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PARA MEMÓRIA FUTURA - Como a memória é curta convém recordar como as coisas se passaram. As eleições autárquicas foram há menos de dois anos e quando Carlos Moedas iniciou funções o novo executivo da Câmara Municipal de Lisboa percebeu que a preparação das Jornadas Mundiais da Juventude estava muito atrasada. Em Julho de 2021 António Costa tinha nomeado José Sá Fernandes para coordenar o grupo de projeto que iria assegurar o acompanhamento dos trabalhos de preparação das Jornadas Mundiais da Juventude. Sá Fernandes teve desde a derrota do PS na autarquia lisboeta uma relação difícil com o novo executivo e era patente que o trabalho que tinha entre mãos andava mal e devagar, a passo de caracol. No final de Janeiro deste ano, face aos atrasos e divergências e com o risco de o evento ter sérios problemas, Carlos Moedas decidiu que a CML passaria a articular directamente com a Igreja a organização, excluindo Sá Fernandes do processo. Nessa altura, Filipe Anacoreta Correia, vice-presidente da autarquia lisboeta com a responsabilidade executiva do evento, afirmou que a Câmara não aceitava mais “pretensos coordenadores que não fazem nada e que não ajudam a resolver nada” e que iria tomar o processo em mãos, a seis meses do evento. Na altura , face aos atrasos verificados, parecia impossível. Mas a verdade é que a equipa montada pela autarquia lisboeta, em conjugação com outras autarquias e a Igreja, conseguiu ter tudo pronto, para além até dos planos iniciais, em termos de localização das várias acções. O papel de Sá Fernandes acabou por ser quase nulo. Foi por isso com espanto que se assistiu, a seguir à JMJ, a uma entrevista a Sá Fernandes, na SIC, em que ele se apresentava como o grande obreiro de tudo e mais alguma coisa. Se dúvidas houvesse, depois do onanismo verbal praticado na televisão sobre a JMJ, ficou provado que José Sá Fernandes é das mais desprezíveis figuras da política portuguesa, um lunático encartado com um umbigo descomunal e vendas nos olhos que só lhe permitem ver numa direção. A realidade, para memória futura, é que sem o trabalho de autarcas como Carlos Moedas a festa tinha corrido mal, de atrasada e desorganizada que estava. Verdade seja dita que as culpas do que estava mal não eram só de Sá Fernandes - quem o escolheu, António Costa tem também culpas no cartório - foi mais uma má escolha na sucessão de más escolhas que tem caracterizado a sua acção como Primeiro Ministro.
SEMANADA - Os pedidos de asilo em Portugal aumentaram 30% no ano passado; desde 2011 foram destruídos 89 mil ninhos de vespa asiática em Portugal; há 30 mil crianças estrangeiras inscritas para entrar no primeiro ciclo e no ensino pré escolar; só este ano cerca de sete mil cabo-verdianos já pediram vistos de longa duração para Portugal; o número de pessoas singulares e colectivas que pediram insolvência na primeira metade de 2023 subiu 19,2% face ao período homólogo de 2022, num total de 2482; a linha nacional de Emergência Social recebeu 2372 pedidos de ajuda por perda de habitação nos primeiros seis meses deste ano; taxas e multas cobradas no primeiro semestre somam recorde de dois mil milhões de euros, um aumento de 11% em relação ao mesmo período do ano passado; os preços dos quartos para estudantes em Lisboa aumentam 19%; a taxa de desemprego jovem em Portugal é de 17,2%, acima da média de desemprego móvel na UE, que é de 14%; o salário dos jovens em Portugal é o segundo mais baixo da UE, logo atrás da Grécia; seis mil alunos de cursos superiores perderam este ano as suas bolsas de estudo por falta de aproveitamento; dos 230 deputados, 37 exercem cinco ou mais cargos além do mandato parlamentar na Assembelia da República e desses, 34 são do PS e PSD; as salas de cinema portuguesas tiveram em Julho o melhor mês desde 2004, com um total de 1,7 milhões de espectadores e 10,5 milhões de euros de receita, um aumento de 64,5% em relação ao mesmo mês do ano passado; os canais generalistas e os de informação no cabo fizeram 278 horas de emissão sobre a JMJ;
O ARCO DA VELHA - O programa Ferrovia 2020 , lançado por Pedro Nuno Santos, devia ter ficado concluído em 2021 mas a execução está atrasada e não há ainda previsão da conclusão dos trabalhos previstos nem do custo final das obras.
UM CLÁSSICO EM LISBOA - Hoje sugiro uma visita ao Museu Nacional de Arte Antiga para visitar a obra convidada, neste caso pinturas de Albrecht Durer. O primeiro é um clássico do artista alemão, o retrato de Jakob Muffel, que foi presidente da cidade de Nuremberga, datado de 1526. A obra (na imagem) mostra como Durer foi um dos grandes retratistas do Renascimento e foi cedida ao MNAA até 24 de Setembro pela Gemaldegalerie de Berlim. O segundo retrato é do rosto de um português, desenhado por Durer em 1521, que se supõe ser de João Brandão, que era feitor português em Antuérpia. Outra sugestão é a exposição “Vita Prima, Santo António em Portugal”, que está no Museu da Cidade, Palácio Pimenta, até 31 de Dezembro. A exposição é uma viagem pela vida de Santo António enquanto jovem, durante o tempo em que viveu em Portugal antes de ingressar na Ordem dos Frades Menores e ter ido viver para França e Itália. Fora de Lisboa, a norte, “Poeta Chama Poeta” é uma exposição realizada a partir de obras de Ana Hatherly da Coleção de Serralves, que fica até 1 de Outubro na Galeria Solar da Porta dos Figos - Casa do Artista, em Lamego. Por fim, se estiver nos Açores, pode visitar, na Galeria Fonseca Macedo, em Ponta Delgada (Rua Dr. Guilherme Poças Falcão) a exposição “1,2,3 O Prado Infinito” de João Miguel Ramos.
UMA VIAGEM IMPRESSIONANTE - No final do século XIX, em 1887, Bernardo Pinheiro Correia de Melo, também conhecido por Conde de Arnoso, esteve durante nove meses em viagem, de Marselha até Pequim, no coração da China, onde se deslocara para a assinatura do tratado sobre a tutela portuguesa de Macau. Pelo meio visitou lugares do colonialismo europeu, do Mediterrâneo e de Suez, a Hong Kong ou a Singapura. O livro que escreveu com o relato dessa viagem levou o nome de “Jornadas Pelo Mundo”, publicado pela primeira vez em 1895. Bernardo Pinheiro Correia de Melo, mais conhecido por Conde de Arnoso, nasceu em Guimarães, em maio de 1855. Estudou matemáticas e engenharia, foi oficial do exército e secretário pessoal do rei D. Carlos, que lhe atribuiu o título em 1895. Membro dos Vencidos da Vida, como autor usou também o pseudónimo literário Bernardo Pindela (era filho do visconde de Pindela), publicou vários livros e deixou vasta colaboração na imprensa da época. Cito excertos da introdução de Francisco José Viegas à nova edição de “jornadas Pelo Mundo”: «O Conde de Arnoso devia ser também assim: um dos elegantes do reino, cultíssimo, afável, naïve, cheio de monde, de curiosidade, de uma toillete adequada, dos pecados da época e de vontade de literatura.» Podia ser uma personagem de Eça de Queirós, escreve também Francisco José Viegas: «Os seus olhos são os de um ocidental vagamente emprestado ao exotismo.» O relato desta grande viagem mostra como os portugueses de então viam o mundo, numa altura em que o conhecimento que as elites europeias tinham da China era quase nulo. Interessam-no as personagens notáveis, os negociadores, o cerimonial, os vasos de porcelana, os templos, a presença cristã portuguesa. Confrontado com o prodigioso passado da China (as termas do imperador Qianlong, os túmulos Ming ou a Grande Muralha) e com as vicissitudes que o Império do Meio atravessava na época, Arnoso nunca abandona o seu olhar cosmopolita, minucioso, chocado diante da penúria, atento aos pormenores, assombrado perante as ruínas ou a promessa do futuro. Edição da Quetzal, na colecção “Terra Incógnita”, com prefácio e notas de Francisco José Viegas.
A DANÇA DA BARBIE - A Rolling Stone diz que a banda sonora de “Barbie” é como uma noite numa discoteca em que a música não deixa ninguém parar e quem lá está não quer que a noite acabe. Nicki Minaj, Dua Lipa, Karol G, Lizzo, Billie Eilish, e vários outros estão nas 16 faixas que integram o CD com a banda sonora do filme que está a bater recordes de bilheteira e que em Portugal já teve mais de 500 mil espectadores nas salas de cinema. Com produção do veterano Mark Ronson, “Barbie - The Album” captura em música a história que o filme conta. Vejam bem: Ryan Gosling, uma das estrelas do filme, canta “I’m Just Ken”, com arranjos e produção que parecem evocar Meat Loaf - um achado. Logo na primeira faixa, “Pink”, Lizzo começa por contar que gosta de acordar no seu mundo cor de rosa, mas reconhece que a vida é mais dura que os sonhos. E a seguir Dua Lipa canta “Dance The Night”, mais à frente Billie Eilish canta “What Was I Made For”. O álbum mistura temas inéditos com canções que evocam memórias e inclui estrelas pop já citadas como Dua Lipa e Lizzo, fenómenos globais como o cantor de reggaeton Karaol Gand ou o grupo feminino Fifty-Fifty e até Tame Impala, um grupo australiano meio psicadélico ou a cantora britânica Charli XCX. E, claro, não falta Sam Smith com o seu hino de dança “Man I Am”, uma pequena provocação no meio do álbum. Disponível nas plataformas de streaming.
PETISCO NO PÃO - Uma das minhas descobertas deste verão é a sanduíche de tomate. Vi a receita numa newsletter norte-americana e lancei mão da adaptação possível em Portugal. Comecei por procurar num comércio local tomate coração de boi bem maduro. Depois fui à procura de pão de crnteio de boa consistência. Tenho grande confiança no que é feito pelo Museu do Pão e que se vende já fatiado. A seguir peguei na minha maionese preferida e coloquei numa tigela duas colheres de sopa, que temperei com pimentão doce fumado, mexendo tudo muito bem. Barrei duas fatias de pão de centeio com esta maionese temperada e, depois, dispus as rodelas de tomate, não demasiado grossas, nem demasiado finas, por cima de uma das fatias. Temperei o tomate com uma pitada de sal, e algumas folhas de manjericão, tapei com a outra fatia de pão, cortei ao meio em dois pedaços. Entretanto para entrada tinha preparado uns figos pingo de mel, partidos ao meio e acompanhados por umas farripas de presunto. Juntei num tabuleiro os figos à sanduíche e sentei-me ao ar livre com um copo de cerveja bem fresca. Um petisco.
DIXIT - “Portugal não é bem um país, é uma sala de espera” - Ricardo Araújo Pereira.
BACK TO BASICS - “Não vale a pena ir por caminhos já percorridos, é preferível abrir um trilho novo e deixar uma marca” - Ralph Waldo Emerson
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