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O VAZIO - Bateu no fundo. Conhecem esta expressão? Pois estas três singelas palavras descrevem a situação a que o Governo chegou, a forma como usa o Estado em proveito do PS e mostra o grau de desnorte de dirigentes partidários e membros do executivo. É certo que todos os partidos têm más pessoas, intriguistas, mentirosos, falsos, hipócritas e charlatães. Como se tem observado, o actual Governo está cheio deles. Num escasso ano de funções, olhando-se para o que se tem passado, sente-se um enorme vazio: um PRR, anunciado como milagroso e que está completamente encravado, uma justiça paralisada, um sistema de saúde a colapsar, o ensino público derrotado. Por junto, nos mais de cinco anos que Costa leva de Primeiro Ministro nenhumas reformas foram feitas, e assistimos ao paradoxo de agora ver recuar em reversões de medidas do anterior executivo, como a TAP, num folhetim aéreo que envolve nomes como Pedro Nuno Santos, João Galamba, Hugo Mendes, Fernando Medina e, por tabela, António Costa. Nos últimos dias assiste-se a uma parada de disparates, como o lançamento de um jogo para avaliar a localização do próximo aeroporto, até afirmações melosas do tonitruante ex-rotweiller do PS, Augusto Santos Silva, putativo candidato a Belém, que agora parece um caprichoso chihuahua. Alguns iluminados do PS pensam que o problema do Governo e de António Costa está na comunicação, quando, na realidade, está na sucessão de disparates e trapalhadas e, sobretudo, na falta de políticas exequíveis e eficazes para resolver os principais problemas do país. Por bem menos do que hoje se passa já houve governos demitidos. “Há algum perigo maior do que o Chega? Sim, o actual PS” - o autor destas palavras, João Miguel Tavares, tem toda a razão.
SEMANADA - Segundo uma dirigente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos actualmente as regras da Autoridade Tributária variam de distrito para distrito, de concelho para concelho, conforme a vontade das chefias locais; estimativas recentes indicam que a economia paralela representa 50 mil milhões de euros que escapam aos impostos; dois terços dos portugueses não confiam que a Igreja seja capaz de evitar abusos; na zona do Porto os salários, para a mesma função, chegam a ser 40% abaixo dos praticados em Lisboa; as Câmaras Municipais de Lisboa e Porto querem ter autonomia em matéria de política de habitação; quem ganha abaixo do salário médio tem vindo a ser afastada do crédito à habitação com as regras do Banco de Portugal; há quase 67 mil famílias a viver em condições indignas; na urgência metropolitana de psiquiatria do Porto os doentes chegam a ficar 60 horas na sala de espera sem dormir; um estudo pós pandemia indica que Portugal é dos países europeus com menos anos de vida saudável; a obra de ficção mais vendida em 2022 foi “A Mulher do Dragão Vermelho”, de José Rodrigues dos Santos que alcançou 60 mil exemplares; a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima ajudou em 2022 cerca de 15000 pessoas, com 94% das queixas a referirem violência doméstica e crimes sexuais, número que representa um aumento de cerca de 25% em relação ao ano anterior; para responder à procura são precisas mais 50 mil vagas nos lares das instituições particulares de solidariedade social; as mensalidades dos lares custam mais do dobro da pensão média dos idosos portugueses, que ronda os 508 euros; a carga fiscal sobre o trabalho dos portugueses está entre as dez mais pesadas da OCDE; em 2022 registou-se um aumento de 8825 mil milhões de euros de receita fiscal sobretudo por via do IRC, IRS e IVA; Alexandra Reis queixou-se no Parlamento que já quis devolver a indemnização que recebeu da TAP mas que continua sem resposta sobre como o fazer.
O ARCO DA VELHA - No ano passado, durante seis meses, não foram enviadas multas de trânsito porque as Finanças não deram autorização à entidade responsável pela sua expedição para a contratação de um serviço postal.
UM TEMPO - O destaque desta semana vai para a exposição “Escuro”, de Luís Palma, no Centro de Artes Visuais de Coimbra até início de Junho, está integrada no ciclo “A vida apesar dela”, com curadoria de Miguel von Hafe Pérez, “alguém que mantém uma atitude liberta das actuais agendas identitárias promovidas por um grande número de instituições culturais, as quais se esquecem ser a arte um território avesso a normas” - como Óscar Faria acertadamente escreveu no seu Instagram. Luís Palma é um nome importante da fotografia portuguesa, começou a ganhar notoriedade nos anos 80 e as 42 imagens expostas, todas a preto e branco, foram feitas entre 1981 e 1994. O título da exposição, “Escuro”, evoca Álvaro Lapa e o seu retrato, feito por Luís Palma em 1994 e que integra a exposição, é a imagem que acompanha este texto. Miguel von Hafe Pérez, que foi o curador da exposição, sublinha que Luís Palma “é uma referência na afirmação da fotografia no panorama alargado das artes plásticas em Portugal.” e é um dos fotógrafos portugueses “ que mais intensamente tem trabalhado questões relativas ao território, às suas desigualdades e paradoxos, a partir de uma visão muito particular onde as noções de periferia e desenraizamento urbanístico ganham particular densidade.” Não resisto a citar mais uma vez Óscar Faria: “a exposição de Luís Palma (...) é uma pérola para se entender a vivência da nossa geração, no Porto pós-revolucionário, no qual o acontecimento mais relevante foi o surgimento de uma contracultura com os olhos postos lá fora”. E conclui: “Esta era a nossa revolução: a música, a poesia e a arte. Hoje, somos uma geração obliterada pelas instituições culturais.” Outro destaque: na Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, Adriana Molder expõe até 23 de Junho “Serpentina”, uma série de nove desenhos de grande escala, com formas irregulares e orgânicas, feitos a tinta-da-China sobre papel esquisso, material que a artista habitualmente usa no seu trabalho.
MANUAL DA POLÍTICA - Nicolau Maquiavel nasceu em Florença em 1469 e é considerado o fundador do pensamento político moderno. As suas ideias sobre o Estado, o poder e a natureza humana continuam a ser uma referência e “O Príncipe”, publicado postumamente em 1532, é um retrato político, moral e cultural da primeira metade do século XVI. Segundo Voltaire «qualquer um que queira governar bem deve lê-lo, e os outros também, porque nele se encontram as verdades mais claras e fundamentais da política». A visão de Maquiavel para a sua Itália viria a ser condenada pela Igreja e por várias censuras nacionais, e, mais tarde, usurpada e descontextualizada por déspotas mais ou menos esclarecidos, e mais ou menos criminosos – responsáveis, directos ou indirectos, pela criação do mito do «maquiavelismo». Em 1974, quase cinco séculos depois, Jorge de Sena viria a desmontar esse mito no ensaio "Maquiavel" com um texto onde junta informação e análise e no qual a personalidade de Maquiavel surge como o retrato político, moral e cultural da época e com a sua enorme dimensão humana. Recusando resumir a acção e o pensamento de Maquiavel a uma obsessão de conquista e poder, Sena afirma que «compreendida e situada no tempo dele, a sua obra é a de um dos mais argutos, lúcidos e corajosos pensadores políticos de todas as épocas.» Pela primeira vez são publicados numa mesma edição o original de “O Príncipe” de Nicolau Maquiavel e o ensaio “Maquiavel”, de Jorge de Sena. Edição Guerra & Paz.
BEATLES AO PIANO - Confesso-me fã de Brad Mehldau, quer na sua versão de pianista a solo, quer nos seus trios de jazz. Uma das coisas que me leva a admirá-lo é a sua vontade de fazer apostas arriscadas. Neste caso, pegou em 10 canções bem conhecidas dos Beatles e reinventou-as ao piano. O resultado é o álbum “Your Mother Should Know”, recentemente editado. O disco resulta da gravação de um recital a solo de Mehldau, em Setembro de 2020, na Philarmonie de Paris, inclui nove canções da dupla Lennon/McCartney, uma de George Harrison e uma de David Bowie, “Life On Mars”, o último tema do disco e que, segundo Mehldau faz uma ligação entre a pop dos Beatles e a de outros músicos que lhes sucederam. O álbum começa com uma versão inventiva de “I Am The Walrus” e logo a seguir vem a canção que lhe dá o título, “Your Mother Should Know” numa versão, digamos, de cabaret, a que se sucede um “ I Saw Her Standing There” com umas vocações de boogie e um “Baby’s In Black" inspirado pelo gospel. Os blues chegam já quase no final em “Golden Slumbers”, antecedido por um curioso “Maxwell’s Silver Hammer”. Vale a pena descobrir como Mehldau toca estes clássicos dos Beatles - o disco está nas plataformas de streaming.
PETISCO ALTERNATIVO - Este ano em vez de cabrito ou leitão o petisco de Páscoa foi um produto sazonal desta época. Falo de maranhos, esse enchido originário da Beira Baixa , recheado de carne de cabra, presunto e arroz, bem condimentados com hortelã, colorau e outras ervas aromáticas, tudo temperado com vinho branco. O enchido deve ser cozido uns 20 minutos, e depois levado ao forno bem quente durante mais uns dez minutos (não mais, para não ficar seco). O resultado é um verdadeiro petisco que deve ser acompanhado por grelos salteados e acompanhado por um bom vinho - e já que estamos na Beira, que seja um Dão. Lá em casa a opção foi por maranhos de Vila de Rei, um dos locais com tradição nesta matéria, a par da Sertã. Fomos alertados para a disponibilidade do petisco por Francisco Ferrão Completo, um fornecedor de produtos regionais, um homem que já teve vários restaurantes em Lisboa e que agora tem perto de Sesimbra, em Alfarim, uma casa dedicada a especialidades de diversos pontos do país e até algumas importações de outros países, nomeadamente queijos e vinhos. O seu estabelecimento, de nome “Muito Espalhafato”, tem uma oferta ampla e uma pequena esplanada onde também se pode petiscar. Fica na Avenida José Carlos Ezequiel 44 em Alfarim, tem página no Facebook e o telefone 962 902 234.
BOM - A Iniciativa Liberal propõe que as certidões de óbito e de nascimento deixem de ter prazo de validade.
MAU - O inquérito ao “apagão fiscal” dos offshores esteve parado durante três anos.
DIXIT - “Muitos políticos são surdos, não usam óculos, nem sequer têm espelho em casa. Perderam o sentido crítico. Perderam os remorsos e os escrúpulos. Não têm vergonha. Não respeitam a lei. Nem os eleitores.” - António Barreto.
BACK TO BASICS - “A tradição deve ser encarada como um guia e não como uma prisão” - Somerset Maugham
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