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UMA CANÇÃO QUE CONTINUA ACTUAL

por falcao, em 10.02.23

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UM PAíS ADIADO - Meio século atrás havia uma canção, de Sérgio Godinho, que tinha como refrão as palavras pão, paz, habitação, saúde e educação, os pontos que reivindicava como condição para que, de facto, as pessoas fossem livres. Se olharmos para os meses mais recentes vemos que existem sinais de diminuição do consumo de produtos básicos de uma alimentação saudável devido ao aumento dos preços, sabemos que a paz é um desejo permanentemente ameaçado, sentimos os problemas graves que existem no sistema nacional de saúde, estamos no meio de um turbilhão na educação e a habitação é um sério problema, quer pelo aumento dos preços das casas, quer pelo aumento dos custos de financiamento, quer ainda pelo inflacionado e anémico​​ mercado de arrendamento. Bem vistas as coisas, em meio século, estes indicadores básicos não foram cumpridos. Olhemos para a habitação. Um relatório recente do Banco de Portugal revela que, desde outubro do ano passado, o custo financeiro de comprar casa em Portugal superou o custo na média dos países do euro: em dezembro, a taxa de juro média dos novos créditos à habitação em Portugal era 36 pontos base superior à taxa cobrada pelos bancos da Zona Euro e, em 2022, a taxa de juro média dos novos empréstimos à habitação mais do que triplicou em relação a 2021. Outros estudos indicam que em 2022 o preço médio das casas subiu 9,7%. Nas grandes cidades cada vez mais pessoas, sobretudo idosos com contratos de arrendamento antigos, são forçados a sair das suas habitações. Os mais novos, no início da sua vida profissional, têm sérias dificuldades em suportar os custos de habitação. O país prometido não se cumpriu, os Governos não fazem reformas estruturais, passeiam-se apenas pelo poder, adiando sempre o principal.

 

SEMANADA - No primeiro ano de maioria absoluta do atual governo, os serviços públicos foram alvo de quase 14 mil reclamações dos portugueses. O IMT, a Segurança Social, o SEF, o SNS e a AT lideram a tabela das reclamações, a maior parte das quais relacionadas com o mau atendimento das entidades, entre janeiro e dezembro de 2022, chegaram ao Portal da Queixa 1788 reclamações relacionadas com problemas nos serviços de entrega de refeições ao domicílio e atrasos nas entregas é uma das principais causas; os estabelecimentos de cabeleireiro perderam 20% de faturação em 2022; a renegociação de empréstimos à habitação duplicou em três meses; em três anos o preço da habitação disparou 38%; em 2022 13 casas em Lisboa e no Algarve foram compradas com criptomoedas; um estudo divulgado esta semana indica que os adolescentes começam a actividade sexual mais tarde e fazem-no cada vez mais sem protecção; o Parlamento recebeu 163 pedidos para repor freguesias que foram extintas em 2013; mais de um terço dos cheques-dentista emitidos não foram utilizados; segundo a Marktest entre janeiro e dezembro de 2022 os programas regulares de informação da RTP1, SIC e TVI emitiram 79 705 notícias; os serviços de noticiário destes canais generalistas  tiveram uma duração total de 2 971 horas, uma média diária de 2 horas e 42 minutos por canal; um estudo da Universidade Nova Indica que o uso mais intenso de lareiras agravou a poluição no norte do país.

 

O ARCO DA VELHA - A direcção do Bloco de Esquerda é acusada pela oposição interna de perpetuação no poder, ausência de democracia interna, de esvaziamento dos princípios e de impedir a diversidade dentro do partido.

 

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CONVERSA EXPOSTA - Em Elvas, no Museu de Arqueologia e Etnografia, está patente uma exposição de obras de Pedro Calapez e Rui Sanches que integram a colecção António Cachola, a maioria feitas nos anos 90 e na primeira década deste século. Ao todo são cerca de duas dezenas de obras - pintura e desenho no caso de Pedro Calapez e escultura e desenho no caso de Rui Sanches. Sob o título “Conversa”, os dois artistas fazem, como sublinha Rui Sanches na folha de sala, um dueto. E Calapez esclarece: “aparecemos em diferentes momentos nesta colecção, que desde há quinze anos é a coleção António Cachola-Mace, e teremos eventualmente sido dos primeiros artistas em que o seu olhar pousou e fez juntar as obras que fazíamos ao seu tesouro.” A exposição completa-se com duas peças que não fazem parte da colecção, uma de Calapez que está exposta no Paiol de Elvas e outra de Rui Sanches que será mostrada em Junho, na Cisterna. Ao mesmo tempo, no MACE (Museu de Arte Contemporânea de Elvas”, abriu também a primeira parte da exposição “A fotografia na colecção António Cachola”, com mais de duas dezenas de autores como Jorge Molder, António Júlio Duarte, Augusto Alves da Silva, Daniel Blaufuks, José Maçãs de Carvalho, Luís Campos, Nuno Cera, Patrícia Garrido e Pedro Barateiro, entre outros. Permanecendo na fotografia mas mudando de local, destaco “New Lisbon”, o trabalho de Gonçalo Fonseca, exposto na Galeria Santa Maria Maior (Rua da Madalena 147). è um impressionante retrato da crise habitacional que se vive em Lisboa e que começou antes da pandemia. Gonçalo Fonseca faz um exemplar trabalho documental em três dezenas de fotografias, que são também outras tantas histórias, com imagens realizadas em 2019 e 2020. Por último a Incubator Photo Gallery e o Teatro do Bairro (Rua Luz Soriano 63) apresentam “Selfie?”, 24 autorretratos de Pedro Cabrita Reis, em Polaroids.

 

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MANUAL POLÍTICO - O título é logo uma provocação, bem ao jeito do seu autor:”Como perder uma eleição” - uma compilação de pensamentos que Luís Paixão Martins aperfeiçoou ao longo das várias campanhas eleitorais em que participou como conselheiro de comunicação, e que por sinal venceu. Entre histórias e reflexões, com recurso a princípios básicos que foi estudando ao longo dos anos, o livro é um manual de boas práticas de comunicação que os políticos deviam adoptar, não só em eleições, como ao longo do exercício do poder., quando as ganham. Entre não querer agradar a todos e combater a ambição de mudar o mundo em dois meses, a leitura das sondagens e o elementar bom senso de ouvir o que se diz, o livro é um bom exercício e dá que pensar.  Como o autor sublinha, “na relação com os media, nós entramos no jogo, não criamos as regras”. Mais que relatar o que lá está, deixo aqui algumas citações, extraídas com a devida vénia. Ora vamos a isso: “Fora das eleições a política não faz parte dos interesses da generalidade dos portugueses”; “a política não é o futebol. No futebol, são os resultados que fazem os fãs. Na política são os fãs que fazem os resultados”; “numa campanha eleitoral, os media vencem os políticos, com larga vantagem, na captação do interesse dos eleitores. Percebe-se porquê: porque os media são ao mesmo tempo canal e protagonista, e os políticos, coitados, são meros protagonistas à procura de atrair o canal”. E talvez a melhor de todas:  “A outra condicionante da relação com os media durante o curto período da campanha é a gestão do menu de conteúdos. Cada candidato tem a sua própria lista de temas que gostaria de agendar - os favoráveis para si, os embaraçosos para os adversários. É fácil identificar esses temas: são os que não interessam aos jornalistas”.  “Como perder uma eleição” é edição Zigurate.

 

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TRIO HARMONIA  - Costumo dizer que o mundo está cheio de boas vozes, mas não está cheio de grandes cantores. Para cantar não basta ter boa voz, é preciso saber sentir e interpretar o que está nas palavras - e isso é o que infelizmente falta a muita gente que diz cantar. Felizmente não é esse o caso de Melissa Stylianou, uma canadiana que veio do teatro musical para o jazz e se apaixonou por alguns dos grandes clássicos. O recente álbum “Dream Dancing” é um exemplo do seu talento e uma prova dessa sua paixão pelos standards, aquilo a que se convencionou chamar The Great American Songbook. Mas o disco não tem só versões, inclui um original da própria Melissa dedicado a Chet Baker. Há uma razão para este “For Chet”: para além da voz de Melissa é justo dizer-se que o disco tem encantos adicionais na forma como Gene Bertoncini toca guitarra acústica e Ike Sturm toca contrabaixo e Gene era uma dos músicos que tocava com Chet Baker. Na realidade “Dream Dancing” não é o disco de uma vocalista, mas de um trio de voz, guitarra e baixo, num perfeito e raro entendimento. Entre os clássicos estão uma versão arrebatadora de “Perdido”,  um “Corcovado” cantado em português e inglês, e versões de temas como  “It Could Happen To You”, “Sweet And Lovely”, “My One And  Only Love” e “It Might As Well Be Spring”. Disponível nas plataformas de streaming.

 

CANTINA ITALIANA - Marcello Di Salvatore é um italiano que vive há uma dúzia de anos em Portugal onde criou a sua Cantina Italiana, a que chamou Bella Ciao. Natural de Abruzzo, no centro de Itália, apostou em fazer uma cozinha familiar, com receitas tradicionais. Depois de duas localizações na baixa, o Bella Ciao mudou há pouco tempo para a zona de Alcântara, na Rua do Costa, junto ao largo ao fundo da Rua Maria Pia. Este espaço é bem maior que os anteriores, a decoração continua a ter a marca de Itália, desde as toalhas aos quadrados das mesas aos cartazes que decoram as paredes. A lista tem entradas como vitello tonnato e nos pratos principais há um simples esparguete com azeite, alho e peperoncino, orecchiette com brócolos e queijo Grana Padano, uns clássicos penne all'arrabbiata, pappardelle con funghi porcini e, acima de tudo, um spaguetti carbonara, tradicional e sério, com esparguete de bom calibre, sem o pecado habitual das natas e com a tradicional receita que apenas leva gema de ovo e queijo, além de pancetta. E, claro, há boas pizzas. Nas sobremesas o Tiramisú recomenda-se e há uma muito procurada mousse de Nutella. Rua do Conde 10, telefone 210 935 708.

 

BOM - O catálogo da exposição “Sombras do Império”, que esteve no Padrão dos Descobrimentos, é um exemplar trabalho de investigação sobre  os sucessivos planos urbanísticos e projectos de arquitectura da Praça do Império.

 

MAU - José Sá Fernandes, o coordenador das Jornadas da Juventude nomeado pelo Governo, ainda não deu a conhecer o plano de mobilidade para o evento que deve envolver milhão e meio de pessoas.

 

DIXIT - “Pretender controlar a linguagem, proibir posições e atitudes, exigir “direitos” que são identitários-corporativos, é a pior maneira de criar igualdade e tolerância" - José Pacheco Pereira

 

BACK TO BASICS - “Os que andam à caça dos outros devem lembrar-se que também podem ser caçados” - Esopo




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