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SEGREDINHOS - Desde há meses que o Primeiro Ministro repete que o seu objectivo é todo o apuramento da verdade, doa a quem doer e custe o que custar. Já o repetiu e, na semana passada, no Parlamento, jurou estar disponível para responder a tudo onde quer que seja questionado. Independentemente de logo ali, na tribuna da Assembleia da República, se ter esquivado a responder às contradições da actuação do Governo no caso do SIS, o mais espantoso é que quase ao mesmo tempo em que Costa proclama disponibilidade, o PS, partido de que o Primeiro Ministro é Secretário-Geral, recusou todas as perguntas em sede parlamentar e inviabilizou a própria inquirição de António Costa, usando o peso da sua abusadora maioria absoluta para manter os segredinhos. Temos portanto um António Costa do Governo que se diz disponível e um António Costa de um PS que diz que ele está indisponível. Será isto um caso de dupla personalidade? Ao mesmo tempo o Secretário de Estado adjunto de Costa, Mendonça Mendes, que é quem o PS quer impedir que seja ouvido e diga o que se passou na noite das facas longas do SIS, conta já, entre ele e o primeiro ministro, com 28 recusas de resposta a perguntas sobre o caso no espaço de uma semana. É obra e deve estar a entrar para o Guinness. Quando achamos que a degradação do sistema político já atingiu o ponto mais baixo, há sempre alguma coisa que nos espanta ainda mais. A metódica e preparada ocultação da verdade é das piores coisas que esta maioria absoluta faz. Bem pode Costa pregar que quer que se saiba toda a verdade, mas enquanto o diz, esconde com afinco o que ajudaria a perceber o que de facto se passou.
SEMANADA - Segundo a Marktest, entre 2018 e 2022, o número de pessoas que utilizam a internet com mais de 65 aumentou 20% e representa agora 41% dessa faixa etária; segundo o mesmo estudo, nas pessoas entre os 15 e os 24 anos e entre os 25 e os 34 anos, a percentagem de acesso atinge o pleno, 100% e entre os 45 e 64 anos, os valores de acesso são de 84%; a taxa turística rendeu 21,4 milhões de euros de receita aos 13 municípios que já a aplicam nos primeiros quatro meses deste ano; os turistas norte-americanos já são os principais clientes dos hotéis de Lisboa; António Costa pediu mudanças em 15 dos 20 componentes do PRR para tentar cobrir falhas e dar mais um ponto percentual ao PIB; dos 18 ministros empossados há 14 meses após a vitória eleitoral do PS, apenas cinco não estiveram envolvidos em casos polémicos; 255 mil pessoas têm segundo emprego, o número mais alto dos últimos anos, segundo o INE; em Portugal 210 mil pessoas acima dos 65 anos continuam a trabalhar; de acordo com dados da Autoridade Tributária 53% das famílias portuguesas vive com menos de 964 euros por mês, e, dentro destas, 1/3 vive com menos de 714€/mês; de acordo com a Segurança Social 67% dos pensionistas têm pensões de reforma abaixo de 443 euros e 82% têm pensões de reforma que não ultrapassam os 665€; os portugueses têm um esforço fiscal de 32%, acima da média europeia e temos o quarto pior valor da UE; na última década 15% dos empregos criados são da responsabilidade de novas empresas entretanto surgidas; o Presidente da República só soube da intervenção das secretas no caso do Ministério das Infraestruturas ao fim de três dias; a direcção executiva do Serviço Nacional de Saúde trabalha há oito meses sem ter regras de funcionamento aprovadas.
O ARCO DA VELHA - Três fiscais da EMEL espancaram um condutor que estava mal estacionado, pontapeando-o no chão e ferindo-o em plena Avenida da República.
ENIGMA E SUBVERSÃO - Uma das melhores exposições deste ano está no MAAT /Central Tejo e é “Hello Are You There?”, de Luísa Cunha. Trata-se da maior retrospectiva da obra de Luísa Cunha, produzida na sequência da atribuição do Grande Prémio Fundação EDP Arte 2021. Com mais de meia centena de obras, e curadoria de Isabel Carlos, a exposição (na imagem) abrange peças sonoras, vídeo, desenho, pintura e escultura. Na exposição estão algumas das marcas autorais de Luísa Cunha como a colocação de peças em espaços inusitados, meios minimalistas e o uso da própria voz e da palavra como matéria plástica, com um sentido de humor desarmante. É uma exposição que tanto é para ser vista como escutada, sentida, descoberta. Vai estar no MAAT até 28 de Agosto e é uma oportunidade única de descobrir a obra de Luísa Cunha “um universo artístico intrigante, enigmático e subversivo”, nas palavras de Isabel Carlos. Ao mesmo tempo foi lançado o mais completo catálogo da obra da artista até à data. “Luisa Cunha. Obras / Works 1992–2022” que abarca ao longo de duas centenas de páginas um total de 108 obras e dois ensaios originais, uma da autoria de Isabel Carlos, e outro de Joshua Decter, escritor, curador e historiador de arte norte-americano. Mais exposições a não perder por estes dias: a série de desenhos e a instalação “Poems For Tourists” de Pedro Barateiro, até 29 de Julho na Galeria Filomena Soares; o trabalho de “Plan American” de Rodrigo Oliveira na Galeria Balcony até 8 de Julho; “Looking for Eden” de Daniela Krtsch e “tre-due-no” de Joana Rebelo de Andrade na Galeria Belo Galsterer, até 21 de Julho; a instalação “São Dinis de Paris?, de Rui Sanches, na Galeria da Casa A. Molder; e deixo para o fim uma exposição a que regressarei na próxima semana, “Before Breakfast”, de Matt Mullican, que fica na Galeria Cristina Guerra até 17 de Junho.
DIÁRIO DE GUERRA - Ernst Jünger é um dos grandes nomes da literatura alemã, nasceu no final do século XIX, fez uma carreira militar e integrou o exército alemão na Primeira e Segunda Guerra mundiais, tendo estado ligado aos conjurados do atentado de 1944 contra Hitler. Nos seus diários manifestou desprezo pelos nazis e vergonha pelas estrelas amarelas impostas aos judeus. “Tempestades de Aço”, que agora é publicado pela primeira vez em Portugal, combina ficção e notas dos diários do autor nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Descrições realistas da guerra, um hino ao heroísmo e elegia do sofrimento no campo de batalha são os ingredientes deste livro. Jünger, evoca e revive, com objectividade e sem condescendência, os aterradores combates que os soldados viveram na Frente Ocidental, de Janeiro de 1915 a Agosto de 1918. O que distingue este dos outros livros de guerra é a sua chocante violência: a guerra surge como coisa objectiva, independente de qualquer inimizade pessoal, um território de terror. Num tempo em que a Europa vive novo conflito armado, pela escrita do soldado alemão Jünger, entramos nas trincheiras, tombamos nos buracos dos morteiros, debaixo de fogo de artilharia. E, no meio disto, descreve o contraste: «A coisa estranha é que as avezinhas na floresta pareciam imperturbáveis pela miríade de explosões; estavam tranquilamente pousadas na ramagem despedaçada, por cima das espessas nuvens de fumo. Nos curtos intervalos do tiroteio, podíamos ouvi-las cantar alegre ou ardentemente, como se inspiradas ou até encorajadas pelo aterrador barulho de todos os lados.» A tradução é de Maria José Segismundo dos Santos e a edição é da Guerra & Paz.
SILÊNCIOS - Paul Simon tem 81 anos e desde há seis décadas é uma referência da música popular. Tudo começou quando em 1964, juntamente com Art Garfunkel, gravou a canção “The Sounds Of Silence” no seu álbum de estreia. Agora, depois de ter anunciado há meses que iria parar a sua actividade musical, edita um disco que é, de novo, uma busca pelo efeito do silêncio na música. O disco chama-se “Seven Psalms” e é composto por uma faixa única de 33 minutos, dividida em sete partes. O título do disco tem a ver com os salmos bíblicos do Rei David, algo que Paul Simon afirma ter descoberto recentemente. O primeiro dos momentos do disco chama - se “The Lord” e o derradeiro “Wait” e o álbum é mais uma incursão pelo universo da espiritualidade que foi sempre presente ao longo da sua obra - apesar de ele proclamar não saber se é, ou não, crente. Algures no disco Paul Simon canta:“I lived a life of pleasant sorrows until the real deal came.” E este assunto, passará por ser a fé - que relata no momento final, “Wait” cantado em dueto com Edie Brickell, com quem está casado há mais de 30 anos. “My hand’s steady/My mind’s still clear/ I hear the ghost songs I own/Jumpin’, jivin’, and moanin’ through a heartbroken microphone. - canta Simon a meio do disco. Todo o trabalho é maioritariamente feito apenas com a voz de Paul Simon e sua guitarra, pontualmente com a presença de outros instrumentos como a harmónica, ou de vozes de um coro e a de Edie Brickell. A voz de Simon, às vezes um sussurro, é bem descrita num dos seus salmos, “My Professional Opinion”, uma faixa inspirada nos blues, onde ele canta “What in the world are we whispering for?”
SALADA ROSADA - Desta vez fui apenas o observador e provador, com gosto, de uma salada fria, boa para o verão, preparada pelo outro lado da mesa. Trata-se de um prato onde o bacalhau e a beterraba são os principais protagonistas, coadjuvados pelo aipo e a quinoa. O primeiro passo é cozer dois bons lombos de bacalhau e reservar a água da cozedura - que vai servir para cozinhar uma chávena de chá de quinoa - seguindo as instruções de cozedura. O segundo passo é desfiar o bacalhau, tendo o cuidado de tirar bem a pele e as espinhas. Entretanto aproveite para escorrer a quinoa e deixar repousar. O passo seguinte é ralar uma beterraba, das que se vendem já cozidas, e numa taça larga misturar a quinoa escorrida, a beterraba ralada e o bacalhau desfiado. Regue tudo com o sumo de um limão e misture bem. A seguir pique dois ou três talos de aipo, lavados e crus, adicione aos restantes ingredientes e volte a misturar, temperando com azeite de boa qualidade, sal e pimenta. No final coloque por cima hortelã fresca e sirva. Um rosé seco e fresco acompanha bem, na cor e na conjugação de aromas, esta salada invulgar que, nas quantidades indicadas, dá bem para seis pessoas.
BOM - Nas eleições europeias de 2024 os cidadãos vão poder escolher onde votar e saber as mesas sem filas.
MAU - A Segurança Social de Braga tem dificultado o apoio terapêutico a crianças com necessidades especiais.
DIXIT - “Não cabe ao Presidente da República pronunciar-se sobre a oposição” - Rui Rocha, Presidente da Iniciativa Liberal
BACK TO BASICS - “Quando acharmos que estamos ao lado da maioria, chegou o tempo de pensar em reformarmo-nos” - Mark Twain
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