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DIFERENÇAS - O PSD debate-se com uma escolha que no fundo tem a ver com reviver o passado e manter o sistema como está, ou ser parte de um processo de modernização do sistema político. Rui Rio, apoiado essencialmente pela velha guarda, surge como uma garantia de continuidade do status quo partidário; Pedro Santana Lopes, que tem defendido a necessidade de rever o funcionamento do sistema político, surge como a proposta de ruptura e conta com apoios entre as gerações mais novas do seu partido. Há várias diferenças evidentes entre Pedro Santana Lopes e Rui Rio, mas esta semana foi colocada em evidência uma das maiores: a capacidade política e táctica e a maneira como é encarada a imagem pública do partido. Rio recusou desde o princípio da disputa a realização de debates com Santana Lopes e este, há dias, escreveu ao seu opositor e recordou-lhe o óbvio: como poderá o PSD no futuro, em eleições nacionais, reivindicar debates com o seu principal opositor se internamente os recusa? Rui Rio não teve outro remédio do que recuar e aceitar debater frente a frente. Chama-se a isto capacidade política e sentido táctico. O episódio mostra de forma cristalina os dois mundos que se confrontam dentro do mesmo partido: um, conservador, virado para dentro, sem rasgo nem visão; e outro, de mudança, virado para o exterior, que procura alargar o debate à sociedade, e que gosta de desafios. As eleições internas do PSD não são apenas um contar de apoios e espingardas distritais. São um momento para reflectir como um partido deve funcionar hoje em dia na sociedade contemporânea.
SEMANADA - Só este ano os 175 assaltos já verificados a máquinas multibanco renderam dois milhões de euros; um regulamento previsto na lei desde 2013 com medidas para evitar roubos nas máquinas ATM esteve quase cinco anos sem ser publicado; segundo o INE perto de 80% das famílias portuguesas têm acesso à internet e um terço já a usou para encomendar bens ou serviços, mais do dobro do início da década; segundo a Marktest, 3,8 milhões de portugueses têm o hábito de ler notícias através do telemóvel ou tablet mas há 2,7 milhões de portugueses que contactam com a imprensa exclusivamente em papel; há ainda 588 freguesias portuguesas sem acesso a banda larga no telemóvel; a Marktest contabiliza 3 milhões e 291 mil lares com Tv paga (cabo), o que corresponde a 81.4% dos lares portugueses e a penetração deste serviço tem revelado uma tendência crescente ao longo dos últimos anos, passando de 46.4% em 2006 para os 81.4% agora observados; ao aprovar o Orçamento de Estado para 2018 a Assembleia da República assumiu compromissos de aumento da despesa e de perda da receita para 2019 num total de 593 milhões de euros; o Bloco de Esquerda acusou o PS de deslealdade por quebra de compromissos relativamente ao Orçamento de Estado; o Ministro da Saúde avisou a Presidente do Infarmed da decisão da Mudança para o Porto dia 21 de Novembro, às oito da manhã, depois de ter recebido instruções nesse sentido, na véspera, do Primeiro Ministro, logo após se ter sabido que a agência europeia do medicamento não iria para o Porto; o Presidente da República defendeu esta segunda-feira que “a política clássica, longe das pessoas, ignorando a sociedade, sem inovação, está condenada” e lançou um apelo aos responsáveis políticos para que inovem e façam progredir os sistemas políticos.
ARCO DA VELHA - A direcção da casa dos Rapazes de Viana do Castelo suspendeu duas funcionárias que denunciaram maus tratos infligidos a crianças na instituição e manteve ao serviço os cinco acusados dessas práticas.
FOLHEAR - Um dos maiores problemas com que hoje em dia as empresas se deparam é conseguirem manter os seus melhores colaboradores - não só mantê-los na empresa, mas conseguir que estejam empenhados. Há uma geração, saída das Universidades há pouco tempo, que já não vive no conceito do emprego para toda a vida e que gosta de apostar na sua própria evolução. Para além das questões salariais, há sinais de reconhecimento e de estímulo que muitas vezes são tão importantes como um aumento. “Era Uma Vez Um Talento“, de Dalila Pinto de Almeida, reflecte, a partir de uma história real, sobre o que fazer para reter as melhores pessoas numa organização. Desde o diagnóstico que permite perceber como se caracteriza um talento no seio de uma empresa, até um guia para fazer o seu enquadramento na organização, promover o seu desenvolvimento e fazer o controlo regular da sua prestação, este livro é simultaneamente um relato de uma situação real e um manual informal para a acção de empresas que se preocupam com os seus quadros. Dalila Pinto de Almeida trabalha em Consultoria Organizacional há 25 anos, com especialização em Executive Search e Coaching de Executivos. Para além da sua empresa, DPA Consultoria, integra a THNK School Of Creative Leadership como Leadership Coach e vai escrevendo regularmente no seu blog Telescópio. Este livro, agora editado pela Vida Económica, acaba por pegar em temas que a autora foi abordando nos seus posts. Aqui chegado devo fazer uma declaração de interesse: acompanhei a preparação do livro desde o início. E continuo a achar que foi uma bela ideia. E uma bela história.
VER - O Museu de Arte Popular acolhe até 27 de maio a primeira grande exposição realizada em Portugal do artista gráfico holandês Escher. Mauritus Cornelis Escher tornou-se conhecido pela sua técnica de xilogravuras, litografias e meios-tons que mostram construções aparentemente impossíveis, utilizando padrões geométricos cruzados que evoluem para formas completamente diferentes, muitas vezes criando efeitos que exploram ilusões de óptica. No seu trabalho procurava representar o espaço, tridimensional, no plano bidimensional que cabe na folha de papel e neste processo criava imagens impossíveis e com o seu quê de surrealismo. Escher nasceu no final do século XIX e morreu em 1972, mas foi sobretudo nos anos 60 que a sua obra ganhou notoriedade e projecção, apesar de o seu trabalho ter sido muitas vezes rejeitado e menosprezado como uma forma menor de expressão artística. Foi um influente artista numa rara simbiose europeia entre o surrealismo, a pop art e o psicadelismo e a sua colaboração com músicos e grupos nos anos 60 é assinalável. A presente exposição conta, além das duas centenas de obras, com um conjunto de equipamentos didáticos e de experiências científicas, que possibilitam rever o percurso criativo de Escher Entre os trabalhos apresentados nesta exposição, encontram-se obras como este “Vínculo da União”, de 1956, aqui reproduzida. Museu de Arte Popular, Avenida Brasília, todos os dias das 10 às 20h00. Se estiver no Porto não perca “José de Almada Negreiros - Desenho em Movimento”, no Museu Nacional Soares dos Reis até 18 de Março do próximo ano. A exposição, que a Gulbenkian organizou em Lisboa há uns meses chega agora ao Porto.
OUVIR - A primeira vez que fui a Los Angeles quis ir ver onde ficava o Hotel California. Conhecia-o de ser protagonista de uma canção dos Eagles a que volta e meia regresso . Localizado em Santa Monica, bem perto do mar, o Hotel mudou entretanto de designação e agora chama-se Sea Blue, um nome sem nenhuma graça - parece um detergente. Retenho ainda a imagem dele com o nome original e, claro, as nove canções do álbum homónimo dos Eagles, editado no fim de 1976 ou princípio de 1977, dependendo do local de lançamento. Seja como fôr lá vão passados 40 anos sobre a sua edição. Foi o quarto LP dos Eagles e o seu primeiro grande sucesso. Aqui estão temas como “Life In The Fast lane”, “There Is A New Kid In Town” e, claro “Hotel California”, a canção que deu o título ao álbum. Don Felder, Don Henley, Glen Frey, Joe Walsh e Randy Meisner são os nomes que fizeram dos Eagles uma banda de culto na década de 60, uma referência musical na costa oeste dos Estados Unidos, um bom bocado antes de ser Silicon Valley a brilhar ali em vez da música. Para assinalar os 40 anos da edição original foi agora publicado um duplo CD em que, para além do LP original, se inclui um segundo CD com dez temas gravados ao vivo em diversos locais da digressão da banda em 1976 - e que incluem temas da fase anterior da carreira dos Eagles. A gravação e mistura respeitam o ar do tempo e dão uma boa ideia do que poderia ser um concerto da banda nesses anos. Bem sei que sou fã dos Eagles, mas esta edição é mesmo uma preciosidade.
PROVAR - O sítio existe já há uns anos, é discreto e confortável. Fica na Rua Bartolomeu Dias, entre os Jerónimos e a Torre de Belém e o seu nome - Descobre - tem a ver certamente com a evocação do local. Para além das salas, quando o tempo está de feição, há também uma esplanada. Na entrada fica uma mercearia e garrafeira com bons produtos portugueses, desde vinhos raros à ginginha de Lisboa. A ementa tem sugestões para picar, pratos vegetarianos, saladas e propostas de carne e peixe mais substanciais. Numa recente visita foram elogiadas as lulinhas, o caril de galinha. o arroz de legumes com ovo escalfado e a salada de garoupa (aqui lamentando-se que fosse aparentemente usada salada de pacote - mas a garoupa era boa). Quando se chega à mesa há várias ofertas de pão, azeite com balsâmico, uma pasta de azeitona e manteiga com flor de sal e redução de tinta roriz. Os acompanhamentos são escolhidos à parte e destacam-se os purés de castanha e de batata doce com aipo. Para além de se poder escolher um dos vinhos à venda, pode optar-se por uma boa seleção e vinhos a copo a preços sensatos. Nos doces o aplauso foi para com doce de ovos com sorbet de limão e um crumble de pêra. Vale a pena descobrir o Descobre - aberto todos os dias, Rua Bartolomeu Dias 65, telefone 218 056 461.
DIXIT - “Sinto que sou um pequeno arbusto na enorme floresta digital, e que só com um golpe genial – de talento, sorte, ou combinando ambos – alguém vai ligar ao que escrevo. Habituei-me a viver nesta recatada humildade, onde escrever não é mais do que um velho hábito que alimento” - Pedro Rolo Duarte, no seu blogue, no passado dia 8 de outubro.
GOSTO - Luis Newton, presidente da junta de freguesia da Estrela, afirmou que neste momento o PSD “não precisa de uma folha de excel a ditar o futuro”.
NÃO GOSTO - Da forma como alguns académicos se sujeitam a pretender dar um arremedo de cobertura científica a iniciativas de propaganda política.
BACK TO BASICS - “Desde que a palavra sobreviva, o homem sobrevive” - Fernando Sobral, em “O Silêncio dos Céus” .
(esta imagem é um pormenor da obra "Interdito" da artista plástica Marilá Dardot)
AGORA? - Não tenho a certeza se a avaria política detectada no Domingo passado se resolve com uma simples reparação de motor, recauchutagem de pneu ou mudança de mecânico e condutor. O que aconteceu nestas autárquicas foi o sinal da crise que percorre o sistema político e partidário desenhado em 1974, entretanto desactualizado mas nunca adequadamente ajustado. A avaria maior foi detectada no lado direito do espectro partidário, com o PSD, mas teve também sinais fortes do lado esquerdo, com o PCP. A minha convicção é que este foi o sinal de um problema estrutural irreversível se se mantiver o quadro actual. Soluções antigas dificilmente resolvem problemas novos - como apresentar propostas diferentes de acordo com as questões contemporâneas, de adequar o discurso às novas formas de comunicação, conseguir atrair os eleitores mais jovens. Duvido que formas de organização antigas possam ajudar a solucionar o problema. Se quer sobreviver e ser relevante o PSD necessita urgentemente de criar um novo enquadramento, de analisar como se distanciou do eleitorado, qual a razão que o leva a ser incapaz de mobilizar vontades, cativar independentes e criar propostas fora dos aparelhos partidários. Precisa sobretudo de uma clara definição ideológica e de um posicionamento político que seja mobilizador. Veja-se o que aconteceu em Lisboa: Assunção Cristas conseguiu falar para fora do seu partido, o PSD ficou a falar para dentro (na realidade nem para dentro conseguiu falar) e deixou muitos dos seus eleitores tradicionais fugir. O PSD tem o desafio de voltar a conseguir inserir-se na sociedade, a quem virou costas nos últimos anos. Importa mais saber o que se diz para fora de forma coerente e consistente do que entrar no jogo das habilidades tácticas conjunturais e exercícios de conspirações palacianas. O CDS deu um exemplo de mudança. Será o PSD capaz de fazer o mesmo?
SEMANADA - Em Lisboa Fernando Medina perdeu 3 vereadores e a maioria absoluta; no Porto Rui Moreira obteve maioria absoluta; o PCP perdeu dez câmaras, entre as quais Almada, Barreiro e Beja; a análise dos fluxos de eleitores mostra que os votos das câmaras perdidas pela CDU foram para o PS; a CDU (PCP e PEV) ficou pela primeira vez abaixo do meio milhão de votos em todo o território; nestas autárquicas houve 17 movimentos independentes que ganharam câmaras, contra 13 em 2013; Tino de Rans obteve 6,22% de votos em Penafiel; em 2013 o PAN teve 16 mil votos, Domingo passado chegou praticamente aos 56 mil; 47 câmaras mudaram de côr nestas autárquicas - 16 passaram do PSD para o PS, 12 passaram do PS para o PSD, 9 passaram da CDU para o PS e 2 passaram do PSD para independentes; o PSD, sozinho ou em coligação, nunca tinha obtido tão poucas presidências de câmara desde o início das autárquicas, em 1976; o PS ficou com 159 câmaras, o PSD vai liderar 98; há mais de 40 anos que o PSD não tinha tão poucos votos; Passos Coelho anunciou que não se recandidatará à liderança do PSD; segundo a Marktest, a freguesia de Lamosa (concelho de Sernancelhe, distrito de Viseu) foi a mais participativa neste acto eleitoral pois 90.15% dos 203 inscritos apresentaram-se nas urnas; pelo contrário, a freguesia de Parada do Monte e Cubalhão foi a que registou maior abstenção, tendo votado apenas 29.89% dos 977 inscritos nesta freguesia.
ARCO DA VELHA - O candidato do PCTP/MRPP à Câmara da Moita, Leonel Coelho, prometia uma ruptura com o passado apesar de ter 82 anos - teve 667 votos, mais sete do que há quatro anos.
FOLHEAR - A colecção Livros Amarelos, da editora Guerra & Paz, permite fazer uma leitura paralela de textos de dois autores que por alguma razão têm uma ligação entre si. O novo volume reúne, sob a orientação de Jerónimo Pizarro, a “Saudação a Walt Whitman” de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa e o “Canto A Mim Mesmo” de Walt Whitman. Pizarro escreveu para esta edição curtas biografias de Fernando Pessoa e de Walt Whitman e ainda um ensaio, “Negação e Saudação”, que permite perceber o porquê de juntar os dois textos. Nele Jerónimo Pizarro recorda que o crítico literário norte-americano Harold Bloom escreveu que Fernando Pessoa foi considerado o maior herdeiro português de Whitman e é sugerido que o heterónimo Álvaro de Campos pode ter nascido desse fascínio que Pessoa tinha pela poesia de Walt Whitman e que ”toda a sua produção de 1914-e 1916, e não só, torna-se mais compreensível se a aproximarmos de Whitman”. Os dois poemas que esta edição reúne reforçam a comunhão poética entre os dois autores, e, como Jerónimo Pizarro diz, “vem precisamente convidar-nos a uma leitura dupla, permitindo neste caso revisitar Whitman para reler Pessoa”.
VER - Prossegue o ciclo “British Bar”, uma ideia de Pedro Cabrita Reis que encontra nas três montras do estabelecimento do Cais de Sodré o seu ponto de exposição - peças de artistas plásticos que encaixam nas dimensões das três estreitas montras verticais, obras escolhidas pelo próprio Cabrita Reis - que está sempre presente no animado fim de tarde de apresentação de cada um destes projectos, que depois durante um mês ali estão expostos. Desde esta segunda-feira ali estão peças de Maria José Oliveira (“Macaco Miguel”, na imagem) e dois trabalhos de artistas mais novos - uma peça sem título de João Ferro Martins na montra da esquerda e outra da Fernão Cruz, “Apologizing studio#1”, na montra da direita. Trago mais duas sugestões e ambas partilham de uma mesma nota prévia: apresentadas em galerias privadas, são obras de inegável valor que parecem destinadas apenas a serem compradas por instituições, que as possam albergar nos seus acervos e esporadicamente mostrar. Começo pelo trabalho de Ana Jotta, que está na galeria Miguel Nabinho (Rua Tenente Ferreira Durão 18). Intitulado “fala-só”, trata-se de um trabalho de grandes dimensões, em que o suporte é um rolo de tela que ao ser desenrolado vai mostrando movimentos de figuras humanas traçadas em esboço, que podem ser lidos como momentos da evolução da espécie, evocando quase um storyboard cinematográfico através do desenho afirmativo e forte de Ana Jotta. A outra exposição, que manifestamente só vive de todas as peças e ambientes em conjunto, é da brasileira Marilá Dardot, está na Galeria Filomena Soares (Rua da Manutenção 80) e é uma instalação que evoca a censura sobre a criação literária, a partir de uma lista de 900 livros censurados, proibidos ou apreendidos entre 1933 e 1974 em que uma representação tridimensional do objecto livro convive com a justificação dos censores para as suas proibições.
OUVIR - O trio clássico de jazz - contrabaixo. bateria e piano - é uma das minhas formações preferidas. Para a coisa funcionar é preciso que os intervenientes sejam grandes músicos e, sobretudo, que consigam dialogar entre si e conjugar as suas experiências e vivências musicais. Depois de 30 anos a tocar com Keith Jarrett, com quem gravou duas dezenas de discos no Standards Trio (que incluía o baterista Jack DeJohnette), Gary Peacock decidiu em 2014 criar o seu próprio trio e escolheu o pianista Marc Copland e o baterista Joey Baron. O seu primeiro disco, dessa altura, foi “Now This” e agora saíu novo álbum, “Tangents”. Gary Peacock, agora com 82 anos, tem uma carreira de mais de seis décadas e nos anos 60 tocou com nomes da vanguarda dessa época, como Albert Ayler e Paul Bley. Depois dos anos com Jarrett, Gary Peacock retoma nesta sua nova formação as influências das diversas fases da sua carreira e sente-se que as suas experiências com Ayler deixaram marca que perdurou ao longo de todos estes anos. O novo disco, “Tangents”, tem onze temas: cinco deles são do próprio Gary Peacock, dois de Baron, um de Copland, um outro uma improvisação assinada pelos três músicos e duas versões, ambas fantásticas - “Spartacus” de Alex North e “Blue In Greens” de Miles Davis e Bill Evans. O tema improvisado, “Open Forest”, é um dos momentos altos do disco, assim como a faixa título, “Tangents”, “December Greenwings”, a envolvente faixa de abertura “Contact” ou a energia que passa em “Tempei Tempo”. Este CD é um perfeito exemplo de um trabalho em que os músicos deixam espaço uns para os outros, com longos solos, permitindo que os temas se desenvolvam de forma natural - a experiência de todos os envolvidos subtilmente deixa a música ir para onde ela quer. CD "Tangents", Gary Peacock Trio, edição ECM, na FNAC.
PROVAR - Há já muito tempo que João Portugal Ramos se dedicou a vinhos fora do Alentejo que lhe deu fama. Primeiro, em 2004, chegou à região do Tejo, com o Quinta do Vimioso, depois, em 2007, foi o Douro, com o Duorom e uma parceria com José Maria Soares Franco; no entretanto tinha começado a trabalhar as vinhas da Quinta da Foz do Arouce, na Lousã; e, mais recentemente, entrou no mundo dos vinhos verdes, da região de Monção e Melgaço. É nestes vinhos verdes que me vou focar. O primeiro Alvarinho acompanhado por João Portugal Ramos foi de 2012 e no ano seguinte saíu um Loureiro. Agora, a sua equipa, que inclui a enóloga Antonina Barbosa, apresentou duas novas propostas. A primeira é um Alvarinho Espumante Reserva Bruto Natural, de 2014, o primeiro espumante da sub-região apresentado como um Bruto Natural. Tem bolha fina e persistente e um longo final, marcado pela mineralidade do Alvarinho. A outra novidade é o Alvarinho Reserva 2015 que mantém a mineralidade, pontuado por um toque de madeira e notas frutadas, com um longo final - um vinho branco surpreendente. Aproveitem estes dias quentes, convidativos para um fim de tarde na companhia de qualquer destes vinhos.
DIXIT - “Não gostei da vitória esmagadora de Fernando Medina. Os lisboetas, como eu, sabem que não merecia. “Alindar” a cidade não é o que se pede ao Presidente da CML – e sentindo que todos os dias mais lisboetas são literalmente expulsos da cidade para os subúrbios, e que a cidade vive um caos que resulta das (erradas) prioridades da Câmara, esperava uma vitória ligeira, que lhe reconhecesse algum talento mas o obrigasse a ouvir quem vive na capital.” - Pedro Rolo Duarte
GOSTO - O MAAT teve mais de meio milhão de visitantes no primeiro ano de existência, que se completou esta semana.
NÃO GOSTO - A dívida pública ultrapassou os 250 mil milhões de euros.
BACK TO BASICS - “Um fanático é alguém que não muda de opinião, nem muda de assunto” - Winston Churchill.
Tenho muita pena, mas não acredito em Passos Coelho. Olhando para os últimos dias, e procurando a causa das coisas, cada vez mais me convenço que foi ele quem esteve na origem de toda a crise que se passou: escondeu, conspirou, acirrou, recuou, andou e manobrou durante meses como bem quis, com a preciosa ajuda de Vitor Gaspar. Se alguem me levanta duvidas, é ele e não Paulo Portas, embora o líder do CDS tenha tido vários maus momentos neste processo.Mas, para o que interessa, quem começou a briga foi Passos Coelho, com a sua teimosia e a sua tendência para ignorar a realidade. Paulo Portas fez a mais arriscada das jogadas e perdeu uma boa parte do seu capital político - mas aparentemente ganhou o poder suficiente para desenhar outras políticas, nomeadamente nas negociações com a troika. Pode ser que um dia ainda lhe venhamos a agradecer o que agora tanta gente acha estranho.Os sinais de desagrado dentro de um Governo chegam com ma cristalina transparência através da quantidade de fugas de informação e, nas últimas semanas era evidente como elas surgiam de forma crescente. De há um mês para cá apodrecia o clima e aumentava a desconfiança. Se quem manda tivesse mais atenção aos sinais e à realidade, as coisas poderiam ter corrido de outro modo.A crise da semana passada provocou milhões de euros de prejuízo ao país, aos contribuintes e às empresas. Quem se responsabiliza por isto? Ou, posto de outra forma, se o prejuízo lhes saísse dos bolsos, se fossem eles sózinhos a pagar tudo o que os contribuintes vão pagar a mais por causa dos desvarios, isto não aconteceria. Se os administradores das empresas são responsabilizados quando iludem o Estado, os administradores do país também têm de o ser.(Publicado no Metro de 9 de Julho)
(Publicado na edição de quarta 28 de Maio do diário «Meia Hora»)
Um dos grandes problemas da sociedade portuguesa reside no progressivo bloqueio do sistema político-partidário. Este bloqueio tem muitas causas, a começar na forma como os partidos se constituíram em 1974 – muito fulanizados, construídos em torno de personalidades fortes, com programas políticos e ideológicos pouco cuidados e muito dependentes do enquadramento e das limitações da época.
Ao fim de 34 anos mudaram os protagonistas, mas na essência não mudou a forma e o funcionamento do sistema e, pior, agravou-se a indefinição política e ideológica, sobretudo naquilo a que se convencionou chamar de Bloco Central. Acresce que a adesão à Comunidade Europeia e a integração na Zona Euro vieram ainda mais contribuir para apagar as diferenças entre PS e PSD. Num resumo breve o PS virou um pouco à direita e o PSD um pouco à esquerda. Encontraram-se ao centro, à sombra de um Estado – português e europeu – demasiado presente.
O actual processo eleitoral interno do PSD é por isso um tema que não interessa apenas ao seus militantes, é importante para todos os que gostam de exercer a cidadania mediante escolhas políticas. De uma certa forma, todos nós somos políticos – ou temos o dever de o ser, porque temos o dever de participar nas decisões que nos afectam a todos.
Os militantes do PSD têm este fim de semana esta responsabilidade: a de não olhar apenas para as directas como uma disputa interna, mas sim como um processo de renovação da actividade política em Portugal, de afirmação de uma identidade própria ao seu partido, que o diferencie do PS de forma clara. A questão não é simples: o êxito futuro do PSD depende de uma escolha que provoque mudanças, que afirme a diferença e que seja capaz de atrair aliados e alargar o campo de influência partidário.
Por isso, eu que não sou filiado em nenhum partido, baseado no que é a história de cada candidato e nas propostas que agora apresentam, acho que a escolha de Pedro Passos Coelho é a que melhor pode contribuir para que o PSD tenha um papel activo e dinâmico na renovação do sistema político e partidário e para que possa contribuir para tirar o país do impasse onde nos encontramos. Na realidade Pedro Passos Coelho é o único que traça um caminho diferente e essa é a sua grande vantagem. E esse caminho, outra vantagem, não passa pelo Bloco Central.
PSD – Quando se quer debater, aparece-se. Esteja quem estiver. No Porto dois candidatos não quiseram aparecer num debate. Se não é agora que se vão trocar ideias, quando é? Ele há quem, nesta disputa, queira separar os candidatos entre os de primeira e os de segunda. É mau sinal, muito mau sinal.
PERGUNTAS – Houve uma remodelação no Ministério da Cultura no dia 30 de Janeiro. Desde então, que novas medidas foram tomadas? Que novas políticas vão ser seguidas? Que foi – ou vai ser - corrigido da actuação que levou à saída da anterior Ministra? Qual o balanço dos primeiros cem dias do novo Ministro? A cultura não faz parte da agenda política do Governo? Se fosse noutros tempos não haviam de faltar críticas de inacção… Nem os tristes episódios da Feira do Livro tiraram o Ministro do seu silêncio – mesmo sabendo que noutros tempos outros titulares da pasta da Cultura não hesitaram em querer agitar a monotonia que a APEL gosta de impor.
SINTOMA – Na semana passada mais do que um amigo meu me disse que cada vez que assiste à abertura dos noticiários da noite fica com vontade de não viver aqui. Isto está a ficar triste, o país esvai-se nos problemas do dia a dia.
DIFERENÇA – No tempo em que Dalila Rodrigues estava no Museu Nacional de Arte Antiga a Noite dos Museus era um acontecimento onde as teias de aranha da veneranda instituição eram varridas, onde propostas contemporâneas tinham as honras da noite e onde sons actuais faziam a festa, chamando efectivamente novos públicos que nessas ocasiões descobriam o espaço, os jardins, as colecções. Era uma festa, aberta e diferente. Este ano voltou tudo ao ram ram antigo, com um solene jantar e um não menos solene concerto de música antiga. Sinais dos tempos. Tristes sinais.
DESCOBRIR – Sugiro que entrem no site do Meo e escolham a opção «Assume o Comando». Ou então vão direitos a http://jatens.meo.pt e sigam as instruções. É absolutamente genial, é um site interactivo brilhante, com os Gato Fedorento versão espacial a entrarem directamente em contacto consigo. Parabéns PT, parabéns à equipa do Meo. Com sites destes futuro não é uma palavra vã.
VER – Já vi muitos filmes de concertos rock mas nenhum chega aos calcanhares deste «Shine A Light» de Martin Scorsese, que regista um concerto dos Rolling Stones no final de 2006, no Beacon Theatre de Nova York. É um trabalho notável, em primeiro lugar de captação de imagem, depois de edição, não esquecendo a recolha de depoimentos antigos. Martin Scorsese rodeou-se de uma equipa brilhante que fez um filme extraordinário: um concerto, na prática, visto de dentro do palco, os músicos a olharem uns para os outros, as câmaras nos seus planos visuais. Colaborações especiais de Jack White (dos White Stripes), Buddy Guy , Christina Aguillera e de… Bill Clinton. Versões fantásticas de temas como «Faraway Eyes», «Brown Sugar», «Sympathy For The Devil» e de «As Tears Go By», uma canção originalmente composta pelos Stones para Marianne Faithful. À data da gravação deste filme Mick Jagger e Keith Richards tinham 63 anos, Charlie Watts 65 e Ron Wood era o benjamim, com 59. Não percam o filme, de preferência numa sala com bom som. Ou então guardem-se para quando sair uma cópia em Blue Ray.
OUVIR – As «coplas» são pequenas canções, um género musical muito popular em Espanha, histórias de amor e ciúme, de orgulho e solidão, de morte e de dor, histórias que começam e acabam em três ou quatro minutos, hoje em dia muito populares também na América Latina e sobretudo no México. Rafael Alberti, Federico Garcia Lorca e António Machado são alguns dos grandes poetas que escreveram letras para «coplas» que ficaram célebres. Admirador confesso das coplas, a que chama «mini-óperas», Plácido Domingo reuniu uma selecção de 13 das suas preferidas no seu novo CD «Pasión Española», no qual é acompanhado por José Maria Gallardo del Rey à guitarra e pela Orquestra da Comunidad de Madrid. Muito bom para comer umas tapas num fim de tarde, a olhar para as cores primaveris e a fazer de conta que estamos num país menos cinzento. (CD Deutsche Grammophon, Universal Music).
PETISCOS – Nesta altura do ano gosto das giestas, das papoilas, dos malmequeres, das alcachofras que começam a rebentar. António Barreto sublinharia os jacarandás, eu limito-me a dizer que estas cores todas são o sinal de que já aí estão dois dos bons petiscos da estação: as sardinhas e os caracóis. Nos tempos que correm estou para ver como neste final de Primavera dois dos mais típicos petiscos portugueses vão escapar à fúria da ASAE. Ainda teremos sardinhas assadas na grelha à beira da estrada por muito tempo? Caracóis tirados de grandes panelões para acompanhar uma imperial? Sócrates, que é quem manda na ASAE, deixar-nos-à ainda petiscar?
BACK TO BASICS – A política não é uma má profissão: quando se tem êxito é-se recompensado, e quando se falha pode-se sempre escrever um livro – Ronald Reagan.
(publicado no diário «Meia Hora» de 7 de Maio)
A situação no PSD pode ser um bom momento para se perceber como poderá evoluir o sistema político-partidário português nos próximos anos. A situação criada pela demissão de Luís Filipe Menezes criou espaço para estas mini-primárias, que decorrerão até ao final do mês.
O que está em jogo em cima da mesa é eleger um líder partidário, que será igualmente o candidato a Primeiro Ministro nas legislativas do próximo ano, o responsável pelos outros próximos processos eleitorais (europeias e autárquicas) e, também, o responsável pela constituição do próximo grupo parlamentar do PSD, o que não é de todo uma questão menor e, em determinadas circunstâncias (por exemplo não conseguir derrotar Sócrates), é mesmo decisivo para o futuro do partido.
Na realidade, apesar do pouco tempo para o processo, o que está em jogo nestas directas do PSD é muito mais o médio-longo prazo que o imediatismo do curto-médio prazo. Por isso mesmo era bom que o debate se centrasse em questões estratégicas e políticas, e saísse da esfera em que está, essencialmente centrado em torno de pessoas, das suas reputações, histórias, intenções ou memórias. Se é certo que as pessoas são importantes, não é menos certo que o problema maior do PSD nos últimos anos está na diminuição do seu espaço político, na ausência de ideias novas, da sua descaracterização. Falando claro, o PSD perdeu valor enquanto marca, perdeu posicionamento. É preciso uma espécie de processo de rebranding, não no sentido de mudar de logótipo nem de colocar apenas uma cara nova nos cartazes, mas sobretudo em apontar uma nova missão e novos valores, procurando credibilizar o produto político – desculpem a linguagem «técnica», mas neste caso ela adequa-se bem à situação.
Na conjuntura actual, em que Sócrates ocupou o centro-direita e pegou em muitas questões que eram bandeiras do PSD, o novo líder social-democrata terá que mostrar que não é igual a Sócrates, que tem alternativas concretizáveis e uma linha política que seja capaz de voltar a congregar vontades, unir os militantes e conquistar independentes.
Da maneira que as coisas estão não é tarefa fácil levar o PSD a encontrar o seu lugar.
A tentação do conforto e segurança que as opções «regresso ao passado» apresentam, podem aparentemente parecer as mais seguras, mas arriscam-se também a ser as mais desmotivadoras – sobretudo quando se evita discutir política e ideias. E o fundamental, para assegurar a vida para além dos próximos feriados de Junho, é discutir propostas políticas e ideias, e não apenas pessoas.
TERRÍVEL – Alguns empresários portugueses gostam de enaltecer a sociedade civil. É uma coisa que só lhes fica bem. O pior é quando o fazem e são inconsequentes, como aconteceu no projecto da revista «Atlântico», deixado cair por muitos dos que diziam que a iriam apoiar. A «Atlântico» era um espaço de debate, plural, aberto, editorialmente único em Portugal. Por mais voltas que dê não consigo deixar de pensar que a «Atlântico» acabou porque tinha aquela mania de se meter todos os meses com o senhor Sócrates e os senhores empresários não quiseram ficar mal vistos ao pé do senhor engenheiro, numa altura em que vai haver tanta obra para fazer. Cá para mim este é dos casos que mostra como em Portugal a iniciativa privada está demasiado dependente dos senhores que controlam o orçamento de Estado. Muitos dos nossos empresários são ainda muito público-dependentes, 24 anos depois de 25 de Abril de 1974. O fecho da «Atlântico» é o sinal do estado das coisas nestes tempos que vivemos.
VER – Muitas exposições para visitar. Vamos começar pela fotografia, Na K Galeria, «Estrada de Água», de Pedro Azevedo, Rua da Vinha 43 A. Outras fotografias, diferentes, encenadas (podiam ser como que colagens tridimensionais, a meio caminho com instalações do quotidiano, convenientemente preservadas com registo fotográfico) são as propostas de Manuel Botelho em «Confidencial/Desclassificado II: ração de combate», na Fundação EDP, Museu da Electricidade, Av. Brasília. Depois há a arte robótica de Leonel Moura, melhor dizendo do robot RAP que está estacionado no Museu de História Natural de Nova Iorque – as composições automáticas podem ser vistas na Leonel Moura Arte, rua das Janelas Verdes 76. Mais à frente, na Galeria Filomena Soares, «Murder Letters» é uma exposição colectiva que apresenta onze jovens artistas naturais de Nova Iorque: Carol Bove, Dan Colen, Gardar Eide Einarsson, Hanna Liden, Nate Lowman, Adam McEwen, Josh Smith, Dash Snow, Agathe Snow, Banks Violette, e Aaron Young, em diversos suportes, da fotografia à escultura, passando por colagens e pintura.
O PIOR – O grande problema para os lisboetas, se decidirem fazer este aliciante percurso artístico ao Domingo, será encontrarem paciência suficiente para passarem do lado do Cais do Sodré, para o lado de Santa Apolónia. Numa daqueles raros momentos em que decidi sair de casa ao Domingo apanhei uma carga de fúria por ver que há mais polícias municipais envolvidos no desvio de trânsito do Terreiro do Paço do que propriamente visitantes. Esta interdição do Terreiro do Paço aos Domingos é daquelas baboseiras demagógicas rasteiras que me fazem chorar cada um dos euros que a Câmara Municipal de Lisboa me obriga a pagar em impostos. Na cabeça de António Costa existirá uma réstea de bom senso que lhe permita perceber o ridículo da situação, ou vai persistir nisto e gastar mais uns milhares largos de euros em animações forçadas, sabe-se lá com recurso a quem, para lhe servir de capote estético?
PETISCAR – Depois de ter dado mil voltas e ter conseguido passar esse Bojador dos domingos lisboetas que é o Terreiro do Paço, em má hora tentei o Deli Delux. Nada a fazer: mau serviço, arrogância insuportável, lentidão geral. Que pena que os sítios bonitos tenham gente tão feia a explorá-los e incompetente a dirigi-los. Mandei as modas às urtigas e rumei ao sempre fiel Cervejanário (Marina falhada da Expo, Passeio de Neptuno), onde tudo é melhor: belas pataniscas de bacalhau (das achatadas!) e alheira de caça com grelos. Excelente vista, excelente companhia, um descanso para me redimir das malfeitorias dea empresa de animação «Costa & Salgado United Against Lisbon Incorporated».. Ora ali estava um sítio acolhedor, vista desafogada frente ao rio, serviço simpático, cerveja espectacular. Era pena que o rapaz atrás de mim tivesse uma T Shirt onde a letras garrafais de podia ler «Vagina Lover», mas pronto, é o que há ao Domingo em Lisboa. Enfim, não se pode ter tudo, este cidadão deve ter votado no Bloco de Esquerda, pensei eu com os meus botões, imaginando-o a conversar sobre torres eólicas com o senhor vereador Sá Fernandes.
LER – Pois, a «Ler». Não, não é trocadilho. A «Ler» renasceu, por obra e graça de Francisco José Viegas e do Círculo de Leitores – Bertelsmann (que aos poucos vai comprando mais editoras e está a tornar-se, aqui, um discreto e poderoso grupo editorial e de distribuição…). Mas voltemos a esta «Ler», magnífica, com uma bela paginação, fotografia bem pensada., um belíssimo dossier sobre os 50 autores mais influentes do século XX, uma entrevista com António Lobo Antunes e uma conversa com Paulo Teixeira Pinto onde ele explica como vai ser a sua editora.
OUVIR – Ora aqui está uma bela altura do ano para ouvir «Amor Profano», um conjunto de onze árias de Vivaldi, interpretadas pela soprano Simone Kermes, acompanhada pela Orquestra Barroca de Veneza, dirigida por Andrea Marcon. Enérgico, excitante, arrebatador. Com discos assim ,mais vale ficar em casa ao Domingo que ir aturar os desvarios de Costa & Salgado ao Terreiro do Paço (já sei, já falei do tema, mas a bacoquice da coisa irrita-me mesmo…). CD Archiv/Deutsche Grammophon.
REVELADOR – De partido sem direcção o PSD está a passar a partido com excesso de candidatos a dirigentes. Que falta faz o bom senso…
BACK TO BASICS – A função do socialismo é aumentar o sofrimento para um nível superior – Norman Mailer.
(Publicado no diário «Meia Hora» de dia 23 de Maio)
Em pouco mais de uma semana o PSD passou de partido sem direcção nem rumo para um partido com excesso de candidatos a dirigentes. É aquela velha coisa portuguesa de passar da fome à fartura sem se saber bem porquê nem como.
Vamos ver esta coisa singela: para um partido de oposição a questão principal nas próximas eleições não será, de forma realista, derrotar Sócrates, mas sim retirar-lhe a maioria absoluta e garantir um grupo parlamentar oposicionista capaz, bem constituído, e com algum peso parlamentar.
Ora, se as coisas continuassem como até aqui, tudo indica que o próximo grupo parlamentar do PSD teria uma composição à medida de Luís Felipe Menezes e Ribau Esteves, o que anda próximo do grau zero da política. A semana passada foi farta em episódios demonstrativos da incapacidade política desse pessoal, que nem percebeu o que lhe estava a acontecer quando um grupo rival resolveu fazer umas graçolas em Lisboa enquanto o líder andava perdido no pais profundo – é o célebre episódio Câncio.
Por um lado, é bom que isto tenha acontecido. Na realidade, se nada se passasse no PSD, tudo indica que o próximo grupo parlamentar seria ainda pior e menor que este – o que quer dizer nomeadamente perca de influência. Dificilmente o PSD conseguiria reaver o seu estatuto de partido de poder nessas condições.
Cá para mim, este emaranhado de candidatos destina-se sobretudo a garantir notoriedade para umas quantas personalidades, assegurar presença em futuro grupo parlamentar e, quiçá, em algum Governo futuro que o PSD venha a formar. Na cabeça de muitos putativos candidatos é este o raciocínio em vigor: levantar a bandeira, conquistar território, ocupar espaço.
Eu, por acaso, gostava que as coisas não se resumissem a isto, que fosse possível criar uma alternativa política ao PS, o que quer dizer propostas políticas diferentes, e não uma réplica das políticas orçamentais do Governo de Sócrates.
O pior que pode acontecer ao PSD é transformar-se num PS mais radical em matéria orçamental, um pouco género Rui Rio no Porto, que promoveu uma política tipo «vale tudo, mesmo arrancar olhos».
Aparentemente vamos ter uns dias muito animados pela frente. Talvez nem Rui Gomes da Silva imaginasse que o seu bater de asas num fim de noite lisboeta provocasse tamanha convulsão no mundo da política portuguesa. É a teoria do caos, já se sabe.
(publicado no diário Meia Hora de quarta feira 16 de Abril)
Por estes dias a imagem mais marcante é a da posse do novo Governo Espanhol, maioritariamente feminino e com uma ministra da Defesa em gravidez avançada a
passar revista às tropas. As imagens da cerimónia transpiram «salero», confiança e entusiasmo. São uma afirmação de energia positiva, são um símbolo de modernidade e valem mais do que mil declarações sobre a igualdade ou quinhentas comissões contra a descriminação sexual. Temos que reconhecer: nós não temos uma esquerda assim, não temos, no poder, uma esquerda descomplexada, de cabelos longos, guarda roupa elegante nas cores da moda, maquilhagem cuidada e saltos altos. Em vez disso a nossa esquerda é feita do Dr. Louçã a atacar tudo e todos ou do Dr. António Vitorino mascarado de comentador a servir de trombeta do regime, pronto sempre a encontrar elaboradas desculpas para tudo.
A enorme diferença entre a maneira de funcionar em Espanha e em Portugal está naquelas imagens, na maneira de encarar as coisas, de arriscar, de surpreender. Zapatero ganhou mais apoios com estas escolhas que nos últimos anos de Governo. A verdade é que nós não temos uma esquerda assim. A nossa é cinzenta e, quanto à que está no poder, distingue-se pouco, no cinzentismo e na prática, da direita que a precedeu.
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