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ROAD TO NOWHERE - O PSD vai a votos este fim de semana para escolher o futuro líder e, no início de Julho, fará um Congresso para discutir a estratégia a seguir. Trocado por miúdos a proposta do PSD é que se escolha o seu líder sem saber a estratégia que irá seguir e as políticas de fundo que defenderá. A campanha interna entre Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva tem sido um deserto de ideias e uma abundância de proclamações gerais. Ao fim de 11 eleições directas o PSD perdeu relevância eleitoral, afastou-se do país, perdeu eleitorado mais jovem. 48 anos depois da sua fundação o PSD está cansado, desactualizado, e parece desorientado - dividido entre satisfazer clientelas internas ou procurar um rumo para conseguir sair para fora do seu círculo, cada vez mais fechado. Aos olhos de muitos portugueses o PSD é um partido de constantes lutas internas onde se procura mais satisfazer interesses sectoriais e particulares que procurar reformar o que está mal na sociedade portuguesa- esta é a herança deixada por Rui Rio. A actual campanha para as directas é uma luta interna entre facções do aparelho, na prática não interessa a quem está de fora, nenhum dos candidatos consegue restabelecer a ligação emocional com o eleitorado com as frases vazias que usa e a confrangedora falta de ideias que exibe. O PSD actual é como que uma rocha, demasiado pesada para se mover, e que, a seguir este rumo, se irá afundando até ficar debaixo de água, a caminho de se tornar irrelevante. O caminho que percorre, citando os Talking Heads, é uma “road to nowhere”.
SEMANADA - O número de novas empresas de alojamento turístico e restauração subiu 45% nos primeiros quatro meses do ano; mais de 12% das pessoas residentes em Portugal, entre os 16 e os 74 anos, quase um milhão, é de origem imigrante e um terço nasceu nos PALOP; um desconto de 20% na electricidade para agricultores, medida aprovada em 2021 na Assembleia da República, continua sem ser aplicada por falta de um despacho do Ministério das Finanças; só dez funcionários públicos aceitaram ir trabalhar para o interior do país; segundo a Comissão Europeia Portugal gasta 11,8% do PIB com a folha salarial da função pública, um valor acima da média europeia; nos últimos dez anos o preço das casas cresceu três vezes mais que o rendimento das famílias; um inquérito do Ministério da Educação indica que um terço dos alunos tem sinais de sofrimento psicológico e que mais de metade dos professores sente-se triste e irritada; a morte de mulheres no parto em 2020 atingiu o nível mais alto dos últimos 38 anos; segundo um estudo da Marktest, 3,5 milhões de portugueses gostariam de um dia ter o seu próprio negócio e esta ambição é tanto maior quanto mais jovens são os inquiridos, atingindo os 62.7% entre os jovens dos 15 aos 24 anos; 95% dos engenheiros web que saem das universidades portugueseas não ficam cá por causa das baixas remunerações e da falta de incentivos; 85% das amostras de peras e 58% das de maçãs cultivadas no país apresentavam resíduos de pesticidas nocivos que já deviam ter sido retirados de circulação; em 2021 a APAV registou 84 homicídios, 33 dos quais em contexto de violência doméstica.
O ARCO DA VELHA - Um juiz de casos de família e de menores é acusado de violência doméstica pela mulher, também juíza no Tribunal de Viseu.
O OLHAR FOTOGRÁFICO - A colecção Ph., editada desde 2017 pela Imprensa Nacional, por iniciativa de Cláudio Garrudo, está a criar uma série de monografias dedicadas a fotógrafos portugueses contemporâneos, iniciada com Jorge Molder e que agora, no seu oitavo volume, pública Daniel Blaufuks. Maria Filomena Molder, que fez um texto magnífico de enquadramento da obra, começa por falar dos autorretratos de Daniel Blaufuks presentes no livro e sublinha que “a fotografia é parente do espectro, do fantasma que o corpo lança, enquanto vai caminhando para a morte”. Neste volume Ph.08 surgem várias imagens presentes em livros anteriores de Blaufuks o que suscita também uma interpretação de Maria Filomena Molder:” Se compararmos as fotografias que estão reproduzidas em Ph.08 com as mesmas imagens reproduzidas noutros livros, percebemos de imediato a autoexpressividade - o diferencial- a engendrar-se, pois, na verdade, as fotografias já não são as mesmas, o que é provocado pelo arrancar do contexto anterior”. Aqui a filósofa toca num ponto que torna este Ph.08 bastante diferente de edições anteriores da mesma colecção - e que é a forma como Blaufuks dispôs as fotografias ao longo do livro, de uma forma mais conceptualizada e criativa que edições precedentes da Ph. Daniel Blaufuks aliás já referiu em tempos que acha mais estimulante fazer livros que exposições e isso sente-se neste Ph. Blaufuks tem construído séries, que por vezes percorre ao longo de vários anos, e recorrentemente produz visões diferentes do mesmo espaço - como o livro tão bem mostra. Estas séries, pessoalíssimas em vários casos, são uma das imagens de marca de Blaufuks e mostram a diversidade do seu olhar. A maneira como estão aqui apresentadas cabe dentro de uma frase de Maria Filomena Molder: “Baudelaire associou a fotografia ao poder de rememorar e arquivar, retendo aquilo que está à beira de ser destruído”.
COMBINAÇÕES INESPERADAS - “The Time Before”, de Melik Ohanian, é uma curiosa exposição que pode ser vista na Galeria Cristina Guerra até 25 de Junho (Rua de Santo António à Estrela 33). Ohanian é de origem arménia, nasceu em França em 1969 e tem trabalhado em Paris, onde é representado pela galeria Chantal Crousel. Já expôs no Centre Pompidou e no Palais de Tokyo, foi o representante da Arménia na 56ª, Bienal de Veneza, em 2015 e participou nas bienais de São Paulo, Berlim e Sidney. Melik Ohanian começou a expôr em 1995 e está representado em numerosas colecções institucionais e privadas, sendo esta a sua primeira exposição em Portugal. Em “The Time Before” Melik Ohanian mostra vinte peças, todas elas já expostas noutros lugares, que na Galeria Cristina Guerra se apresentam de uma forma dupla - quer como peças individuais num espaço próprio, quer na relação que estabelecem com outras das obras ali apresentadas(na imagem). Outra exposição que vale a pena visitar em Lisboa está na Galeria Zé dos Bois (Rua da Barroca 59) e mostra até 31 de Julho 80 imagens inéditas do espólio do fotógrafo brasileiro Mauro Restiffe, comissariada por João Maria Gusmão e Natxo Checa. Trata-se da primeira grande exposição em Portugal do trabalho de Restiffe. São instantâneos da vida no Brasil, muito centradas na envolvente pessoal, familiar e social do fotógrafo e que constituem um bom retrato do que observou entre a segunda metade dos anos 90 e a segunda década do século XXI. Duas sugestões mais: Nuno Viegas na galeria Zaratan (Rua de S. Bento 432) e Joh, Jorge Humberto, na Trama (rua do Mirante 12).
CANÇÕES DE ESPANHA - Luz Casal começou a ser conhecida internacionalmente quando cantou “Piensa en Mi” no filme “Tacones Lejanos”, de 1991, realizado por Pedro Almodóvar. Nascida na Corunha, foi em Madrid, nos anos da Movida, que Luz Casal alcançou fama e consolidou a sua reputação como uma das novas vozes do pop-rock espanhol de então, tendo gravado dezena e meia de álbuns. Agora com 63 anos decidiu fazer pela primeira vez um disco ao vivo, gravado com a sua própria banda e a Real Filarmonia de Galicia, em Julho do ano passado. Intitulado “Solo Esta Noche”, o álbum foi agora editado e inclui 15 dos seus temas mais conhecidos, gravados num concerto de duas horas na Plaza del Obradoiro, no cenário imponente da Catedral de Santiago de Compostela. Entre os temas que Luz Casal interpretou estão “Entre Mis Recuerdos”, o clássico “Historia de Un Amor”, “Besaré El Suelo”, “Entre Mis Memorias”, “Te Dejé Marchar”, “No Me Importa Nada”, além do incontornável “Piensa En Mi” e uma extraordinária versão de “Negra Sombra”. Os discos ao vivo são sempre uma opção delicada e nem sempre correm bem. Mas este registo, com a opção tomada de incluir arranjos para orquestra, mantendo no entanto a formação que usualmente acompanha Casal nos seus espectáculos, proporciona novas sonoridades a temas conhecidos, que interpreta com uma grande intensidade. O disco encerra precisamente com “Negra Sombra”, um poema da escritora Rosalia Castro, de Santiago de Compostela, que Luz Casal cantou em galego. “Solo Esta Noche” está disponível nas plataformas de streaming.
PETISCOS ARGENTINOS - Quis o acaso que logo a seguir a ter passado um dia a ouvir Astor Piazzolla e as suas versões de tangos, fosse desafiado por um amigo argentino a conhecer um novo restaurante do seu país, em Lisboa. Chama-se Tinto & Brasa e fica junto ao jardim das Amoreiras, na Rua João Penha 30, frente às escadinhas que levam ao histórico Procópio. A lista é variada, baseada nas afamadas carnes argentinas, com os cortes tradicionais do país. Além disso há enchidos, semelhantes aos nossos mas com tempero e consistência diferente, como o chorizo e a morcilla - mais suave que a nossa morcela preta, mais adocicada, uma boa supresa. Estes enchidos podem ser uma entrada, mas há outras como croquetas tinto & brasa com molho de alho, empanada criolla de carne, creme de abóbora com queijo azul e amêndoas fritas e até umas molejas na brasa servidas com sumo de limão e molho crioulo. Há também petiscos como escalopes de vitela panados, empadão argentino e várias sanduíches. Nos pratos principais reinam os cortes de carne argentina já referidos, sempre com molho chimichurri. Os acompanhamentos podem ser batata frita, vegetais de época assados ou salada. Ao almoço há um menu especial com prato do dia. A lista de sobremesas oferece também especialidades argentinas, entre elas panquecas com doce de leite e, com sorte, um doce embalado, delicioso, o alfajor da marca Havanna que é um ícone do país - massa assada recheada e coberta de chocolate. Uma delícia. A selecção de vinhos também é boa - com destaque para o argentino Norton Clássico, da região de Mendoza. A sala é agradável e de dimensão média, convém reservar: Tinto & Brasa, tel. 213 870 939.
DIXIT - “É uma ideia estúpida e o lugar dela é no cesto dos papéis” - Sérgio Sousa Pinto sobre a proposta de limitação de velocidade em Lisboa aprovada pelo PS e PAN.
BACK TO BASICS - “As pessoas sábias conseguem encontrar mais oportunidades que aquelas que lhe são oferecidas” - Sir Francis Bacon
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