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TRÂNSITO COMPLICADO NO PARLAMENTO

por falcao, em 23.05.25

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A AFLITIVA SURDEZ DOS POLÍTICOS - Enquanto os líderes partidários derem mais ouvidos ao aparelho dos seus partidos do que ao que se diz na rua o voto de protesto  continuará a ganhar peso e a tendência destas eleições irá acentuar-se ainda mais. Como bem afirma António Barreto, “as eleições democráticas, sempre justas, têm destas coisas: são escolhas, mas nem sempre são soluções”. O maior indicador saído destas legislativas é que uma grande fatia do eleitorado quer mudanças, não está satisfeito com o estado das coisas e  não tem os velhos partidos em grande conta. Mesmo em relação ao PSD, que é o vencedor claro, ficará sempre a dúvida sobre se poderia ter alcançado a maioria absoluta se não fossem as polémicas em torno de Luís Montenegro. Aconchegado pelo resultado eleitoral, o líder do PSD levou a Spinumviva para o palco do seu discurso da vitória naquilo que, se não foi uma provocação desnecessária, foi uma atitude de muito mau gosto. Uma coisa é certa: no dia 18 de Maio o sistema político e partidário levou um cartão vermelho de mais de um milhão e trezentos mil cidadãos descontentes, quase um quarto dos eleitores. A esquerda, à excepção do Livre, que fez uma campanha mais próxima dos problemas que afligem as pessoas, foi o único partido a subir. O resto teve quedas estrondosas e, pela primeira vez em meio século, o espectro político do centro direita e direita teve dois terços dos deputados eleitos. O Chega, que há seis anos parecia um fenómeno passageiro e residual, cresceu ao ritmo do descontentamento e insatisfação das pessoas, sobretudo nas geografias onde a esquerda era tradicionalmente dominante e está taco a taco com o PS, o partido que mais anos governou em Portugal desde 1974. Luciano Amaral escreveu no “Correio da Manhã” um retrato do que se passou: “O resultado catastrófico do PS e o correspondente excelente resultado do Chega mostram algo que começava já a ser visível nas últimas eleições: o Chega não é sobretudo um problema da direita. É um problema de todo o sistema político, mas sobretudo da esquerda”.  É cedo para saber o que se vai passar a seguir, mas deixo uma frase de João Pereira Coutinho: “Se houvesse juízo nos dois principais partidos, haveria um entendimento qualquer ao centro, com outra liderança socialista. Não para travar o Chega. Para travar as razões que alimentam o Chega. Haveria um combate sério à corrupção. Uma política de imigração regulada. E a longa lista de reformas – na justiça, na saúde, na fiscalidade – que o país reclama”.

 

SEMANADA - A um ano do fim do PRR na Europa nem metade da verba foi gasta pelos 27 países da União Europeia; os subsídios do PRR a startups localizadas em Portugal têm uma execução de apenas 30,6% com o prazo a terminar no final deste ano; o emprego público em Portugal atingiu novo máximo no final do primeiro trimestre do ano  e aproxima-se dos 759 mil trabalhadores; quase 1600 enfermeiros pediram declarações para emigrar em 2024; em três anos mais de 2700 médicos pediram à Ordem certidões para exercer no estrangeiro; há 13 anos um médico ganhava 5,9 vezes mais que o salário mínimo nacional, valor que baixou para 3,9 vezes em 2025; o declínio da escola pública é evidenciado pela percentagem de alunos que estão no ensino secundário privado e que já atinge os 25% ; os acidentes com autocarros da Carris têm vindo a aumentar e em 2024 registou-se o número mais elevado de sempre - de acordo com dados da empresa foram registados 1519 “acidentes de exploração”; o crédito ao consumo atingiu em Março o montante mais elevado desde 2013, ultrapassando 777 milhões de euros; os portugueses jogam cinco milhões de euros por dia em raspadinhas; no dia Internacional dos Museus, que se celebrou domingo passado, 13 dos 37 equipamentos culturais do Estado estiveram encerrados total ou parcialmente, devido a obras em curso; a queda da economia portuguesa, de 0,5% no primeiro trimestre, foi o segundo pior desempenho em cadeia na zona euro, logo a seguir à Eslovénia e antes da Hungria.

 

O ARCO DA VELHA - Portugal é o segundo país da União Europeia com mais eleições em sete anos, apenas ultrapassado pela Bulgária.

 

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UM MISTÉRIO DESENHADO - Para me acompanhar na última semana de campanha eleitoral escolhi um livro que relata a investigação de um mistério em torno de uma sucessão de assassinatos. Fiquei mais fascinado com o livro do que com a retórica dos políticos. “Strange Pictures - Imagens Estranhas” é um policial peculiar: as pistas para o crime são desenhos espalhados ao longo das páginas. O seu autor, japonês, assina como Uketsu e é apresentado como um web writer especializado no género de terror. Conhecido por usar uma máscara branca e um fato preto, também é YouTuber e tem mais de 1,7 milhões de seguidores. Os seus livros são considerados «mistérios desenhados» e o autor desafia os leitores a descobrirem as pistas escondidas numa série de imagens estranhas. Uketsu já vendeu perto de 3 milhões de exemplares no Japão desde 2021 e foi traduzido para 27 línguas. O verdadeiro nome e a identidade de Uketsu permanecem desconhecidos. Mas vamos ao livro: os esboços de uma jovem grávida descobertos num blogue aparentemente inofensivo escondem um aviso arrepiante. Além disso, o desenho aparentemente inocente de uma criança junto da sua casa contém uma mensagem secreta e sombria. E um rabisco feito por uma vítima de homicídio nos seus últimos momentos de vida conduz um detetive amador a uma espiral que revelará uma serial killer. Ao longo de “Strange Pictures”, cada imagem estranha que é descoberta contém uma pista. Quando todas se juntam revelam uma história complexa e sinistra. Com um final absolutamente inesperado. edição Singular.

 

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ENIGMAS -   Daniela Krtsch é uma pintora alemã que desde há alguns anos vive e trabalha em Lisboa. O seu trabalho, maioritariamente figurativo, está entre a realidade e a ficção e algumas das suas obras baseiam-se num olhar inesperado e na criação de atmosferas que deixam qualquer coisa em suspenso. Na Galeria Salgadeiras a artista apresenta uma exposição com dez obras novas, intitulada “Some day in may”. O crítico e historiador de arte Bernardo Pinto de Almeida escreveu a propósito desta exposição:  “Dela se poderia dizer, parafraseando a célebre observação do filósofo, também alemão, Walter Benjamin, a propósito das imagens dos lugares de Paris capturadas por Eugène Atget — fotografias de espaços muitas vezes abandonados, e como que suspensos num tempo de estranheza —, que elas fixavam o que parecia ser o momento imediatamente anterior ao do ocorrer de um crime. Assim, também com a Artista, cuja obra está discretamente carregada de breves signos do pressentimento.” Na obra de Daniela Krtsch há uma tensão constante entre o observado e o observador, como se cada tela fixasse um gesto que pode desencadear outros. Até 27 de Julho na Galeria Salgadeiras, Avenida dos Estados Unidos da América 53D.

 

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ROTEIRO - O destaque desta semana vai para uma exposição  da espanhola Tamara Feijoo que fica até 21 de Junho  na Appleton Square (Rua Acácio de Paiva 27). Sob o título “Breviário” a artista apresenta obras que formam uma colecção de peças que funcionam como amostras e experiências, como se fossem um livro de notas do que ela vai imaginando. A exposição mostra o trabalho de Tamara Feijoo no desenho e na pintura, trabalhados em vários suportes, muitos deles não tradicionais, mostrando o seu desejo de experimentar e arriscar. Em Sintra, no Museu das Artes de Sintra, localizado no edifício do antigo casino da vila, está até 31 de Agosto a exposição “Partida”, integrada no ciclo “Joga o Jogo” - um título que é uma  evocação da antiga utilização do espaço e que mostra obras da colecção da Caixa Geral de Depósitos, obras de Pedro Cabrita Reis que fazem parte da colecção do Museu, fotografias do Arquivo Municipal de Sintra que revelam a história do edifício e a série “New Age Kids” um trabalho da fotógrafa Pauliana Valente Pimentel. No Museu do Oriente está até 12 de Outubro a exposição “Foto Arte Ganesh”, que resulta do espólio do fotógrafo goês Krishna Navelkar, ou Ganesh, o nome com que assinava os seus trabalhos. Ele registou quase quarenta anos de história, do fim do colonialismo português às grandes transformações sociais e políticas que moldaram a Goa moderna num arquivo único de um cronista que fixou em imagens o evoluir dos tempos.

 

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O CANTO - No dia depois das eleições pus-me a ouvir o novo disco da colombiana Lido Pimienta, “La Belleza”. Fui atraído para o disco ao ler no jornal britânico “The Guardian” que o trabalho reunia o canto gregoriano à percussão sul americana do reggaeton e que o resultado era sublime. Nascida na Colômbia, mas a viver no Canadá, Lido Pimienta chamou o produtor Owen Pallett  e, com a Orquestra Filarmónica de Medellin gravou este seu quarto álbum, onde canções de amor se misturam com reflexões sobre o seu país. Em meia hora e nove temas Lido Pimienta mostra como a sua voz e da sua forma de cantar conseguem combinar-se quer com as secções de cordas e metais da orquestra, quer com as percussões. Temas como “Ahora”, “Quiero Que Me Beses”, “El Dembow del Tiempo” e “Aún Te Quiero” mostram isto mesmo. O disco é emocionante e arrebatador, a produção é exemplar, a entrega da voz de Pimienta é arrebatadora. Há muito que um disco não me emocionava tanto. Edição Anti, disponível nas plataformas de streaming.

 

ALMANAQUE - Em Paris há duas exposições de fotografia para ver. Na Fondation Cartier Bresson,  até 12 de Outubro, está uma exposição de Richard Avedon centrada na sua série “In The American West”, realizada entre 1979 e 1984, que é pela primeira vez apresentada integralmente na Europa. E na Magnum Gallery está uma exposição de 40 imagens de Raymond Depardon, um dos grandes fotógrafos da agência com imagens de locais que percorreu, como França, Nova Iorque ou Escócia, entre outros.

 

DIXIT  - “A sensação de abandono e desinteresse do poder político para os problemas reais das pessoas tem terreno para medrar. E agora há um partido que está formatado para capitalizar esse descontentamento” -  Paulo Ferreira, no Observador.

 

BACK TO BASICS - As pessoas que querem compreender o funcionamento da democracia deviam passar menos tempos a reflectir sobre o que Aristóteles escreveu e mais tempo nos autocarros e no metropolitano a ouvir o que as pessoas dizem” - Simeon Strunsky

 

A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE  NEGÓCIOS

 



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