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TRISTEZA - Sobre a actualidade política digo apena isto: a disputa pela liderança do PS é um bom case study do que afasta as pessoas da política: barões e figurões que incentivam revisões apressadas dos estatutos, velhos do restelo que se juntam para esquecer o presente e fazer do futuro um regresso ao passado, uma actividade de permanente agressão nas redes sociais - tudo isto mostra o pior do sistema partidário que temos. Como escreveu no “Observador” Manuel Villaverde Cabral, “o caldo está a entornar-se”.
SEMANADA - Na noite de São João, no Porto, registaram-se três esfaqueamentos e quatro agressões a polícias; na reunião da Comissão Nacional do PS, em Ermesinde, registaram-se altercações, insultos e desacatos entre apoiantes de Costa e de Seguro; cada rapaz internado em 2013 em centros educativos - as “prisões” para jovens entre os 12 e 16 anos - cometeu em média nove crimes, enquanto as raparigas nas mesmas circunstâncias praticaram sete; a cobrança de mais impostos foi a responsável por 60% da redução do défice; quase metade do aumento de 477 milhões de euros da receita fiscal foi para pagar juros da dívida; o número de devedores fiscais aumentou 22%; os processos parados nos centros de arbitragem subiram 21% em três anos; há mais de 265 escolas do 1º ciclo em risco de encerrar por falta de alunos; os chineses foram a comunidade estrangeira que mais cresceu em Portugal em 2013, com um aumento de 6,8%, para um total de 18 637 imigrantes; Portugal tem a segunda taxa mais alta da União Europeia em contratos a prazo involuntários; estudos da Markteste indicam que 85% dos portugueses têm contacto regular com jornais e revistas e que ao longo do mês de Maio 5,5 milhões de portugueses navegaram na internet a partir de computadores pessoais e cada utilizador esteve ligado uma média mensal de 23 horas e 19m minutos; num almoço público, em Lisboa, Rui Rio remeteu para o Destino a hipótese de ser Primeiro Ministro; Tony de Matos cantava, em 1970 a canção “O Destino Marca a Hora”, no filme do mesmo nome.
ARCO DA VELHA - Os comboios do Metro de Lisboa estão desde 2010 sem um dos sistemas de extinção de incêndios e os travões de emergência estão desactivados em toda a frota há dois anos - a Procuradoria Geral da República admitiu estar a investigar falhas de segurança naquele meio de transporte.
FOLHEAR - Ivan Carvalho é um luso-descendente nascido nos Estados Unidos, correspondente da “Monocle”, sediado em Milão, e que nos últimos tempos tem sido o autor de uma série de artigos que a revista tem publicado sobre Portugal. A edição especial de Julho/Agosto da “Monocle”, agora distribuída, vem cheia de referências ao nosso país, a começar por um belo portfolio fotográfico de Cascais (com chamada de capa), acompanhado por um texto de Ivan Carvalho que percorre a influência do mar, mas também da gastronomia e das actividades culturais, seja na casa das Histórias Paula Rego ou as galerias e ateliers de artistas na Pousada da Cidadela. Pelo meio ficam os gelados Santini, relatos de estrangeiros que escolheram Cascais para viver e, sempre, a atracção do oceano. Mas a “Monocle” foi também ao Porto (com um guia de compras no Mercado do Bolhão), fala do surf na Ericeira, enaltece em Lisboa a recuperação do rio que a cidade começou a fazer há uns anos atrás, antes de Costa, elogia os desenhos dos passeios tradicionais que o actual executivo camarário pretende extinguir, chama a atenção para as debilidades na reabilitação, mostra o Bar Oslo no Cais do Sodré, sugere os quiosques recuperados onde se bebem refrescos e se petisca. Na habitual lista das melhores 25 cidades para viver que a “Monocle” publica nesta altura do ano, Lisboa volta a entrar na 22ªa posição, após uma ausência de dois anos, atrás de Barcelona e à frente de Oslo. A melhor cidade, diz a “Monocle” é Copenhaga. Destaco ainda os dez ensaios que são o prato de substância desta edição, muito focados na boa utilização das cidades. Finalmente artigos a ler sobre bosn exemplos de imprensa local e sobre a recuperação de velhas salas de cinema como espaço de convívio de cinéfilos.
VER - António Pinto Ribeiro é o criador e programador do “Próximo Futuro”, uma iniciativa tão inovadora e disruptiva que nem parece saída das teias de aranha, tradicionais ou contemporâneas, que infelizmente se tornaram a imagem de marca da acomodada Gulbenkian. Ao longo dos últimos anos o “Próximo Futuro” tem vindo a construir o cruzamento de ideias e de práticas artísticas entre Portugal e a Europa, África, América Latina e Caraíbas. Por estes dias iniciou-se o ciclo de Verão, que vai até Setembro, particularmente focado na América Latina. Para além das exposições há debates e sobretudo um jornal que sazonalmente dá conta do Programa e recolhe ideias, mostra imagens e incentiva, de facto, à leitura. Na Galeria de Exposições temporárias, de terça a domingo, infelizmente sempre apenas das 10 às 18, está a exposição que reúne obras de 21 artistas de diversos paíeses e continentes. Há no Jardim da Fundação uma peça de arquitectura criada de propósito para a ocasião, apresentada como um tótem desenvolido por Tiago Rebelo de Andrade e Diogo Ramalho, da Subvert, “que permite às pessoas experenciarem o seu interior”. De 20 a 22 de Julho decorreu a festa da literatura e do pensamento da América Latina que pretendeu debater se existe, ou não, uma identidade latino-americana. Ao mesmo tempo houve já música e cinema, que em Setembro se repetem, ao lado de teatro e de dança. Sigam o programa em www.proximofuturo.gulbenkian.pt
OUVIR - Tiago Bettencourt começou a sua carreira em 2003 com os Toranja e logo se fez notado. Em 2007, acompanhado pelos Mantha, fez “O Jardim”, que incluía o tema “Canção Simples”. Meia dúzia de anos e de discos depois surge “do princípio”, talvez o seu álbum mais maduro. Como sempre as canções são integralmente da sua autoria, a banda que o acompanha integra agora João Lencastre na bateria, Tiago Maia no baixo (muito bom) e Daniel Lima nos teclados. Há colaborações de Fred Ferreira, Jacques Morelenbaum e Mário Laginha, entre outros, e a produção executiva é de João Pedro Ruela. Gosto muito da maneira como Tiago Bettencourt escreve, embora por vezes o ache entre o previsível e o inconstante na interpretação. Mas neste disco há temas incontornáveis, como “Maria”, “Fúria e Paz”, um quase hino chamado “Ameaça”, o belíssimo “Sol de Março” ou um momento que evoca Jorge Palma e que é perfeitamente contemporâneo, mesmo que Tiago Bettencourt, nas entrevistas, lhe queira tirar a carga política de crítica da actualidade: “Aquilo Que Eu Não Fiz”, o grande tema deste disco, que certamente ficará entre as grandes canções portuguesas deste ano: “Eu não quero pagar por aquilo que eu não fiz (...) Não fui eu que gastei mais do que era para mim/ não fui eu que tirei, não fui eu que comi, não fui eu que comprei, não fui eu que escondi quando não estavam a olhar, não fui eu que fugi”. (CD Universal)
PROVAR - Numa boa e cúmplice surpresa descobri, a meia centena de quilómetros de Lisboa, um segredo bem escondido chamado Areias do Seixo, um hotel com uma dúzia de quartos, num local único, em cima do oceano, entre a Lourinhã e Santa Cruz, no meio das dunas, sobre uma falésia que desce para o mar. Para além do bem conseguido projecto de arquitectura, de exterior e interiores, há um cuidado com os pormenores na utilização de materiais naturais e da região e na utilização de materiais reciclados no mobiliário. O sítio combina, em doses invulgarmente certas, o rustico com o conforto e o contemporâneo. O hotel tem uma pequena área de horta e outra de estufa onde se cultivam produtos que são servidos no restaurante - legumes, fruta, ervas a infusões, e também, noutro plano, ovos frescos. O buffet do pequeno almoço é exemplar no aproveitamento dos recursos naturais e da região, sem coisas desnecessárias e com muita atenção a proporcionar um bom começo de dia. O peixe é fresquíssimo e é porventura o maior trunfo da cozinha, privilegiando os temperos naturais e os processo culinários simples. A carne é bem cozinhada, no ponto, sem margem para dúvidas. No bar, além dos biscoitos e dos chás do lanche, há petiscos, que se repetem na carta de entradas. Pessoalmente abomino menus de degustação impostos, que é o ponto fraco da proposta do jantar onde os items infelizmente não se podem separar. Mas tirando isso, a lista tem alternativas e a coisa corre muito bem embora fosse desnecessário o encanto pela espuma servida numa sobremesa que não era mais que um chantilly disfarçado - síndrome de chef com complexo molecular, digo eu. O serviço é geralmente atento, eficaz e discreto, embora por vezes renitente a críticas na zona da restauração. Há bons vinhos da região, os inevitáveis gins da moda, mas abertura suficiente para servir um gin tónico à antiga, á moda do império britânico. Na mercearia, além das infusões, há peças artesanais, compotas, vinhos e azeites. O balanço geral é francamente positivo, pelo conforto, pela atenção, pelo descanso que é possível ter entre as areias do seixo. Reservas para 261 936 350 ou info@areiasdoseixo.com.
DIXIT - “Sócrates não antecipou a gravidade da crise financeira nem travou as PPP” - João Proença, membro do secretariado do PS e ex-dirigente da UGT.
GOSTO - Da decisão de criar a curto prazo uma Film Commission que permita captar mais produções audiovisuais internacionais para Portugal.
NÃO GOSTO - Do sacudir água do capote dos responsáveis da Federação Portuguesa de Futebol a propósito do Mundial
BACK TO BASICS - Os políticos são todos semelhantes em qualquer país: prometem fazer pontes onde nem sequer existe um rio - Nikita Khrushchev
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