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OS TENTÁCULOS - Todas as semanas surgem mais uns indícios de que o PS não gosta nada de ser contrariado. Irritam-se quando alguém discorda ou chama a atenção para a possibilidade de o Governo estar a governar mal. O pacote sobre a habitação é o mais recente motivo de incómodos. Quem quer que tenha aparecido a dizer que o pacote era um saco vazio de conteúdo prático foi logo amaldiçoado. O exercício dos anúncios do Governo sobre a habitação é um exemplo perfeito de um plano preparado sem cuidado, sem atender à realidade, sem sequer consultar os principais interessados, que são os municípios. Nem vou falar do pendor ideológico da coisa, mas tenho a convicção de que algumas das medidas propostas têm origem no estado de espírito do Governo de António Costa e que é o “quero, posso e mando”, escudado na maioria absoluta. Nos últimos meses o Governo tem conseguido um número apreciável de baralhadas, um aumento da contestação e tem a seu crédito ter levado sindicatos a criarem novas formas de greve que dificultam ainda mais a vida das pessoas, nos tribunais, escolas ou hospitais. O Governo oscila entre ser um polvo esfomeado cujos tentáculos agarram o que podem por onde passam, ou um lugar vazio onde ninguém toma decisões com os pés assentes na terra. Esta semana Rui Ramos descreveu a situação de forma exemplar: “Temos um Estado que nunca empregou tanta gente, cobrou tantos impostos, recebeu tantos subsídios estrangeiros, e gastou tanto dinheiro, mas onde nada parece suficiente para vigiar os mares e ensinar os jovens”.
SEMANADA - O número de casamentos em Portugal no mês de Janeiro aumentou 44,5% face ao mesmo mês do ano anterior; em Janeiro nasceram em todo o país 7146 crianças, mais 11,8% que no mesmo mês do ano passado; a despesa do SNS com medicamentos subiu quase 10% em 2022, a maior subida dos últimos nove anos e o total ultrapassou os 1567 milhões de euros; 28,9% é a proporção de trabalhadores em regime de teletrabalho em Lisboa, a única região acima da média nacional, que é de 14,4%; o aumento médio das mensalidades dos lares em Portugal desde 2020 foi de 17%; as autoridades detectaram uma cave na zona da Penha de França, em Lisboa, que serviu de morada fictícia para mais de 2000 imigrantes; um estudo divulgado esta semana indica que 50% das famílias portuguesas admitiram não ter dinheiro suficiente para pagar todas as contas; o salário real dos trabalhadores com ensino superior caiu 134 euros entre 2006 e 2020; na nova edição do Relatório Mundial da Felicidade Portugal caíu do 34º lugar para o 56º; em 2022 foram comunicadas 1087 greves, o maior número desde 2013; a sindicalização em Portugal caíu de 63% para 15,3% em quatro décadas; em Portugal existem 60 freguesias com mais de mil imóveis vagos; em 2022 houve 50 gestores públicos que pagaram multa para evitar ir a julgamento; os certificados de aforro captaram cinco mil milhões de euros em dois meses; o custo da nova dívida pública já duplicou este ano com o aumento das taxas de juros; apenas dois por cento das empresas em Portugal são estrangeiras, mas elas empregam 900 mil pessoas e são responsáveis por 46% das exportações; um padrão português dos descobrimentos, do século XV, está desde 2019 encaixotado num porto da Namíbia.
O ARCO DA VELHA - Apenas 14 dos 98 padres suspeitos de pedofilia foram investigados pela Igreja.
VER - A exposição que mais me marcou recentemente foi “Hora de Ferro”, de Rudi Brito, que está na Galeria Balcony até 13 de Maio (na imagem). Nesta série de dez pinturas Rudi recorre a linhas de enquadramento que ao mesmo tempo limitam e expandem o que quer mostrar. O uso de cores vivas é acentuado pelo facto de o artista trabalhar sobre papel preparado com uma demão de esmalte. Esta técnica retira as qualidades associadas ao papel - absorção, fragilidade e textura. E o resultado é que as superfícies onde pinta sugerem uma sensação de dureza meio-brilhante, que acentua os traços da pintura e reforça a sua textura. Rudi Brito explica como trabalha: “O mecanismo ao qual recorro para começar uma pintura sem ter uma ideia clara da sua composição final, é preencher o espaço vazio com elementos que irão interromper a percepção geral da imagem. Num caso, em “Séance” foram as hortenses azuis e as folhas escuras. Só depois imagino o que poderá existir atrás deste cenário.” A Balcony tem desenvolvido um trabalho persistente na divulgação de uma nova geração de artistas, trabalho que merece ser acompanhado. Fica na Rua Coronel Bento Roma 12A, Lisboa. Para uma exposição completamente diferente sugiro uma visita ao Centro de Arte Manuel de Brito (campo Grande 113), onde é apresentada uma mostra que assinala o centenário do nascimento de Mário-Henrique Leiria, com um enfoque especial na sua ligação ao Grupo Surrealista Português. A exposição mostra o espólio deste escritor e pintor, e inclui trabalhos dele e de outros seus contemporâneos.
SOBRE O AMOR - Este livro foi posto, oportunamente à venda, no dia de início da Primavera. Falo de “Amor”, de Jorge de Sena, uma das figuras maiores das letras portuguesas no século XX e que tem sido injustamente esquecido. O livro recupera o ensaio “Amor”, escrito por Jorge de Sena em 1971, para o “Grande Dicionário da Literatura Portuguesa e de Teoria Literária”, e esta é a primeira vez que é editado de forma autónoma. A ideia de pedir a Jorge de Sena para escrever sobre o Amor, foi do coordenador do dicionário, João José Cochofel, que acreditava, e com razão, que a erudição de Jorge de Sena lhe permitiria abordar o tema de forma transgressora, como aconteceu. O texto é uma sistemática análise da explosão do amor na literatura portuguesa, seja ele «puro» ou «impuro», «normal» ou «anormal», «santificado» ou «pecaminoso», ou proibido por tabus sociais. A editora “Guerra & Paz”, que agora iniciou a publicação da obra de Jorge de Sena, sublinha que este é “um livro delicioso, impuro e pecaminoso, cujo curtíssimo título esconde uma assombrosa viagem pela explosão do erótico e do obsceno” . Cinco décadas depois, “Amor”, um dos 37 verbetes escritos por Jorge de Sena para o referido Dicionário, inicia a série de novas edições do autor. Estas novas edições com a chancela da “Guerra & Paz” incluem outros títulos de referência como “O Físico Prodigioso”, que Jorge de Sena assumia como podendo ter aspectos autobiográficos, uma novela que ele classificava como símbolo da liberdade e do amor. E, por último, na mesma série, foi também editado “Andanças do Demónio”, a estreia de Jorge de Sena na ficção.
IMPROVISAÇÕES - Ralph Alessi é um trompetista de jazz norte-americano, um virtuoso improvisador que tem tocado ao lado de nomes como Jason Moran, Steve Coleman, Fred Hersch ou Don Byron. O seu novo disco, “It’s Always Now”, é o quarto registo para a ECM e apresenta um novo quarteto que, além do próprio Alessi, integra o pianista Florian Weber, o baixista Banz Oester e o baterista Gerry Hemingway. O novo disco, agora editado mas gravado em Junho de 2021, mostra a grande cumplicidade desenvolvida entre o trompete de Alessi e o piano de Florian Weber - os dois músicos têm tocado juntos ao longo dos últimos anos em diversas formações. O disco tem um cuidadoso equilíbrio entre os temas improvisados e as composições tradicionais e nos improvisados nota-se particularmente o diálogo entre o piano e o trompete, como nos dois primeiros temas,”Hypnagogic” e “old Baby”. No terceiro tema o quarteto aparece pela primera vez, em “Migratory Party”. Oester e Hemingway formam uma secção rítmica que toca em conjunto há muito tempo, mas o primeiro encontro do baixista com Alessi deu-se no início das gravações deste disco e no tema “Diagonal Lady” percebe-se bem como os dois rapidamente se entenderam. Um dos temas mais fascinantes dos 13 que integram o disco é “His Hopes, His Fears, His Tears”, onde o diálogo entre trompete e bateria é depois acompanhado pelo piano e baixo numa rara conjugação musical. Ralph Alessi, “ It’s Always Now”, edição ECM, disponível nas plataformas de streaming.
A VER O SADO - Uma das zonas mais bonitas perto de Lisboa é a Arrábida e, em especial, a vista da baía do Sado. Um ponto privilegiado de observação é o restaurante Vela Branca, situado no Parque Urbano de Albarquel, mesmo à saída de Setúbal em direcção à Arrábida. Ali se pode almoçar ou jantar ou beber um copo ao fim da tarde na extensa esplanada. O restaurante tem uma grande vantagem - não é daqueles sítios a armar e cheio de conceito. A arquitetura é simples e boa, a sala é cómoda , o serviço é atencioso e a cozinha não desilude. Comecemos pelo básico quando nos sentamos : bom pão e azeitonas. Nas entradas há um choco frito aos pedaços pequenos com maionese de alho e, em homenagem às conservas setubalenses Belmar, uns filetes de cavala em escabeche de maracujá sobre esmagada de batata e uns filetes de sardinha em escabeche de cebola roxa e hortelã sobre pão frito com alho. E, claro, há ostras de Setúbal. Para coisas mais sérias podem espreitar a vitrina do peixe onde desde cabeça de garoupa a pregado se encontra bom material, que é tratado com carinho na cozinha, como no caso da dourada escalada ou do robalo ao sal. Outras sugestões são a massada de garoupa para duas pessoas ou o bacalhau grelhado às lascas. Nas carnes recomenda-se o bife tártaro e a picanha black angus. A carta de vinhos é variada e tem boas propostas a preços moderados, incluindo no vinho a copo. Aqui está um sítio onde se volta com prazer. Como o local tem vindo a ganhar fama, com razão, a reserva é obrigatória, sobretudo para os dias de fim de semana - é prudente reservar com antecedência, telefonando directamente para a Vela Branca - 265 523 046. Encerra às segundas e terças.
BOM - Os 75 anos do Hot Club e o trabalho desenvolvido em conjunto com a Câmara Municipal de Lisboa para encontrar uma nova sede para a instituição.
MAU - A total paralisação dos tribunais devido à forma de greve que foi implementada pelos sindicatos dos Funcionários Judiciais e dos Oficiais de Justiça, que decorre há um mês e não tem prazo para terminar.
DIXIT - “Os bispos sabem que nós sabemos que eles sabem muita coisa” - Daniel Sampaio, membro da Comissão Independente que investigou os abusos sexuais contra menores praticados por membros da Igreja.
BACK TO BASICS - “Sempre que se fixa preços administrativamente as coisas não funcionam” - António Costa e Silva
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