses. Na maior parte dos indicadores digitais o Washington Post supera agora o New York Times. Começa a perceber-se o que Jeff Bezos queria fazer. Aguardam-se os próximos episódios.

 

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VER - Fundado em 1774, o British Museum tornou-se numa referência mundial. Recentemente fez uma parceria com o Google Cultural Institute e dessa parceria saíu um novo site do museu, que é absolutamente revolucionário e permite que, em qualquer ponto do mundo, a partir de um computador, tablet ou smartphone, se possa literalmente percorrer o interior do museu, voltando atrás ou parando frente a uma obra. O novo site fez do British Museum o maior espaço coberto visível pelo Google Street View , a tecnologia que permite visitar os nove andares e 85 galerias permanentes do museu, exibindo cerca de 80.000 peças, tal como ela estão apresentadas ao público no local. Adicionalmente foi construída uma timeline que incorpora cerca de 4500 objectos ao longo da cronolgia,  que permite ampliações de cada uma das peças e a sua localização nas épocas da História em que foram produzidas. Se quiser visitar este British Museum virtual basta ir a www.google.com/culturalinstitute/collection/the-british-museum .

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OUVIR - Neste Natal os responsáveis pelo catálogo dos Beatles disponibilizaram finalmente todas as suas gravações nas plataformas de streaming - Spotify, Apple Music, Google Play, Amazon Prime, Slacker, Tidal, Groove, Rhapsody e Deezer. Independentemente da plataforma utilizada o streaming é a nova forma de ouvir música que cada vez cativa maior número de utilizadores - e este ano o lançamento da Apple Music veio alargar ainda mais esta tendência. Eu continuo a comprar discos e a ouvir CD’s, mas muitas vezes vou primeiro ouvir um disco acabado de lançar em streaming a ver se vale a pena. Por exemplo, já fui ouvir uma das novas canções de David Bowie, “Lazarus” do álbum “Blackstar” que sairá em Janeiro. Depois fui à descoberta do quarteto do saxofonista Donny McCaslin, cujos músicos participam em “Blackstar” e em pouco tempo fiquei a perceber a nova direcção de Bowie, que aos 69 anos permanece sempre atento. No carro continuei a ouvir o Spotify com a gravação de um concerto de Rufus Wainright e quando à noite resolvi ler coloquei uma das playlists de jazz que o Spotify me propõe. O iPad ou o iPhone que utilizo estão ligados ao sistema de som do carro e ao de casa por Bluetooth. E as minhas descobertas de novas músicas, de repente, ficaram mais fáceis.

 

PROVAR -  Portugal vai tendo novos bons restaurantes, há mais chefs portugueses que são apreciados e distinguidos com as ambicionadas estrelas Michelin, mas a verdade é que nas coisas mais simples, de dia-a-dia, há muito pouca inovação. Por exemplo, as sanduíches: comer uma boa sanduíche em Lisboa é difícil. Na esmagadora maioria dos casos apresentam-nos uma carcassa aborrachada - ou um pão de forma cheio de ar - com tímidas e transparentes fatias de fiambre ou de queijo indistinto. As mais das vezes nem o fiambre é do melhor nem o queijo passa do flamengo mais barato - mas são sempre em quantidade mínima. Numa terra de bons enchidos e fumados são raras as casas que apresentam uma sanduíche que misture um bom paio ou uma boa paiola, em quantidade honesta, com um pão fresco e estaladiço de qualidade, que possa também receber um queijo da ilha ou um queijo de serpa curado, enriquecido por algum legume adequado e com algum tempero que passe da simples manteiga - e isto quando escapamos ao calvário da margarina. Recordo om inveja as fotografias das sanduíches de abundante pastrami, em pão estaladiço. Os cafés e as cafetarias portuguesas não sabem usar os nossos melhores produtos para fazer uma sanduíche condigna e os nossos padeiros não sabem fazer um pão adequado a essa função - que não tenha demasiado miolo, que seja possível trincar sem deslocar o maxilar. Boas sanduíches, precisam-se.

 

DIXIT - “ O resultado, na minha opinião, foi desastroso” - Jorge Tomé sobre a medida de resolução aplicada ao Banif, que liderou.

 

GOSTO - Em 2014 os turistas deixaram em Portugal 32,6 milhões de euros por dia.

 

NÃO GOSTO - Da ineficácia, dos erros, dos disparates, da falta de bom senso, dos lapsos e dos atrasos de todo o sistema judicial, porventura o pior de todos os males do Estado português.

 

BACK TO BASICS - “Um optimista fica acordado para viver a entrada do novo ano; um pessimista quer ter a certeza que o ano velho se vai de vez” - Bill Vaughan

 

(Publicado no Jornal de Negócios de30 de Dezembro de 2015)

 

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