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ABUSADORES - No início de novo ciclo eleitoral a política portuguesa está outra vez numa trapalhada. Sucedem-se casos, vindos de vários quadrantes políticos, e todos têm em comum uma enorme falta de bom senso e um descaramento que se confunde com sentimento de impunidade. É como se muitos políticos tivessem carta branca para a asneira, ungidos pelo sentimento de que o poder tudo consente. Temos o caso do deputado do Chega que resolveu arredondar os rendimentos furtando malas no aeroporto e vendendo online o seu conteúdo - vale a pena recordar que a bancada parlamentar do Chega tem 11 deputados que têm ou tiveram problemas com a justiça. No Bloco de Esquerda descobre-se que houve despedimentos de mulheres no período de protecção pós-parto e, numa fase inicial, a intransigente Mariana Mortágua tentou sacudir a água do capote. No PSD, um Secretário de Estado do Ministério que elaborou a proposta de Lei dos Solos, Hernâni Dias, criou, já depois de estar no Governo, duas empresas imobiliárias como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Hernâni Dias, que foi presidente da Câmara de Bragança entre 2013 e 2024, está a ser investigado pela Procuradoria Europeia sob a suspeição de ter recebido contrapartidas por adjudicações feitas quando foi autarca, mas isso não impediu que Luís Montenegro o chamasse para o Governo. Demorou quatro dias a demitir-se depois de terem sido divulgadas as suas aventuras empresariais. A somar a tudo isto no primeiro ano da actual legislatura já foram constituídos arguidos 12 deputados e o PS é o partido com maior número de deputados a quem foi levantada a imunidade parlamentar.. Não admira por isso que a emissão de Domingo passado de “Isto É Gozar Com Quem Trabalha” , focado nalguns destes casos, tenha sido o programa mais visto da semana com mais de 1,1 milhões de espectadores. O humor de Ricardo Araújo Pereira é o que nos resta para suportar tanta falsidade e hipocrisia. O espectro partidário é cada vez mais alargado e variado, mas tenho as maiores dúvidas sobre em quem votar. Às vezes penso que os dirigentes políticos portugueses não têm bem consciência do pântano que se criou à sua volta e do qual acabam por ser cúmplices. E do mal que fazem à democracia.
SEMANADA - Nas cadeias portuguesas há cerca de 12 mil detidos, dois mil dos quais são estrangeiros e as três nacionalidades mais representadas são a espanhola, a marroquina e a romena; em Portugal 39% dos alunos estão nas vias profissionais de ensino, enquanto a percentagem na UE é de 55%; um em cada quatro alunos estrangeiros tem um conhecimento limitado da língua portuguesa; nos últimos 12 meses foram importados cerca de 46 mil automóveis ligeiros a diesel cuja idade média é de 7,9 anos no momento da importação; quase milhão e meio das viaturas que circulam em Portugal têm mais de 20 anos; a inspecção geral do Ambiente e Ordenamento do Território fiscalizou 59 municípios e encontrou ilegalidades em 94% dos projectos urbanísticos; o Ministro Adjunto e da Coesão Territorial afirmou na Assembleia da República, a propósito da nova lei dos solos e de uma acusação de que o diploma poderia facilitar a corrupção e a especulação nas autarquias, que tem “muita confiança no poder local”; duas juízas do Tribunal da Relação de Lisboa tiraram da cadeia um médico de família que abusou de pacientes no centro de saúde de Algueirão-Mem Martins; um outro médico, já condenado há um ano por violação de duas pacientes, continua livre porque o tribunal ainda não emitiu mandado de detenção e condução a um estabelecimento prisional.
ARCO DA VELHA - O tempo de espera de doentes urgentes no Hospital Amadora-Sintra ultrapassou as 30 horas o fim de semana passado.
UM CALAPEZ DIFERENTE - “a posição e o movimento” é a nova exposição de Pedro Calapez que inclui dez trabalhos em alumínio esmaltado pintado e seis papéis pintados a acrílico. Os novos trabalhos em alumínio são particularmente interessantes porque reforçam a tendência, já por vezes surgida anteriormente em trabalhos de Calapez no mesmo suporte, de criar obras que transcendem a pintura e evoluem para a escultura. Nove dos dez trabalhos sobre alumínio são compostos de várias peças, de diferentes formatos, volumétricos, que criam uma noção de espaço e profundidade que poderá ser a razão do título da escolha do título “a posição e o movimento”. Pedro Calapez, numa entrevista ao galerista Miguel Nabinho sobre estes recentes trabalhos, confessa que as novas obras eram inicialmente para ser monocromáticas, mas não resistiu a pintá-las, acabando por, pela primeira vez, incluir também painéis de uma cor uniforme “pintada de uma forma completamente industrial”. Calapez esclarece que usa seis cores em seis formas suavemente volumétricas de diferentes dimensões, cores nas superfícies “em diálogo com os planos monocromáticos de fundo”, em conjuntos de formas diferentes em que “todas as cores são complementos, afirmações”. A exposição está patente até 22 de Março na galeria Miguel Nabinho, Rua Tenente Ferreira Durão 18, Lisboa.
ROTEIRO - Na Galeria Sá da Costa o artista plástico Joh apresenta 17 pinturas maioritariamente realizadas em madeira sob o título “Solve et Coagvla”, uma expressão que evoca a alquimia e inclui a ideia de desfazer de velhos hábitos para criar algo novo e melhor (na imagem). José Sousa Machado, o galerista, sublinha que as obras de Joh “apresentam-se, enfim, simultaneamente, como desenhos que se transmutam em pinturas, as quais, por sua vez, aplicando os preceitos perceptivos da Gestalt, se convertem em esculturas de parede”. A exposição está patente até 22 de Fevereiro na Sá da Costa, Rua Serpa Pinto 19. Na No-No Gallery (Rua de Santo António à Estrela 39) até 24 de Março está patente a exposição “re-visions” com trabalhos em fotografia de Paulo Catrica, Carlos Lobo e Sebastiano Raimondo. Ainda na fotografia, na CC11 (Rua do vale de Santo António 50A), Alberto Picco apresenta até 22 de Fevereiro “Tossing Boundaries” que mostra um trabalho de visualização do território efectuado em Setúbal em 2019.
VIDA DE ACTOR - Uma das mais célebres séries de televisão foi “Seinfeld”, emitida originalmente entre 1989 e 1998 com nove temporadas, num total de 180 episódios. Criada por Larry David e Jerry Seinfeld a série é baseada na vida ficcionada do próprio Seinfeld e da sua relação com um grupo de três amigos, entre os quais Cosmo Kramer, interpretado por Michael Richards. E é este Michael Richards que escreveu “Entradas e saídas”, um livro de cerca de 500 páginas onde, ao longo de 31 capítulos fala da sua vida enquanto actor, de numerosos episódios desde que começou no teatro até à década em que foi Kramer, com abundantes e divertidas evocações do trabalho, da equipa e do ambiente das filmagens de “Seinfeld”. O livro tem numerosas ilustrações e fotografias ao longo do texto, umas da série outras feitas pelo próprio Michael. No prefácio do livro Jerry Seinfeld diz que o personagem Kramer foi criado para “poder ser infinitamente reinventado a cada episódio, como o Harpo Marx, o Stan Laurel ou o Bugs Bunny”. Cosmo Kramer era visualmente caracterizado pelo espampanante corte do seu cabelo e Michael Richards conta que a estação que produzia a série, a NBC, queria mudar o seu cabelo, sempre desgrenhado, meio em pé, afirmando que lhe dava um ar demasiado louco. Michael encolheu os ombros a tais sugestões, não fez o que lhe pediram e hoje conta: “o cabelo era absolutamente essencial, simboliza a irracionalidade que era e será sempre característica não só do Kramer mas da própria comédia”. E reforça : “A desordem e a agitação estão sempre comigo. Estão na base da comédia, são a minha vida.” Michael Richards começou por estudar para ser socorrista paramédico, apaixonou-se pelo teatro, passou para a televisão e ganhou três Emmys pelo seu trabalho. “Entradas e Saídas” foi editado pela Casa das Letras/Leya.
BALADAS - Há uma história curiosa sobre Laura Marling, uma cantora britânica que tem estado muito próxima do universo musical do folk. Agora com 34 anos e a viver na Califórnia, Marling era tão nova quando começou a sua carreira que chegou a ser impedida de entrar no local onde ela própria iria actuar por não ter idade suficiente. Episódios à parte Laura Marling é das mais importantes vozes da música folk e o novo disco, “Patterns in Repeat”, o seu oitavo álbum, volta a estar centrado nas suas experiências pessoais. O primeiro tema, “Child of Mine” abre uma série de canções dedicadas à sua filha, como “Lullaby” ou “No One’s Gonna Love You Like I Can”. Em “Patterns in Repeat” o foco é no quotidiano da vida doméstica, que ela parece encarar como, por vezes, demasiado previsível. O disco foi gravado no estúdio em casa da cantora, as 11 curtas canções (que totalizam 36 minutos) são muito intimistas, o acompanhamento instrumental é simples, acústico, sem percussão. Disponível nas plataformas de streaming.
ALMANAQUE - Se estiver em Milão não perca a exposição Unsettled, na galeria Ncontemporary (Via Lulli 5) que até 22 de Março mostra obras de José Barrias (na foto), Ilya Fedotov-Fedorov, Anila Rubiku, Maria D. Rapicavoli, Liryc Dela Cruz, Hossein QB, e Nazar Strelyaev-Nazarko. É uma das raras oportunidades de perceber a importância de José Barrias (1944-2020), que viveu e trabalhou várias décadas em Milão. Em Londres, na National Portrait Gallery, até ao início de Março pode ver “Legends” uma exposição de cem retratos de personalidades de várias áreas, da arte à indústria, passando pela moda e espectáculo, feitos pela fotógrafa britânica Zoë Law. Dando um salto pelo Oceano Atlântico podemos ver a presença de marcas portuguesas em Nova Iorque. Em 2023 abriu em pleno Times Square, a loja The Fantastic World of the Portuguese Sardine, a marca emblemática do Grupo Valor do Tempo. Segundo o seu Presidente, António Quaresma, os resultados têm excedido as previsões. E agora foi a vez de “A Vida Portuguesa”, a cadeia de lojas criada por Catarina Portas, ter chegado também a Nova Iorque, no início de Janeiro, a convite da loja de design do Museu de Arte Moderna (MoMA). Até 10 de Março, a marca tem espaços com produtos portugueses na MoMA Design Store no Soho e na loja Midtown na 53rd Street, em frente ao museu.
DIXIT - “O jornalista que esconde factos social e culturalmente relevantes com medo de tornar o mundo um lugar pior está a confundir jornalismo com activismo” - João Miguel Tavares.
BACK TO BASICS - “É a inovação que cria a diferença entre os líderes e os outros” - Steve Jobs
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS-FEIRAS, NO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
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